Em entrevista ao FT, ministra do Meio Ambiente diz que meta de triplicar energia renovável não será alcançada se não houver discussão sobre limites para exploração petrolífera
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse em entrevista ao jornal britânico Financial Times (FT), publicada nesta terça-feira (26), que o Brasil deve considerar a criação de um “teto” para a exploração e produção de petróleo. Respeitada mundialmente por sua militância ambientalista, Marina disse acreditar que o país não conseguirá alcançar objetivos concretos na redução de emissão de carbono se não impor limites à indústria petrolífera. A proposta contraria os planos do próprio governo, que pretende transformar o país em um dos maiores produtores da commodity até 2029.
O Ministério de Minas e Energia estabeleceu a meta de aumentar a produção de 3 milhões de barris por dia, registrada no ano passado, para 5,4 milhões até o final da década, o que tornaria o Brasil o quarto maior produtor mundial, segundo o FT. “Uma questão que terá que ser enfrentada é a dos limites, um teto para a exploração de petróleo. É um debate que não é fácil, mas que os países produtores de petróleo terão de enfrentar”, disse. Um dos objetivos que justificariam a imposição desse teto é o de triplicar a energia renovável, o que seria inexequível sem limitar a exploração da commodity, na visão de Marina.
“O Brasil é um produtor de petróleo. Este é um debate que terá que ser feito, mesmo no contexto de guerras. Estamos comprometidos com a meta de triplicar a energia renovável. Mas tudo isso não pode ser feito se não discutirmos a questão dos limites de exploração”, disse a ministra ao jornal britânico, considerado uma “bíblia” do jornalismo para os economistas.
Essa é mais uma frente de embate que a ministra vive no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda que o presidente defenda o protagonismo do Brasil na transição mundial para uma economia verde, ele segue apoiando a expansão da exploração de petróleo. Segundo o jornal, a posição de Marina Silva enfrenta obstáculos até mesmo dentro do governo, “especialmente do Ministério de Energia e da Petrobras”. Desde o momento em que assumiu o comando da Petrobras, seu atual presidente, Jean Paul Prates vem defendendo a exploração de petróleo na margem equatorial, na Foz do Rio Amazonas, onde se supõe haver enormes jazidas de “ouro negro”, apesar da oposição do Ibama.
Na mais recente declaração, Prates diz esperar que a perfuração do poço na região comece já no segundo semestre de 2024. “A expectativa é no primeiro semestre, depois do primeiro poço da Potiguar, tentar receber a licença pra ir furar a Foz e voltar pra furar o segundo poço, ou furar os dois poços e no segundo semestre do ano que vem furar a Foz do Amazonas”, declarou o executivo à CNN no dia 22. Potiguar é a empresa operadora de campos de petróleo no Rio Grande do Norte.
“Não podemos desistir da transição energética. A segurança energética é necessária, mas também devemos pensar na transição. Ambas as coisas devem acontecer”, defendeu Marina na entrevista desta terça. O jornal lembrou que a posição do governo Lula explicitada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, é de que não vê “nenhuma contradição” entre ter metas de explorar petróleo e almejar um papel importante na transição para a energia verde. Segundo ele, as receitas do petróleo poderiam até ajudar a financiar essa transição.
Silveira rebate e diz que não há contradição
Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia do Brasil, disse ao Financial Times que não via “qualquer contradição” entre os investimentos brasileiros em petróleo e as metas de transição energética, porque as receitas do petróleo ajudariam a financiar a transição. Ainda assim, o foco de Brasília na produção de combustíveis fósseis tem provocado ceticismo internacional, especialmente porque Lula insiste para que nações ocidentais ricas assumam um ônus financeiro maior em proteger a Amazônia e o meio ambiente, porque teriam sido as principais responsáveis pelo aquecimento global.
(Foto: Alan Marques/Folhapress)