Lula recua e decide construir túnel Santos-Guarujá em parceria com São Paulo

Projeto estava se tornando um ponto de discórdia entre o governador paulista, Tarcísio de Freitas, e o governo federal na disputa pela “paternidade” da obra e dos dividendos eleitorais esperados para 2026

 

 

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recuou na intenção de realizar sozinho o túnel submarino ligando as cidades de Santos e do Guarujá no litoral paulista. Após um encontro entre o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, ficou definido que a obra do túnel de 860 metros será feita em cooperação pelo governo federal, com o governo de São Paulo e Parceria Público-Privada (PPP). A obra é estimada em aproximadamente R$ 6 bilhões.

O encontro dos três foi realizado na tarde desta terça-feira (30), no Palácio do Planalto, e o tema foi a obra que fará parte do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). O projeto estava se tornando um ponto de discórdia entre o governador paulista e o governo federal na disputa pela “paternidade” da obra e dos dividendos eleitorais esperados para 2026. “(Tivemos uma) reunião com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas para discutir projetos estruturantes e obras prioritárias para o estado de São Paulo”, disse o ministro Costa, que é do mesmo partido do governador paulista.

Equipes jurídicas das duas pastas federais e do governo de São Paulo vão trabalhar agora para definir os detalhes da parceria. Depois de ser recebido pelos ministros, Tarcísio se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ficou acertado que o governo federal bancará R$ 2,7 bilhões, o estado de São Paulo outros R$ 2,7 bilhões que serão financiados pela União através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Além desses aportes, o projeto contará com a utilização de PPPs para completar os valores de construção, como defendia o governador Tarcísio. O projeto foi a “menina dos olhos” do ex-governador de São Paulo e ex-ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, possível candidato na sucessão paulista.

O acerto ocorreu após o governador de São Paulo ameaçar deixar o Republicanos por não concordar que a obra seja tocada apenas pelo governo federal. Tarcísio considerou inaceitável que o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, seja filiado ao Republicanos, seu partido, e o túnel Santos-Guarujá não tenha participação do estado de São Paulo. Numa conversa com o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, o governador ameaçou deixar a legenda se a situação não mudar. O encontro no Planalto foi acompanhado pelo ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, que ajudou a aproximar o governador de um acordo com o governo.

Nesta sexta-feira (2), Lula estará no Porto de Santos para a comemoração dos 132 anos do local e vai anunciar a obra. O vice-presidente, Geraldo Alckmin, também deve estar presente, e a expectativa é que o presidente anuncie detalhes do túnel que ligará Santos ao Guarujá. Na ocasião, será assinado termo de cooperação técnica para a execução das obras do túnel de Santos.

A construção do túnel deve beneficiar cerca de 80 mil pessoas por dia e tem previsão de um fluxo de 14 mil automóveis nas três pistas em cada sentido. Com a obra, a viagem será reduzida a dois minutos. Por balsa, leva 18 minutos e pela estrada, aproximadamente uma hora.

 

Lula comemora parceria

Lula compartilhou nas redes sociais fotos do encontro com Tarcísio e ministros. “Conversamos sobre a parceria para transformar em realidade um sonho de 100 anos: a obra do túnel Santos-Guarujá, integrando a Baixada Santista. Um grande projeto de R$ 6 bilhões. Também falamos de outros projetos, como o trem que São Paulo-Campinas e a expansão de Institutos Federais no estado de São Paulo”, afirmou o presidente na publicação. “É o governo federal atuando com todos os governadores para melhorar a vida das pessoas”, disse o petista.

Inicialmente, o governo Lula pretendia construir o túnel por meio de obra pública, com verbas da União, do estado e da própria autoridade portuária. Depois, a Autoridade Portuária de Santos, ligada ao governo federal, havia decidido dispensar a participação do governo estadual. A ideia era que a conta de R$ 5,8 bilhões fosse dividida entre autoridade portuária e o setor privado, com a entrega da gestão do túnel ao vencedor do leilão por até 70 anos.

O cronograma, que prevê consulta pública em abril e a publicação do edital até setembro, depende de uma tramitação suave no Tribunal de Contas da União (TCU) para ser cumprido.  Se houver demora na emissão de licenças ambientais, judicialização ou pedidos de vista no tribunal, por exemplo, pode haver atrasos. O presidente da Autoridade Portuária de Santos, Anderson Pomini, tem afirmado que a autarquia já trabalha com a possibilidade de haver ajustes nos prazos.

A ligação das duas margens do estuário de Santos é considerada o maior gargalo no transporte de mercadorias e pessoas no país. Por dia, são 78 mil passageiros que atravessam o canal com a balsa e, sem a conexão seca, 10 mil caminhões precisam fazer um percurso de 45 quilômetros para ir de um lado a outro. Por lá passam cerca de 30% das exportações e importações brasileiras. O túnel teria um pedágio para veículos, e a intenção é garantir que o preço seja o mesmo que é cobrado pela balsa —hoje de R$ 6,20 para motos, R$ 12,30 para carros e até R$ 98,60 para caminhões. O projeto também prevê uma linha de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) e ciclovia.

 

(Foto: Ricardo Stuckert/PR/Divulgação)

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