Henrique Acker (correspondente internacional) – Batizadas de “Steadfast Defender 2024”, as manobras militares dos 31 países da OTAN e da Suécia assumirão a forma de um cenário de conflito contra um “adversário de dimensão comparável” e, sobretudo, destinam-se a dissuadir a Rússia de atacar um país membro da organização. Os exercícios militares começam na próxima semana e vão durar até maio, envolvendo cerca de 90.000 soldados.
A área de treinamento está situada na região do Mar Báltico, e se estende da Noruega, passando pela Letônia e Lituânia – os três fazem fronteira com a Rússia –, até países como a Polônia e a Romênia – esta última separada da Rússia pelo Mar Negro.
“Estamos nos preparando para um conflito com a Rússia e grupos terroristas”, disse o presidente do Comitê Militar da OTAN, o almirante holandês Rob Bauer. “Se nos atacarem, precisamos estar prontos.” O comandante-geral da OTAN na Europa, o general Christopher Cavoli afirmou que as tropas simularão uma invasão russa a um dos países membros.
Alemanha, Polônia e países Bálticos
A escolha do local deveu-se à proximidade com a Bielorrúsia, uma vez que Vladimir Putin citou a possibilidade de enviar armas nucleares para aquele país. Além disso, “sete – em breve oito – membros da aliança localizam-se junto ao Mar Báltico, o que faz com que a zona tenha uma importância crucial para nós”, ressaltou Dylan White, porta-voz da OTAN, em declaração ao portal da instituição.
Um dos objetivos práticos dos exercícios é trabalhar no envio rápido e desimpedido de tropas da América do Norte para a Europa.
Além dos cerca de 90 mil soldados, as manobras vão contar com cerca de 50 navios de guerra, 80 aviões e 1.100 veículos de combate de todos os tipos. Trata-se do maior “jogo de guerra” desde o exercício “Reforger” em 1988, em plena Guerra Fria entre a União Soviética e a Aliança Atlântica. O Reino Unido confirmou a participação de 20 mil efetivos de suas forças armadas, enquanto a Alemanha vai enviar 12 mil militares.
Gastos militares crescem no PIB dos países europeus
Antes da invasão russa da Ucrânia a OTAN e a defesa militar eram assuntos que despertavam pouco interesse entre os governantes da União Européia. Desde o final da chamada “guerra fria”, com o desmonte da União Soviética, a Europa não contava com mobilização tão expressiva de tropas. A pressão dos EUA pela adesão da Ucrânia à OTAN, na fronteira com a Rússia, levou a uma reação militar de Moscou e à invasão da Ucrânia.
Para além das baixas entre mortos e feridos dos dois lados, ainda é impossível calcular o montante das perdas materiais ucranianas. Do lado russo, nem os 12 pacotes de sanções econômicas da União Européia impediram um crescimento econômico, estimado em 3% para 2023, muito em função do crescimento da indústria militar. Já o crescimento previsto em 2023 para a Zona Euro é de 1,2%.
Números compilados pelo Instituto Kiel, da Alemanha, mostram que os EUA já destinaram 75 bilhões de dólares em ajuda financeira, humanitária e militar a Kiev desde fevereiro de 2022. A União Europeia destinou 84,8 bilhões de euros, na maior parte em apoio financeiro, e os países da Europa, de forma individual, comprometeram quase 2% de seu PIB na guerra.
EUA no topo da indústria armamentista
Segundo o relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, em inglês) publicado em 13/03/23, os cinco maiores exportadores de armas são Estados Unidos, Rússia, França, China e Alemanha.
O instituto sueco analisa e compara o comércio armamentista global a cada quatro anos. Segundo alertou o pesquisador Pieter Wezeman, “as transferências de armas para os Estados europeus cresceram significativamente” e “o papel dos EUA como fornecedor global de armas aumentou de forma igualmente significativa”.
No quadriênio de 2018 a 2022, a importação de armas pelos países europeus – a maioria delas vinda dos Estados Unidos – aumentou 47%, e a dos membros europeus da OTAN, 65%. A razão para este aumento é, sem dúvida, a invasão russa à Ucrânia. No período analisado os EUA aumentaram as exportações em mais 14%, sendo agora responsáveis por 40% das transferências globais de armas.
A previsão é que os EUA continuarão a ser quem mais fornece armas no mundo. O país fabrica cerca de 60% dos aviões e helicópteros de combate encomendados em todo o mundo. Só em 2022, treze países encomendaram 376 aviões e helicópteros de combate a fabricantes com sede nos Estados Unidos.
Por Henrique Acker (correspondente internacional)