Médicos se dividem a orientação da OMS  sobre dose de reforço da vacina contra Covid-19

Depois que a Organização Mundial da Saúde (OMS)  distribuiu comunicando segundo o qual as doses de reforço contra a covid-19 não devem mais ser administradas à população que não esteja nos grupos de alto risco, médicos brasileiros entraram no debate, dividindo opiniões.

Enquanto alguns avaliam que a vacinação em massa no Brasil não é necessária no momento, outros acreditam que especificidades do País devem ser levadas em consideração.

No comunicado, a OMS justifica a recomendação “dado o alto nível de imunização alcançado pelas populações em vários países”, mas afirma que as autoridades locais devem analisar contextos específicos.

“É um reflexo de que grande parte da população já está vacinada, foi infectada com a covid-19, ou as duas coisas ao mesmo tempo”, afirmou Hanna Nohynek, presidente do Grupo Assessor Estratégico de Especialistas em Vacinas (SAGE) da OMS, em entrevista a Globo News.

O grupo de especialistas da OMS dividiu a população em três grupos de risco: alto (idosos, imunossuprimidos, pessoas com comorbidades, gestantes e profissionais de saúde), médio (adultos com menos de 60 anos e crianças ou adolescentes com determinados problemas de saúde que não os coloquem em risco em relação à doença) e baixo (crianças a partir de 6 meses e adolescentes).

A nova recomendação é que apenas os integrantes do grupo de risco alto precisam tomar as novas doses de reforço.

É importante frisar que a orientação vale principalmente para as novas doses de reforço. Ou seja, a OMS continua recomendando as três doses do esquema básico de imunização.

Representante do Brasil no comitê da OMS, o pediatra e infectologista Renato Kfouri destaca que a nova recomendação vale especialmente para as doses de reforços. “

A questão é reforço, levando em consideração principalmente que todos precisam ter tomado três doses no esquema básico”, afirmou ele.

Segundo Kfouri, a discussão no grupo de especialistas foi bastante intensa porque levava em conta muitas realidades diferentes.

“Estabelecer uma recomendação única para os países não é uma tarefa fácil, então, acho que o que foi decidido é o que já imaginávamos e defendemos. Não há evidências suficientes hoje para reforçar a vacina na população inteira (no mundo todo)”, afirmou. “A doença está ficando com caráter endêmico. A pandemia está acabando e vamos migrar para um modelo de vacinação, como vacinamos as pessoas contra a gripe, entendendo quais são os grupos mais vulneráveis e fazendo recomendações em saúde pública, focadas no público que tem maior risco de mortalidade”, disse ainda Kfouri, também presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

 

A realidade do Brasil exige um cuidado diferente?

Lauro Ferreira Pinto Neto, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor da Escola de Medicina da Santa Casa de Vitória, concorda com a decisão anunciada pela OMS, que leva em conta, segundo ele, a realidade atual. “O painel é dinâmico e mudanças podem ocorrer”, afirma o especialista.

 

“É difícil julgar decisões na Medicina. Passamos por um período extremamente difícil durante a pandemia da covid-19. E o mérito da vacinação no controle da doença foi indiscutível. É importante lembrar que todos estamos sujeitos à infecção. E a melhor arma é sempre a prevenção”, defende Giovanna Marssola Nascimento, infectologista do Hospital Leforte da unidade Morumbi.

Em sua argumentação, Pinto Neto destaca a mudança do perfil das pessoas que morrem de covid atualmente. “São idosos e pessoas com comorbidades e imunossuprimidos. Não tem ocorrido mortes significativas em jovens, exceto imunossuprimidos e aqueles que não estão vacinados. Desta forma, acredito, que não faz sentido manter a vacinação em massa. Somente nos grupos de risco”, disse.

“A gente não vacina (nas campanhas do Sistema Único de Saúde) jovens e adultos saudáveis contra a gripe no Brasil, por exemplo, embora eles possam se vacinar em clínicas privadas. É bom se imunizar, mas quem morre e fica hospitalizado é quem faz parte do grupo de risco. Com covid-19, o cenário será semelhante”, acrescenta Kfouri.

Já Giovanna, infectologista do Hospital Leforte da unidade Morumbi, lembra que o próprio consenso dos especialistas da OMS orientou que os países embasassem suas decisões em fatores contextuais (carga da doença, custo-efetividade e outras prioridades programáticas ou de saúde e custos de oportunidade). “O cenário brasileiro é de baixa cobertura vacinal de várias doenças por falta de políticas de incentivo nos últimos anos. Estamos em um momento de resgatar a importância da cobertura vacinal no País. Desencorajar este processo seria, a meu ver, um retrocesso”, afirma a especialista. (Foto Divulgação)

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