Henrique Acker (correspondente internacional) – O Presidente francês, Emmanuel Macron, decidiu vetar a Nova Frente Popular (NFP), coligação de esquerda que venceu a eleição legislativa de julho, da formação de um novo governo para o país. O comunicado oficial da Presidência foi emitido no final da tarde de 26 de agosto.
O anúncio colide com a própria Constituição do país, visto que o papel de aprovar ou rejeitar um governo compete exclusivamente à Assembleia Nacional. Ao Presidente caberia convidar o partido ou coligação com maior representação parlamentar a apresentar a proposta do novo governo, que deve ser referendado ou rejeitado pelo Parlamento.
Em seu comunicado, Macron justifica que um governo da NFP, com seu programa, não teria sustentação da maioria do Parlamento. E ainda propõe a continuidade de suas consultas com as forças políticas, excluindo a França Insubmissa (partido da NFP com o maior número de deputados).
Mélenchon insiste no programa da NFP e ameaça com moção de censura
Os partidos de esquerda rejeitaram a decisão de Macron, insistindo que o Presidente da República deve nomear Lucie Castets, do Partido Socialista, indicada pela Nova Frente Popular para formar o novo governo. O líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, propôs uma moção de censura a Emmanuel Macron no Parlamento, o equivalente a um impeachment.
Em entrevista ao canal de televisão TF1, Mélenchon lembrou que seu partido não será jamais “parte do problema”, acusando Macron de discriminação e de se recusar a reconhecer o resultado das eleições.
Mélenchon desafiou os partidos da direita tradicional: “Vocês rejeitariam um governo de Lucie Castets sem nenhum ministro da França Insubmissa, mas que aplicasse o programa da Nova Frente Popular?”
Partidos de esquerda pedem manifestações populares
O secretário nacional do Partido Comunista, Fabien Roussel, respondeu duramente a Macron. “Se for para nos trazer aqui e nos pedir para formar um governo que dê continuidade à política [atual] em nome da estabilidade econômica ou política, não faz sentido”.
“As suas consultas foram apenas uma farsa – ele já sabia o resultado: a rejeição de um governo de esquerda, porque recusa e despreza o programa”, afirmou a porta-voz do Partido Socialista, Chloé Ridel, sobre o que classificou de “golpe do Presidente”.
Marine Tondelier, secretária nacional dos Ecologistas, garante que a NFP continuará a “lutar para respeitar a vontade dos franceses: três quartos deles querem uma ruptura política com o macronismo. Devemos isso a eles.”
Além de recusarem-se a participar das negociações chamadas por Emmanuel Macron, os partidos de esquerda ameaçam com a moção de censura ao Presidente no parlamento, além de convocarem a mobilização popular nas ruas para defender o resultado das urnas. (Foto: Ludovic Marin/AFP)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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