Mais de 22 milhões de brasileiros apostaram em bets no último mês

Levantamento do DataSenado traça perfil dos apostadores diante do cenário de crescente vício nos jogos de azar online

 

As apostas esportivas vêm crescendo rapidamente no Brasil, especialmente por meio de plataformas digitais. Segundo uma pesquisa divulgada nesta terça-feira (1) pelo Instituto DataSenado, cerca de 22,13 milhões de brasileiros — cerca de 13% da população com 16 anos ou mais — realizaram algum tipo de aposta nos últimos 30 dias.

A pesquisa entrevistou brasileiros com 16 anos ou mais para traçar o panorama do aumento da participação da sociedade nas apostas esportivas, que tem preocupado as autoridades devido a seus impactos sociais e econômicos.   De acordo com o estudo, do total de pessoas que apostaram no último mês, 58% estão com dívidas em atraso há mais de 90 dias.

A maioria dos apostadores é do sexo masculino (62%), enquanto as mulheres representam 38%. Em relação à faixa etária, a maioria (56%) dos jogadores tem entre 16 e 39 anos. Em relação à escolaridade, 40% têm o ensino médio completo, 23% têm o ensino fundamental incompleto e 20% têm o ensino superior incompleto ou mais. Já do ponto de vista econômico, a maioria (68%) afirma exercer atividade remunerada, enquanto 27% dizem estar desempregados.

O levantamento mostra um dado que tem chamado atenção em outras pesquisas, que é o fato de pessoas que pertencem às classes econômicas D e E apostarem mais do que pessoas de classes mais favorecidas. De acordo com os dados, a maioria (52%) dos apostadores recebe até 2 salários mínimos (R$ 2.824). Já quem ganha entre dois e seis salários mínimos representa 35% e 13% receberam uma quantia superior.

Outro estudo, da PwC Strategy&, mostrou que as apostas esportivas já estão impactando o consumo de famílias das classes D e E, que estão destinando recursos para lazer, cultura e produtos pessoais às bets. Em alguns casos, até gastos com a alimentação estão sendo destinados às apostas.

A maior parte dos brasileiros que apostou no período analisado pelo levantamento do Senado, afirmou ter gasto até R$ 500 em aplicativos ou sites na internet. Apenas 3% declararam ter desembolsado um valor maior. O analista do DataSenado José Henrique Varanda comentou sobre os resultados do levantamento. “Além de mostrar que quase 13% da população fez apostas esportivas nos últimos 30 dias, a pesquisa joga luz sobre algumas características dessa população”, afirmou.

“Há uma proporção maior de homens que fizeram apostas esportivas, 62% […]. Pessoas mais jovens apostaram mais, e pessoas idosas, menos. […] Pessoas com ensino médio completo apostam mais, enquanto pessoas com menor e com maior escolaridade apostam menos. Em relação à renda, pessoas de baixa renda apostam menos em proporção a este grupo na população em geral. Porém, como é o maior grupo populacional, ainda é a maior parte dos apostadores”, explicou o analista.

O crescimento do mercado de apostas no país está impactando negativamente a renda das famílias brasileiros, principalmente das mais pobres, de acordo com diferentes estudos publicados nas últimas semanas. Segundo uma pesquisa do Instituto Locomotiva, um terço dos brasileiros que realizam apostas esportivas por meio das bets estão endividados e com o nome sujo.

Já um estudo da Confederação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, as apostas online deixaram 1,3 milhão de brasileiros inadimplentes no 1° semestre do ano. Ao todo, os brasileiros já gastaram R$ 68 bilhões em bets.  Um levantamento do Banco Central também apontou que as apostas já consumiram R$ 3 bilhões dos beneficiários do Bolsa Família. O órgão destacou que as famílias mais pobres são realmente as mais prejudicadas pelas apostas esportivas. “É razoável supor que o apelo comercial do enriquecimento por meio de apostas seja mais atraente para quem está em situação de vulnerabilidade financeira”, avalia.

(Foto: Raphael Muller)

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