Mais de 80% das escovas de dente podem trazer prejuízos à saúde bucal

A maioria das escovas de dente disponíveis no mercado brasileiro não corresponde às características desejáveis para uma higienização segura, aponta uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo).

Segundo o estudo, mais de 80% das escovas de dente analisadas têm cerdas que não atendem às normas brasileiras para esses produtos.

A cirurgiã-dentista Sônia Regina Cardim de Cerqueira Pestana, autora da pesquisa, afirmou que as cerdas que formam os tufos das cabeças das escovas dentais “são afiadas, quando deveriam ser arredondadas para não representar riscos à saúde dos usuários.”

O trabalho analisou 345 modelos de escovas adquiridas em diferentes estabelecimentos comerciais. Desse total, 285 foram consideradas inadequadas para uso.

A especialista, que atua como pesquisadora do Centro Colaborador do Ministério da Saúde em Vigilância da Saúde Bucal, afirmou que as pontas das cerdas não arredondadas podem levar a lesões.

“Produzem micro ferimentos na gengiva e desgastes no esmalte do dente, o que representa risco para a saúde e um descumprimento das normas vigentes”, explicou a dentista.

Ela ressaltou que há falhas nas normativas sobre o tema, o que fragiliza a regulamentação e dificulta a eficácia das ações de vigilância sanitária.

“A olho nu, é praticamente impossível averiguar o acabamento das cerdas, e o consumidor acaba ficando à mercê da honestidade do fabricante”, disse Sônia.

Ela citou o pesquisador norte-americano Charles Bass, pioneiro no estudo das características de escovas dentais, ao afirmar que, “para a escova cumprir bem a sua função, o cabo deve ser reto e achatado, e a cabeça deve ser compatível com a faixa etária de quem vai utilizar o produto”.

Tais características, embora propostas por Bass em 1948, são ainda pouco conhecidas da população. O pesquisador propôs que as escovas dentais deveriam conter 18 tufos, com 80 cerdas em cada um, totalizando 1.440 cerdas.

“No entanto, a maioria dos cabos não são retos, e a quantidade de tufos e cerdas não atende ao padrão definido por Bass. Em nosso estudo, verificamos que o número de cerdas por escova variou de 500 a 7.500, e a quantidade de tufos oscilou entre 13 a 65”, afirma Sônia.

A pesquisadora enfatizou a importância da atuação das instituições públicas e dos órgãos de defesa do consumidor, bem como da Vigilância Sanitária, no sentido de exigir o atendimento das normas e dos requisitos técnicos necessários.  (Foto: Reprodução)

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