No entanto, 8,4 milhões de brasileiros ou 3,9% da população ainda são subnutridos
A insegurança alimentar moderada ou severa caiu 43,5% no Brasil em 2023. Em números absolutos, 30,6 milhões deixaram de passar fome no país. É o que revela o relatório Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo (SOFI, na sigla em inglês) de 2024, publicado nesta quarta-feira (24) por cinco agências especializadas da Organização das Nações Unidas (ONU). O avanço, porém, não foi o suficiente para tirar o Brasil do Mapa da Fome da entidade.
A comparação se refere a passagem do triênio de 2020 a 2022 para o triênio de 2021 a 2023. No triênio encerrado no ano passado, 39,7 milhões de brasileiros, ou 18,4% da população, enfrentavam insegurança alimentar moderada ou severa, já sob o efeito do programa Bolsa Família turbinado de forma permanente – em meados de 2022, o governo Jair Bolsonaro elevou o benefício mínimo do então Auxílio Brasil para R$ 600 por mês, e o valor foi mantido na retomada do Bolsa Família, com o novo governo Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de 2023.
No período de 2020 a 2022, tomado quase na totalidade pelos momentos mais graves da crise causada pela Covid-19, 70,3 milhões de brasileiros enfrentavam insegurança alimentar moderada ou severa, ou 32,8% do total da população, segundo o SOFI de 2023. Na comparação com o triênio 2014-2016, houve aumento do número de pessoas que sofrem de insegurança alimentar no país, segundo o relatório. Nesse período, havia 27,2 milhões de pessoas com insegurança alimentar moderada ou severa ou 13,3% da população.
A melhora verificada ano passado – que já havia sido apontada em outros estudos do IBGE, embora com metodologias diferentes – não bastou para tirar o Brasil do Mapa da Fome da ONU porque 3,9% da população, ou 8,4 milhões de pessoas, ainda estavam na condição de subnutridos no triênio de 2021 a 2023. A ONU considera que um país integra o Mapa da Fome quando esse índice é igual ou superior a 2,5% do total da população.
O resultado é um pouco melhor do que o apresentado no relatório do ano passado, com recuo de 0,8 ponto percentual no índice total de famintos no Brasil. Na comparação com o relatório anterior, 1,7 milhão de brasileiros deixaram de sofrer de desnutrição crônica, equivalente a um terço do necessário para que o País saia do Mapa da Fome.
O Brasil voltou ao Mapa da Fome durante a pandemia, do qual estava fora, pelo menos, desde o triênio de 2014 a 2016, segundo os dados do relatório. No triênio de 2020 a 2022, essa proporção foi a 4,7%. A FAO pondera, porém, que a organização atualiza sua base de dados a partir das informações divulgadas por cada país – a forma como esses números são apresentados podem variar de um ano para outro. No caso do Brasil, os dados divulgados nesta quarta-feira podem incluir informações trazidas pelo Censo 2022, cujo total de habitantes se mostrou inferior às estimativas que eram feitas a partir do Censo 2010 e que podem ter servido de base para relatórios anteriores.
Além dos 8,4 milhões que enfrentam desnutrição crônica, o Brasil teve ao longo do último triênio 39,7 milhões de habitantes com insegurança alimentar moderada ou grave. Segundo a agência da ONU, a moderada é aquela em que a pessoa tem dificuldade em ter acesso a uma alimentação adequada, o que faz com que em determinado período acabe comendo menos, ou com menor qualidade. Já a insegurança grave é quando falta efetivamente comida por um dia ou mais.
De acordo com o relatório, a América Latina teve uma queda significativa na insegurança alimentar no ano passado. Em 2022, o percentual era de 31,4% e no ano passado, de 28,2%, quando se considera a insegurança alimentar severa ou moderada. Isso equivale a uma redução de 20 milhões de pessoas de um ano para o outro.
(Foto: Márcia Foletto)