Influenciadores podem desequilibrar uma eleição?

Felipe Sousa ( BBC News Brasil)  –  Famoso na internet, Bruno Diferente viaja de Curuçá, no interior do Pará, até a capital Belém, veste uma camiseta com o número de um candidato a vereador e participa de carreatas ao lado dele. Apenas no Instagram, o influenciador digital tem 1,2 milhão de seguidores.

O número de seguidores de Bruno nessa rede social é maior que os 1.056.697 eleitores da cidade de Belém, segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral. No TikTok, Bruno Diferente acumula mais 4,6 milhões de seguidores — número quatro vezes maior que o de pessoas aptas a votar na capital paraense.

Sem contar os 316 mil fãs que ele tem no YouTube, outros 300 mil no Kwai e 386 mil no Facebook.

Bruno não é o único. Outros influenciadores digitais têm usado suas contas pessoais para promover candidatos nas eleições municipais deste ano.

Mas, além de ditar tendências de consumo, ideologias, gostos musicais e comportamentos, essas pessoas são realmente capazes de influenciar ou até mesmo desequilibrar uma eleição? E até que ponto elas podem demonstrar apoio e pedir votos sem ferir a legislação eleitoral?

A reportagem da BBC News Brasil ouviu cientistas políticos e especialistas em marketing político para entender qual o peso que alguns influencers podem ter. Eles concordam que o apoio dos famosos na internet pode ser relevante para as campanhas, e podem chegar a ser decisivos em cidades menores, com pleitos onde uma diferença de dezenas de votos podem ser determinantes.

O cientista político e especialista em comportamento eleitoral e marketing político Antonio Lavareda afirma à BBC News Brasil que o influenciador é um formador de opinião da era digital. O especialista explica que esse tipo de apoio sempre existiu, mas que a diferença hoje é apenas o meio de comunicação utilizado.

“A importância dos formadores de opinião numa campanha sempre foi grande. Tanto é que todo candidato queria ter o apoio do futebolista que tinha acabado de ganhar o campeonato. Essas coisas contam bastante”, diz.

Lavareda afirma que o apoio de famosos pode ser decisivo em algumas eleições.

“Alguns influenciadores podem ter um peso muito grande, especialmente em cidades menores. Imagine se o Pelé estivesse vivo e apoiasse um candidato a prefeito da cidade Três Corações, em Minas Gerais? Desequilibraria, sim. As coisas são como sempre foram, mas acrescidas das características dos novos tempos.”

Para Lavareda, hoje o influenciador tem muito mais capacidade de formar a opinião de seus seguidores porque ele tem um espaço relativamente infinito de exposição.

“A grande diferença é que hoje ele se relaciona diretamente com o seu público, sem a mediação dos meios de comunicação. Ele não depende de espaço na TV, no rádio ou jornal”, diz.

Ele afirma que um grande exemplo de sucesso dos influenciadores são casos como o do Pablo Marçal (PRTB), que é candidato à Prefeitura de São Paulo e ganha boa parte de seu apoio por meio das redes sociais.

“É o próprio influencer sendo candidato, pedindo os votos da população. São Paulo vai nos mostrar a grande força disso e ao mesmo tempo algumas limitações”, aposta.

Pablo Marçal inclusive chegou a ter suas redes sociais derrubadas pela Justiça Eleitoral de São Paulo a pedido do PSB. A ação acusou Marçal de abuso de poder econômico pelo suposto pagamento de apoiadores para editar e difundir cortes de vídeos do candidato nas redes sociais.

A DIFERENÇA 

Vânia Siciliano Aieta, especialista em direito eleitoral e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma ser um pouco cética em relação ao peso que tem o apoio dos influenciadores nas eleições nacionais. No entanto, reconhece que eles podem fazer a diferença em pleitos municipais.

“As pessoas seguem essas celebridades por motivos diversos e isso não significa que vão votar neles. Também há muitos casos que impulsionam seus seguidores por robôs”, diz.

“Mas eu acredito no poder do TikTok em relação ao jovem que não tem muita paciência para ficar ouvindo e vendo coisas muito longas, mas é conquistado por pílulas de conteúdo nessa rede. Hoje, uma campanha vitoriosa precisa desse conteúdo”, diz Aieta.

Aieta, que tem uma experiência de 33 anos em direito eleitoral, afirma, no entanto, que em sua visão as eleições municipais ainda têm obedecido a uma “cartilha da política velha”.

“Hoje temos inteligência artificial, influencers, mas estamos nos preocupando com debates. Hoje, 90% da eleição é sobre uso da máquina pública, abuso de poder, compra de votos”, diz.

Na campanha eleitoral em São Paulo, o comerciante e influenciador Bruno Vinicius seguiu a mesma trilha de Pablo Marçal e resolveu se lançar como candidato a vereador pelo União Brasil.

Sua principal arma é a presença digital conquistada antes da vida política. Ele acumula 2,3 milhões de seguidores no Instagram por conta da fama da loja de grife que possui, que fica na zona leste da capital paulista.

O perfil do comércio tem 2,5 milhões de seguidores na mesma rede. No TikTok, Bruno Vinicius tem mais 435 mil seguidores.

Além de falar para seus próprios seguidores, na reta final da campanha, ele conta com um reforço intenso de amigos famosos que também possuem milhões de seguidores na internet.

Apenas nesta sexta-feira (4/10), antevéspera das eleições, Bruno Vinicius publicou em seu Instagram mensagens de apoio de diversos influencers.

Entre eles, estão o pugilista Popó, com 6,3 milhões de seguidores no Instagram, Gabriel Salvador, o Salvador da Rima (4,9 milhões), Maumau (2,8 milhões), Daniel Alves, conhecido como Danielzinho do Grau (2 milhões), do rapper Predella (1 milhão), Kelly Araújo (1,1 milhão) e Viviam Costa (930 mil).

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