Por Henrique Acker – Depois das denúncias da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA) e da Anistia Internacional, agora é a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) que acusa Israel de “genocídio” e “limpeza étnica” contra a população palestina na Faixa de Gaza.
“Gaza: A vida numa armadilha mortal” (anexo), documento elaborado por MSF, contém 34 páginas com números sobre um ano da invasão israelense de Gaza. De acordo com o documento, médicos e pacientes da MSF foram forçados a retirar-se de hospitais e estruturas de saúde em 17 ocasiões, muitas vezes correndo para salvar a vida.
O relatório de MSF é reforçado por mais um documento do Observatório dos Direitos Humanos (HRW em Inglês), também publicado em 19 de dezembro, que acusa o governo de Israel de dificultar o acesso à água potável pela população palestina de Gaza.
Ataques às equipes e instalações médicas
Na apresentação do relatório do MSF, o secretário-geral da organização, Christopher Lockyear, acusou o Estado de Israel de ser responsável por “assassinatos em larga escala, graves lesões físicas e em saúde mental, deslocações forçadas e condições impossíveis de vida para os palestinos cercados e bombardeados.”
A ONG aponta que suas equipes sofreram 41 ataques e incidentes de violência, incluindo incursões aéreas, bombardeios e ataques violentos a instalações de saúde, disparos diretos contra abrigos e caravanas, e a detenção arbitrária de trabalhadores de MSF pelas forças israelenses.
O documento dá conta de que as instalações de saúde apoiadas por MSF fizeram pelo menos 27.500 consultas relacionadas com a violência e 7.500 intervenções cirúrgicas em um ano de atividades.
Sem pão e sem água
De acordo com o documento de HRW, “As autoridades e as forças israelenses interromperam e seguiram limitando a água corrente em Gaza, assim como a maior parte da infraestrutura hídrica e higiênico-sanitária e de materiais para a purificação da água. Também bloquearam a entrada de materiais hídricos essenciais.”
HRW tomou como base entrevistas com 66 palestinos de Gaza, relatos de funcionários da Empresa de Água dos Municípios Costeiros (CMWU) da região, e de 31 agentes sanitários e 15 colaboradores de agências das Nações Unidas e organizações humanitárias internacionais.
O Observatório também analisou imagens de satélites, fotografias e vídeos realizados entre o início do conflito, em outubro de 2023, e setembro de 2024, assim como relatos de médicos, epidemiologistas, organizações humanitárias e especialistas em água e serviços higiênicos.
“As autoridades israelenses não responderam às cartas enviadas em 10 de junho e 29 de novembro de 2024, solicitando informações sobre ataques específicos à infraestrutura de água e saneamento documentados pela Human Rights Watch”, informou a HRW.
Desnutrição infantil
MSF informou que suas equipes em Gaza estão prestando atendimento a um número cada vez maior de pessoas com doenças de pele, infecções respiratórias e diarreias, e estima-se que todas estas doenças aumentem à medida que as temperaturas de inverno descem.
Os palestinos estão sofrendo com ferimentos de guerra e também com doenças crônicas, que se agravam quando não há acesso a serviços de cuidados de saúde e a medicamentos essenciais. Os deslocamentos forçados impostos por Israel empurraram as pessoas para condições de vida insuportáveis e anti-higiênicas, onde as doenças podem se propagar rapidamente.
As crianças não estão recebendo vacinações cruciais, o que as deixa em situação de vulnerabilidade a doenças como sarampo e poliomielite. MSF tem registrado um aumento no número de casos de desnutrição em Gaza.
MSF denuncia que as autoridades de Israel reduziram drasticamente a quantidade de ajuda essencial que é autorizada a entrar no Norte do território. Em outubro deste ano, o volume de provisões que chegava a toda a Faixa de Gaza atingiu o nível mais baixo desde o início do conflito: uma média diária de 37 caminhões humanitários entrava em outubro de 2024, muito abaixo dos 500 caminhões que o faziam antes de 7 de outubro de 2023.
Cessar-fogo imediato
O custo físico e o trauma mental causados pela violência extrema, perda de familiares e de casas, pelos repetidos deslocamentos forçados e pelas condições de vida desumanas vão deixar cicatrizes em gerações, alerta MSF.
A organização internacional médica-humanitária propõe a todas as partes um cessar-fogo urgente, para salvar vidas e permitir o fluxo de ajuda humanitária.
MSF pede aos Estados, sobretudo aos aliados de Israel, que ponham fim ao apoio incondicional que dão a Israel, para proteger as vidas dos palestinos, cumprir e fazer cumprir as leis da guerra.
O Observatório dos Direitos Humanos vai mais longe: “Os governantes e as organizações internacionais deveriam adotar todas as medidas para prevenir o genocídio em Gaza, como a suspensão da assistência militar [a Israel], a revisão dos acordos bilaterais e das relações diplomáticas e o apoio à Corte Penal Internacional”, conclui HRW.
O governo de Israel mais uma vez classificou os documentos como mentirosos e propaganda anti-israelense. (Foto: Reprodução)
Por Henrique Acker (Correspondente Internacional)
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