A mãe de Alexei Navalny ainda não conseguiu ver o corpo do filho, morto na última sexta-feira (16). O opositor do presidente russo Vladimir Putin estava detido em uma colônia penal nas proximidades do Círculo Polar Ártico. As autoridades locais garantem que ele foi vítima de “morte súbita”.
Conforme um porta-voz da equipe do opositor, a mãe de Navalny chegou a ir ao necrotério de uma cidade próxima da prisão onde o filho cumpria pena. Lyoudmila ficou surpresa depois de não ter sua entrada autorizada no local. Ela não teve nem a confirmação se o corpo de Navalny estava mesmo sendo mantido lá.
A comunicação oficial do líder da oposição também contou que o advogado de Navalny foi expulso do prédio e que o comitê investigativo prorrogou a investigação sobre a morte dele. No entanto, ainda não há previsão para a divulgação dos resultados.
Para tentar pressionar e acelerar o processo, a equipe de Alexei Navalny tem vindo a público acusar as autoridades de omissão e afirmar que o governo russo está encobrindo o que realmente aconteceu. Apesar de a justificativa dada ser “morte súbita”, familiares e apoiadores do opositor querem atestar se há sinais de lesão corporal.
Uma das pessoas que veio a público acusar as autoridades russas de omissão foi a viúva de Navalny, a advogada Yulia Navalnaya. Em uma declaração dada nas redes sociais nesta segunda-feira (19), ela afirma que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, teria matado seu marido.
“Eles mentem maldosamente e escondem o seu corpo à espera que os vestígios de mais um envenenamento por Novichok de Putin desapareçam”, declarou.
Apontada por Yulia como causa da morte do marido, novichok é uma substância neurotóxica que ataca o sistema nervoso e interrompe processos essenciais do corpo humano, como a respiração.
Navalny tinha dois filhos, Daria, de 23 anos e Zakhar, de 16 anos. Em 2008, se tornou conhecido do público russo pela primeira vez quando denunciou casos de corrupção de diversas empresas russas.
Em 2011, o líder criou a Fundação Anticorrupção (ACF) — a maior organização pública independente anticorrupção da Rússia e foi uma das lideranças da onda de protestos que denunciava fraude nas eleições parlamentares.
Pouco depois, em 2013, ele se candidatou à prefeitura de Moscou e obteve 27% dos votos, segundo as autoridades russas. Navalny terminou em segundo lugar, um desempenho impressionante contra o então prefeito que tinha o apoio da máquina política de Putin e era popular na capital russa.
Com o intuito de participar das eleições em 2018, Navalny lançou uma campanha internacional para que eleições livres e justas fossem realizadas na Rússia, mas seus registros eleitorais não foram autorizados.
Em 2020, o russo quase morreu vítima de um envenenamento enquanto voava da Sibéria para Moscou. Depois de ser atendido em solo russo, ficou internado em Berlim. Os testes feitos na Alemanha identificaram que a presença do agente nervoso da era soviética, Novichok. A descoberta elevou o tom das críticas contra o Kremlin que foi acusado de envenenar o opositor.
Em dezembro do ano passado, ele foi transferido para a prisão IK-3, no círculo polar ártico, onde morreu. Navalny foi visto em público pela última vez na quinta-feira (15), quando compareceu a uma audiência judicial por meio de videoconferência. O ativista russo parecia estar de bom humor e pediu ao juiz parte de seu “enorme salário”.
“Porque estou ficando sem dinheiro graças às suas decisões”, disse Navalny, se referindo às múltiplas multas que lhe foram impostas, de acordo com um vídeo publicado pela Sotavision, um meio de comunicação russo. (Foto: REUTERS)