Maduro comparece de surpresa à cúpula dos Brics na Rússia

Grupo excluiu Venezuela da lista de possíveis parceiros do bloco

 

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, chegou, de surpresa, à cidade de Kazan, na Rússia, nesta terça-feira (22) para a Cúpula dos Brics, organizada pelo presidente russo, Vladimir Putin. Até recentemente, confirmaram fontes em Caracas, o presidente venezuelano não pretendia viajar a Kazan. A mudança de planos poderia estar relacionada, afirmaram as mesmas fontes venezuelanas, às dificuldades que surgiram no horizonte para que a Venezuela seja aceita pelo Brics, sobretudo a resistência pública expressada pelo Brasil por meio do assessor internacional da Presidência, Celso Amorim. “Nossa presença é um avanço significativo para a geopolítica global”, disse Maduro após desembarcar em Kazan.

No mesmo momento em que Maduro chegava a Kazan, Amorim disse a reportagem do jornal O Globo que o Brasil “não considera oportuna a entrada da Venezuela, não vemos vantagens nessa incorporação neste momento”. O assessor internacional de Lula confirmou que ficou sabendo da viagem de Maduro nesta terça. “Não somos inimigos da Venezuela, mas estamos insatisfeitos com a situação no país — frisou Amorim, deixando a porta aberta para que, se as circunstâncias assim o permitirem, “possamos ser mais amigos”.

Até segunda-feira, a Venezuela era representada na cúpula de Kazan pela vice-presidente do país, Delcy Rodríguez. O país foi convidado para participar do encontro pelo anfitrião, principal promotor da entrada da Venezuela ao Brics. Em Caracas, fontes lembraram que o presidente venezuelano não costuma informar seus movimentos com antecedência, mas, neste caso, atribuíram a viagem à percepção de que “somente uma pressão muito forte” poderia reverter um cenário adverso para a Venezuela, principalmente pela posição do Brasil.

Nas últimas horas, várias listas com países que poderiam ser incorporados ao Brics (grupo formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) circularam em Kazan. Segundo fontes do governo brasileiro, nas últimas listas a Venezuela não aparece. A resistência do Brasil é um fator importante na equação, assim como a insistência da Rússia, que busca, com uma nova ampliação do Brics, derrubar a tese de seu isolamento em consequência da invasão da Ucrânia. O jogo segue, e nada está 100% definido.

A grande dúvida que paira sobre Kazan neste momento é se a Rússia de Putin insistirá com a incorporação de um país vizinho do Brasil, apesar do incômodo expresso de forma contundente pelo principal assessor internacional de Lula. A Venezuela é um problema para o Brasil, com os demais membros dos Brics não tendo nada contra sua entrada no grupo. A presença de Maduro em Kazan busca, segundo fontes em Caracas, pressionar Putin e desafiar a posição do governo brasileiro.

Se Putin insistir, a dúvida é se o Brasil vetará a entrada da Venezuela. Segundo O GLOBO apurou, a tendência seria evitar um veto, recurso, segundo fontes do governo brasileiro, usado em casos de países que ofenderam o Brasil de forma grave. Segundo as mesmas fontes, não é o caso da Venezuela. O problema com Maduro é, essencialmente, a eleição presidencial de 28 de julho, acompanhada in loco por Amorim apesar da resistência do governo venezuelano, que pretendia que o assessor internacional de Lula viajasse a Caracas apenas depois do pleito.

Desde a realização de uma eleição cujo resultado o Brasil, em sintonia com grande parte da comunidade internacional, não reconheceu, a relação bilateral se estremeceu. A tal ponto que, a partir de 10 de janeiro, dia em que os presidentes são empossados na Venezuela, o Brasil deve deixar de reconhecer Maduro como presidente legítimo do país. A relação entre Estados será preservada, mas o vínculo entre os dois governos mudará radicalmente.

Com esse pano de fundo, Lula nunca teve simpatia pela ideia de incorporar a Venezuela ao Brics. “Pusemos grandes esperanças nas eleições [presidenciais venezuelanas]”, admite Amorim. As últimas listas que circularam entre as delegações em Kazan incluíam cerca de 13 países, que poderiam ser incorporados ao Brics como parceiros. O Brasil vê com bons olhos a entrada de Cuba e Bolívia e teria ficado muito satisfeito com a adesão da Colômbia, mas o governo de Gustavo Petro acabou não apresentando uma solicitação.

Alguns dos citados nas últimas listas são Vietnã, Indonésia, Turquia, Uzbequistão, Azerbaijão, Nigéria Tailândia e Malásia. A palavra final será dada pelos chefes de Estado e, no caso do Brasil, pelo chanceler Mauro Vieira, que representa o país na cúpula e está em contado com Lula. No ano passado, foram aceitos como parceiros Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes — a Argentina não chegou a entrar por decisão do presidente Javier Milei.

(Foto: Divulgação/Ministério das Relações Exteriores da Venezuela)

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