Israel rompe cessar-fogo e mata mais de 400 palestinos em bombardeio a Gaza
Por Henrique Acker – Israel quebrou o acordo de cessar-fogo com o Hamas e voltou a bombardear Gaza na madrugada de 18 de março. Cerca de 400 palestinos – civis que dormiam nos acampamentos improvisados – foram mortos. Em torno de 600 pessoas saíram feridas.
“A maioria dos ataques aéreos ocorreu em bairros densamente povoados, escolas improvisadas e prédios residenciais onde as pessoas estavam se abrigando”, informou Tareq Abou Azzoum, da TV Al Jazeera.
Fim do acordo
O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, divulgou uma declaração anunciando a retomada da guerra de Israel em Gaza. Segundo o governo israelense, a retomada dos bombardeios seria uma forma de pressionar o Hamas a libertar os reféns.
Israel decidiu se retirar das negociações para a segunda fase do acordo de cessar-fogo, que acabaria por levar ao fim da guerra e à libertação de todos os 59 prisioneiros israelenses ainda mantidos em Gaza.
Após a conclusão da primeira fase no final de fevereiro, com a troca dos 33 reféns israelenses por prisioneiros palestinos, o acordo de cessar-fogo entraria numa segunda etapa, que inclui a troca dos reféns restantes nas mãos do Hamas (24 vivos e 35 mortos) por nova leva de prisioneiros palestinos e a retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza.
Crise em Israel
O jornal israelense Haaretz acusa Netanyahu de lutar pela sua “sobrevivência política através da guerra”. A retomada dos bombardeios em Gaza ocorre no mesmo momento em que Netanyahu tenta afastar o chefe do Shin Bet, serviço secreto de Israel, que investiga o repasse de dinheiro do Catar para o governo.
Familiares dos israelenses que estão nas mãos do Hamas acusam o governo de ter desistido dos reféns ao decretar a nova ofensiva militar em Gaza. Já o ex-ministro de extrema-direita Ben-Gvir saudou o retorno aos combates em Gaza e se ofereceu para retornar ao governo.
Desde fevereiro deste ano, o partido de Netanyahu (Likud) é membro observador da aliança de extrema-direita no parlamento europeu, o Patriotas pela Europa. Fazem parte desse grupo Santiago Abascal (Vox-Espanha), Vicktor Orban (primeiro-ministro da Hungria), Jordan Bardella (França), que comandam uma bancada de 86 deputados de 12 países no Parlamento Europeu.
Hamas acusa os EUA
O Hamas emitiu comunicado em que acusa os EUA de estar por trás do ataque desta madrugada. “Com seu apoio político e militar ilimitado à ocupação (Israel), Washington tem total responsabilidade pelos massacres e assassinatos de mulheres e crianças em Gaza.”
Em entrevista à Fox News, a porta-voz do governo Trump, Karoline Leavitt, confirmou: “A administração Trump e a Casa Branca foram consultadas pelos israelenses sobre seus ataques em Gaza nesta noite.”
Segundo a Agência de Notícias Reuters, o grupo Hamas continua defendendo a continuidade do cessar-fogo na Faixa de Gaza no conflito com Israel, mesmo após os ataques que deixaram mais de 400 mortos.
Sem medicamentos e estrutura
Segundo o governo de Israel, os bombardeios ocorreram também por causa da “possibilidade de um ataque por organizações terroristas em Gaza contra nossos soldados e comunidades com o propósito de matar e sequestrar”. No entanto, não foi apresentada qualquer prova a esse respeito.
O porta-voz da Organização Mundial da Saúde, Tarik Jasarevic, alertou que 20 dos 36 hospitais de Gaza permanecem parcialmente funcionais. No entanto, poucos deles eram capazes de lidar com cirurgias, confirmaram agências de ajuda.
“A situação está se deteriorando rapidamente, mesmo antes dos acontecimentos recentes, porque desde o início de março não recebemos nenhuma outra ajuda, nenhum outro medicamento”, disse o porta-voz da federação, Tommaso Della Longa.
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
Fontes: