No documento, estudantes reivindicam, entre outras coisas, a criação da da Universidade de Integração da Amazônia, ampliação das cotas para indígenas e pessoas trans e revogação do Novo Ensino Médio
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, na noite de quinta-feira (13), em Brasília, do 59º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), na edição histórica que marcou a retomada da mobilização estudantil em massa, após pandemia e derrota do governo direitista do ex-presidente Jair Bolsonaro. Durante a cerimônia, representantes das entidades estudantis leram e entregaram uma carta de reivindicações ao presidente.
Entre os principais pontos, estão a manutenção da política de cotas e ampliação do direito de acesso para indígenas e pessoas trans, a criação da Universidade de Integração da Amazônia e a aprovação de uma lei para instituir o Programa Nacional de Assistência Estudantil. Além disso, a UNE reiterou, no documento, o pedido para que o governo revogue o Novo Ensino Médio, demanda repetida diversas vezes pelos estudantes em palavras de ordem gritadas no ginásio.
Em seu pronunciamento, Lula prometeu ampliar o número de universidades e outras instituições de ensino no país. “Nós vamos voltar a fazer mais universidades, a fazer mais escolas técnicas, mais laboratórios, vamos nos reunir com reitores e com os estudantes, vamos outra vez colocar o pobre no orçamento da União”, garantiu diante de um ginásio Nilson Nelson cheio. Tal promessa já havia sido feita durante a campanha eleitoral, em 2022.
A última vez que um presidente da República compareceu ao evento foi em 2009, quando o próprio Lula, durante seu segundo mandato, esteve no encontro estudantil. Ele também marcou presença em 2011, já como ex-presidente. A presidente da UNE, Bruna Brelaz, destacou a terceira participação dele no que é o maior encontro de estudantes da América Latina, que reúne, até este domingo (16), cerca de 10 mil pessoas na capital federal.
“Desde aquele Congresso da UNE de 2011, presidente, o senhor enfrentou um câncer e venceu, tivemos as jornadas de junho de 2013, a Copa do Mundo no Brasil em 2014, a reeleição da presidenta Dilma, o golpe de 2016, a sua perseguição e prisão política em 2018, a eleição da extrema direita, a política de genocídio durante a pandemia da Covid-19, a retomada da democracia nas eleições de 2022, a tentativa de um golpe de estado no último 8 de janeiro e, aqui estamos”, afirmou Brelaz.
“O sucesso das políticas de expansão universitária, presidente, veio da luta conjunta da UNE, nas ruas, em diálogo com o seu governo. E nada mais foi significativo, nesse período, do que a criação do Prouni, do Reuni, do Fies e da Lei de Cotas”, completou Brelaz, ressaltando a nova cara das universidades, citando o seu próprio caso: primeira negra e nortista eleita para a presidência da entidade.
Na comitiva que acompanhou o presidente estava presente vários ministros e um convidado especial, o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica. “Não cometam o erro do meu tempo. Quanto mais desunidos, mais dominados vamos estar. Portanto, estudar, não perder tempo, cuidar da democracia. A democracia não é perfeita, está cheia de defeitos. Mas, até hoje, não encontramos nada melhor”, disse Mujica, que foi ovacionado pelos estudantes.
Já o ministro da Educação, Camilo Santana, foi o que provocou mais reação da plateia, que aos gritos de protestos cobraram a revogação do Novo Ensino Médio. O titular do MEC exaltou as medidas do governo para recuperar a educação, como a recomposição orçamentária das universidades, o reajuste e ampliação das bolsas estudantis e aumento nos repasses da merenda escola. Ele prometeu respeitar a escolha autônoma das universidades na nomeação dos reitores.
Sobre o pedido de revogação do Novo Ensino Médio, Santana prometeu diálogo. “Eu suspendi a implantação do Novo Ensino Médio no Brasil. E nós abrimos uma ampla escuta para ouvir estudantes. Foram 150 mil estudantes que participaram. Nós ouvimos professores, entidades, secretários. Quero dizer que nós vamos sentar, que é um compromisso ter um melhor Ensino Médio”, defendeu-se, ao fazer menção ao processo de consulta pública aberto pela pasta e que foi encerrado na semana passada.
A reinvindicação ação de revogar o Novo Ensino Médio consta na carta da UNE ao presidente Lula, e foi reafirmada diversas vezes pelos estudantes em palavras de ordem no ginásio.
(Foto: Carlos Vieira)