Henrique Acker (correspondente internacional) – O Presidente Emmanuel Macron, contrariando o resultado das urnas, indicou o deputado direitista Michel Barnier (ex-comissário da União Europeia), para formar o novo governo da França. Barnier pertence ao Partido Republicano, quarto colocado na eleição de 7 de julho.
No comunicado oficial em que informa a decisão, Macron justifica que a nomeação de tem como meta “formar um governo de unidade a serviço do país e dos franceses”. O Presidente rejeitou convidar a Nova Frente Popular, coligação de esquerda que venceu a eleição, para formar o novo governo.
O objetivo de Macron é atrair a extrema-direita, se não para tomar parte no novo governo, pelo menos para um voto de confiança no parlamento, isolando a Nova Frente Popular (NFP).
Esquerda denuncia golpe e convoca manifestações
A reação a indicação de Barnier foi imediata no campo da esquerda. Jean Luc-Mélenchon, líder da França Insubmissa (maior partido da NFP), afirmou que a eleição “foi roubada”, referindo-se ao fato que Macron convocou a eleição e ele mesmo desconheceu o resultado das urnas. Mélenchon convocou os franceses para manifestações de protesto no sábado, 7 de setembro.
O líder do Partido Socialista, Olivier Faure, lembrou que “em todas as democracias do mundo… a coligação que chega em primeiro é chamada a formar um governo. Nunca o partido que perdeu a eleição.”
“Ao nomear Michel Barnier, antigo ministro de Nicolas Sarkozy e comissário europeu promotor dos dogmas neoliberais, o Presidente da República faz opção pela continuidade nas políticas implementadas há sete anos”, escreveu num comunicado de imprensa o secretário nacional do Partido Comunista, Fabien Roussel.
Marine Tondelier, dirigente do Partido Ecologista, também se manifestou, denunciando um possível acordo de Macron com a extrema-direita. “No final, sabemos quem decide. O seu nome é Marine Le Pen. É a ela que Macron decidiu submeter-se”, declarou à FranceInfo.
Direita aprova e extrema-direita não descarta apoio
As principais lideranças do partido da extrema-direita, o Rassemblement National (RN), não descartaram a aprovação de Barnier. Marine Le Pen declarou que os seus deputados vão “aguardar a declaração de política geral, estando atentos ao respeito pelos eleitores do RN”.
O Renaissance (Renascimento), partido político de Macron promete, no entanto, que fará “exigências substantivas, sem cheque em branco” . Segundo a declaração do partido, o chefe de Estado “cumpriu o seu papel constitucional” com vista a um “governo estável”.
Xavier Bertrand, ex-ministro do governo Sarkozy e dirigente do mesmo partido do indicado a primeiro-ministro, foi discreto em sua manifestação de apoio: “Desejo a Michel Barnier e ao seu governo todo o sucesso ao serviço da França e no interesse do povo francês face aos muitos desafios que temos pela frente”.
Líderes da União Europeia fazem vista grossa
A Presidente da União Europeia, Úrsula Von Der Leyen, e a Presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, também ignoraram o resultado da eleição francesa e o papel político do Presidente num regime parlamentarista, que seria convidar a coligação de partidos mais votada a formar o novo governo, e felicitaram Michel Barnier.
Von Der Leyen não poupou elogios a seu ex-colega: “Sei que Michel Barnier defende os interesses da Europa e de França, como o demonstra a sua longa experiência”, escreveu no X.
Metsola foi pelo mesmo caminho. “Estou convicta que fará o melhor uso possível da sua experiência e das suas competências como novo primeiro-ministro de França”, declarou também no X. (Foto: Ludovic Marin/AFP/CP)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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Fontes:
Esquerda.net (Programa de governo da Nova Frente Popular)