Medicamento injetável para prevenir HIV mostrou 100% de eficácia em estudo

Os resultados da pesquisa foram publicados no “The New England Journal of Medicine”, prestigiado periódico científico

 

Resultados de um estudo científico publicado na última quarta-feira (24) apontam que o medicamento antirretroviral injetável lenacapavir da Gilead Sciences apresenta uma eficácia geral de 100% na prevenção da infecção pelo HIV-1 – responsável por quase todas as infecções de HIV no mundo. O estudo foi publicado no The New England Journal of Medicine (NEJM), prestigiado periódico científico. Os resultados do trabalho também foram apresentados na 25ª Conferência Internacional sobre Aids, que acontece em Munique, na Alemanha.

O estudo clínico, de fase 3 e realizado em Uganda, na África, mostrou que a aplicação de apenas duas doses por ano do medicamento lenacapavir proporcionou proteção de 100% contra o vírus às mulheres que participaram dos testes. O remédio é produzido pela farmacêutica estadunidense Gilead.

A pesquisa contou com a participação de mais de 5 mil adolescentes e mulheres, com idades entre 16 e 25 anos. O teste dividiu os voluntários em três grupos, que receberam três diferentes medicamentos. Entre as 2.134 mulheres que receberam o lenacapavir, nenhuma contraiu o HIV. Em contrapartida, das 1.068 que tomaram diariamente a pílula Truvada, disponível há mais de 10 anos, 16 foram infectadas com o HIV (1,5%). No terceiro grupo, das 2.136 mulheres que receberam a Descovy, nova pílula diária, 39 contraíram o vírus (1,8%).

Os resultados foram tão promissores que, em junho, devido à eficácia do medicamento, um comitê independente de revisão de dados aconselhou que o estudo clínico fosse interrompido precocemente. Além disso, orientou que o lenacapavir fosse aplicado a todas as participantes por proporcionar, claramente, proteção maior contra o vírus, afirmou a farmacêutica.

A empresa ainda está testando a eficácia do medicamento em homens que fazem sexo com homens; homens e mulheres trans; além de indivíduos de gênero não binário que têm relações sexuais com homens na Argentina, Brasil, México, Peru, África do Sul, Tailândia e Estados Unidos. Os resultados são aguardados para o final de 2024 ou início de 2025. Caso sejam positivos, a empresa pretende levar ao mercado nos EUA o lenacapavir como PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) até o final de 2025.

“O lenacapavir para PrEP, se aprovado, poderá fornecer uma nova opção crucial para a prevenção do HIV. Embora saibamos que as opções tradicionais de prevenção do HIV são altamente eficazes, se tomadas como o prescrito, o lenacapavir para PrEP pode ajudar a solucionar o estigma e a discriminação que alguns podem enfrentar ao tomar ou armazenar os comprimidos de PrEP, assim como potencialmente ajudar a aumentar a adesão a esse tipo de tratamento”, afirmou Linda Gail-Bekker, que participou dos estudos.

“Esses dados confirmam que o lenacapavir semestral para a prevenção do HIV é um avanço revolucionário com um enorme potencial para a saúde pública. Se aprovada e disponibilizada, de maneira rápida, acessível e equitativa, para aqueles que precisam ou desejam, essa ferramenta de ação prolongada pode ajudar a acelerar o progresso global na prevenção do HIV. Agora, aguardamos ansiosamente os resultados do estudo que está avaliando o lenacapavir semestral para a prevenção do HIV em outras populações e países”, apontou Sharon Lewin, presidente da Sociedade Internacional de Aids (IAS).

Em um estudo apresentado na Conferência Internacional sobre Aids, especialistas calcularam que o preço mínimo para a produção em massa de uma versão genérica, com base nos custos dos ingredientes e da fabricação do lenacapavir, e permitindo um lucro de 30% para a Gilead, seria de US$ 40 por ano, assumindo que 10 milhões de pessoas o utilizassem anualmente.

A farmacêutica garantiu, em entrevista ao The New York Times, estar comprometida a disponibilizar o medicamento a um preço acessível a países de baixa renda, com altas taxas de incidência de HIV. Uma das estratégias seria firmar parcerias com fabricantes de genéricos em várias regiões do mundo, de acordo com informações da DW e do The Guardian.

(Foto: Reprodução)

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