Mauro Cid negociou venda de Rolex dado a Bolsonaro em viagem oficial, revelam e-mails

Segundo o material em posse da CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) chegou a negociar relógio de luxo recebido em viagem à Arábia Saudita, e esperava receber cerca de R$ 300 mil pela peça

 

 

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tentou vender um relógio de luxo recebido em viagem oficial ao Reino da Arábia Saudita. A informação consta de documentos recebidos pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro.

Cid pretendia vender o relógio, da marca Rolex, por US$ 60 mil, algo em torno de R$ 300 mil na cotação atual. O objeto negociado pode ter sido o Rolex recebido por Bolsonaro durante uma viagem à Arábia Saudita, em 2019, junto com outras joias, que foram devolvidos pela defesa do ex-presidente este ano.

De acordo com o material em posse da CPMI, Cid trocou e-mails em 6 de junho de 2022 com uma interlocutora, em inglês, que agradece pelo interesse em vender o relógio. “Obrigado pelo interesse em vender seu Rolex. Tentei falar por telefone, mas não consegui. Quanto você espera receber por ele? O mercado de relógios Rolex usados está em baixa, especialmente para as peças cravejadas de platina e diamante, já que o valor é tão alto. Eu só quero ter certeza que estamos na mesma linha antes de fazermos tanta pesquisa”, escreveu a mulher.

Mauro Cid respondeu que não tinha o certificado do relógio, justificando que “foi um presente recebido durante uma viagem oficial”, e afirmou que esperava receber US$ 60 mil pelo objeto. Os e-mails não detalham o contexto do recebimento do relógio. O relógio da marca Rolex é descrito como um modelo Oyster Perpetual Day Date em ouro branco, platina e diamantes, com pulseira modelo Presidente, caixa em madrepérola e diamantes.

A descrição do relógio no e-mail bate com o Rolex recebido pelo ex-presidente em kit com caneta, um par de abotoaduras, um anel e um “mashaba”, um tipo de rosário árabe, oferecido pelo rei Salman Bin Abdulaziz al Saud, da Arábia Saudita, durante visita oficial em outubro de 2019. O kit foi devolvido pela defesa do ex-presidente em abril deste ano, após a Polícia Federal instaurar um inquérito para investigar outro conjunto de joias, avaliado em R$ 5 milhões, que foi retido pela Receita Federal do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.

Cid tentou reaver esse outro conjunto, sem sucesso. Procurada, a defesa do ex-ajudante de ordens disse que não teve acesso aos e-mails em posse da CPMI. O colegiado também apura movimentações financeiras consideradas suspeitas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) em contas de Mauro Cid, no valor de R$ 3,2 milhões.

A investigação prossegue em busca de detalhes que ainda não foram esclarecidos pela troca de e-mails. As mensagens não deixam clara a identidade do interlocutor que faria a ponte para a venda. Além disso, não há indicações se a conversa foi adiante para concluir a negociação ou se foi deixada de lado. Os conteúdos não citam o ex-presidente Jair Bolsonaro e não indicam se a troca é feita em nome do mandatário.

(Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

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