João Salame – A vitória dos candidatos do MDB, Igor Normando, em Belém, e José Maria Tapajós, em Santarém, trouxe grande alívio às hostes governistas, mas o balanço está longe de ser extremamente positivo, como gostaria o governador Helder Barbalho, após o encerramento das eleições deste ano.
Antes das eleições qual era o cenário? Um governador com boa popularidade, controlando a máquina estatal com mão de ferro e usando esse poder contra seus adversários, dominando os grandes meios de comunicação e tendo ao seu lado 143 dos 144 prefeitos do Estado (a exceção era o prefeito de Oriximiná, delegado Fonseca, que, por sinal, se reelegeu). Helder Barbalho estabelecera como meta eleger 100 prefeitos apenas no MDB. Abertas as urnas, o o partido elegeu 85 prefeitos.
No campo da oposição, a voz que despontava era a do prefeito de Ananindeua, Daniel Santos, recém-saído do MDB. A ordem era minar de todas as formas sua candidatura, inclusive inviabilizando legendas partidárias para que pudesse concorrer. O PSB nacional lhe abriu as portas.
Sendo candidato, a ideia era criar dificuldades para Daniel e levar a disputa para o segundo turno, com o lançamento de vários candidatos para pulverizar os votos. Helder entrou pessoalmente na campanha. De nada adiantou, o prefeito foi reeleito com quase 84% dos votos válidos, no primeiro turno. O governo produziu um candidato de oposição para 2026.
GRANDES COLÉGIOS ELEITORAIS
Com exceção de Ananindeua, nos demais grandes colégios eleitorais, o MDB contava com vitória. Em Marabá, alardeava a liderança nas pesquisas do deputado Chamonzinho, por larga margem. Em Santarém, apostava em vitória folgada de José Maria Tapajós, sobretudo após a retirada da candidatura da deputada Maria do Carmo (PT). Em Parauapebas, o governo ficou paralisado, mas torcia por um segundo turno.
Em Belém, diante da impopularidade da gestão do prefeito Edmilson Rodrigues (PSol) e das dificuldades de agregar forças da candidatura do deputado Eder Mauro (PL), trabalhou com a hipótese de vencer com Igor Normando já no primeiro turno ou impor larga diferença no segundo.
Qual foi, então, o rugir das urnas?
A vitória em Belém, onde o governador detém seus melhores índices de popularidade, não conseguiu esconder o fato de que a candidatura do deputado Éder Mauro, com todas as dificuldades de seu perfil agressivo, terminou com 43,64% dos votos, bem acima do que alardeavam as pesquisas (sempre elas…).
Enquanto Igor Normando saiu de 44,89% para 56,36% dos votos válidos, um crescimento de 11,47%, Eder Mauro pulou de 31,48% para 43,64%, um avanço de 12,16%. Eder Mauro cresceu 73.956 votos e Igor subiu 61.581 votos. Leve-se em consideração que Igor recebeu a adesão dos principais concorrentes no primeiro turno: Edmilson Rodrigues, Thiago Araújo e Delegado Eguchi e de diversos partidos. Apenas Jefferson Lima declarou seu apoio a Eder Mauro.
Não é de se desprezar o apoio dado a Eder Mauro pelo prefeito Daniel Santos. Pode-se contabilizar em boa parte ao seu apoio um crescimento maior do deputado federal no segundo turno. Some-se a isso o fato de que 16.053 eleitores votaram em branco, 26.210 votaram nulo e 266.092 sequer compareceram para votar, certamente descontentes com as opções que tinham em mãos. Um total de 308.355 eleitores que disseram não!
Ora, se Igor Normando teve 421.485 votos e Eder Mauro somou 326.411, o campo de descontentes é enorme. Em 2026, um candidato oposicionista com mais capacidade de dialogar ao centro, tem tudo para somar os 43,64% de Eder Mauro e avançar sobre os 308 mil eleitores que deixaram de comparecer ou preferiram não votar. Ou seja, mais da metade do eleitorado da capital disse não aos projetos governistas.
PERÓLA DO TAPAJÓS DÁ UM SUSTO
Em Santarém, José Maria Tapajós teve 49,73% dos votos válidos no primeiro turno, com 94.321 votos, e JK do Povão 41,92%, com 79.506 votos. No segundo turno, Zé Maria diminuiu o número de votos para 92.628 e JK pulou para 85.516. A diferença foi de apenas 7.122 votos num universo de 178.144 votos válidos.
JK não tinha apoio de praticamente nenhum partido. Do outro lado se montou uma frente poderosa, comandada pelo bem avaliado prefeito Nélio Aguiar, ex-deputado Lira Maia, o PT com a deputada Maria do Carmo e quase todos os partidos organizados no município. O governador Helder Barbalho praticamente mudou a sede do governo para Santarém no segundo turno. Entregou cestas básicas, assinou convênios, anunciou desapropriações. A prefeitura intensificou a pavimentação de ruas. A máquina política e administrativa agiu como poucas vezes se viu numa eleição.
JK, apesar de derrotado, sai fortalecido do pleito. Tem um mandato de deputado garantido ou pode compor uma chapa majoritária no pleito de 2026. No segundo turno, recebeu a visita do prefeito Daniel Santos e declarou que ele será seu candidato a governador. Para quem sequer era conhecido naquela importante região do Estado, Daniel saiu fortalecido desse processo, ainda mais pelo crescimento da votação de JK no segundo turno.
Em Oriximiná e Terra Santa, os irmãos Fonseca impuseram dura derrota às fileiras governistas.
SUL DO PARÁ MOSTRA AS GARRAS
Em Parauapebas, a derrota foi ainda mais dura, no primeiro turno, porque o MDB sequer lançou candidato. Não adianta alguns articulistas, nas redes sociais, insinuarem que Aurélio Goiano vai se render ao governador. Ele próprio sabe que o eleitorado do município guarda muitas reservas ao MDB e isso certamente seria um tiro no pé.
Em Marabá, a derrota foi surpreendente. No final do primeiro turno, Helder também acampou na cidade. Não adiantou. O município continua surpreendendo os governadores, a exemplo do que fez nas disputas entre Jader Barbalho e Said Xerfan, Almir Gabriel e Jarbas Passarinho, Simão Jatene e Helder Barbalho, sempre apostando na oposição.
Em São Félix do Xingu, o MDB considerava a vitória como favas contadas. Irmão do deputado Torrinho Torres (MDB), o prefeito João Cléber foi derrotado de forma surpreendente por um candidato apoiado pelo senador Zequinha Marinho. Em Redenção e Santa Maria das Barreiras, o MDB viu as prefeituras escaparem de suas mãos. Em Xinguara, a vitória do largamente favorito Oswaldinho Assunção foi no fio do cabelo.
HISTÓRIA ENSINA
Dos maiores colégios eleitorais do Estado, a oposição ganhou em Ananindeua, Parauapebas e Marabá e saiu muito fortalecida em Belém e Santarém. Num Estado onde Almir Gabriel, Ana Júlia Carepa e o próprio Helder venceram com o apoio de poucos prefeitos, o cenário que se avizinha para 2026 é muito mais desconfortável para os planos do bloco governista.
Não se pode negar que Helder fez uma aposta audaciosa ao vencer com a candidatura de Igor, um “nome novo” para os padrões da política paraense, deixando na fila “tubarões” como José Priante e Zeca Pirão. Conseguirá fazer a mesma coisa com a vice-governadora Hana Ghassan, sua preferida para sucedê-lo? Por enquanto, ela desperta pouca empatia nas lideranças e no eleitorado. Fala-se, inclusive, em sua substituição pelo presidente da Alepa, deputado Chicão (MDB), mais ao gosto dos políticos. HB continuará apostando em algo autoral ou cederá às pressões?
Sabe-se que Helder pretende indicar o candidato a governador e os dois candidatos ao Senado pelo MDB, destinando apenas a vice para um partido aliado, provavelmente o PT. Como ficam nesse caso o União Brasil, do ministro Celso Sabino, que alimenta pretensões majoritárias? E o PP, do prefeito Renato Ogawa? Ou o PSD, do deputado Júnior Ferrari? Esses partidos, de centro-direita, elegeram 44 prefeitos. E a vontade do senador Beto Faro (PT) de ser candidato ao governo ou indicar um candidato ao Senado na chapa do MDB?
Além disso, em diversos municípios é de raiva o sentimento de diversas lideranças derrotadas por causa da ação ostensiva do grupo governista em apoio aos vitoriosos, muitos dos quais sempre foram adversários históricos dos emedebistas. Políticos do próprio MDB ou de partidos aliados estão ávidos a dar o troco em 2026. Um exército que certamente se disporá a ir à guerra gratuitamente, movido pelo fígado.
Portanto, apesar da importante vitória em Belém e Santarém, o MDB deve colocar as barbas de molho. É certo que o governador sai das urnas com muita força, com o prestígio de ter conseguido eleger um primo quase desconhecido do grande eleitorado em Belém e de ter uma máquina azeitada para fazer política. Mas a oposição igualmente mostrou seu potencial, não se intimidou e cravou estaca em corações importantes do eleitorado paraense. A disputa está em aberto para 2026! (Foto principal: A vice-governadora Hana Ghassan e o prefeito reeleito de Ananindeua, Daniel Santos – crédito: Reprodução)