Presidentes dos 12 países sul-americanos chegam a Brasília em busca de consensos.
Depois de incursões pela Europa e encontros com os líderes dos países democráticos com as maiores economias do mundo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concentra nesta semana suas atenções na retomada da união dos países sul-americanos. Nesta terça-feira, está prevista a reunião de cúpula dos países da América do Sul, com a participação de 12 vizinhos continentais. O único que não deverá participar do encontro é o Peru, que vive uma crise institucional e política desde que o então presidente, Pedro Castillo, deflagou uma tentativa de golpe e foi deposto, em dezembro do ano passado.
A situação peruana é a mais tensa, no entanto nenhum outro país vive um momento político e econômico confortável atualmente. Ao contrário disso, o que torna a reunião em Brasília ainda mais fundamental. Até a tarde desta segunda-feira (29), todos os líderes devem desembarcar em Brasília, e o Itamaraty trabalha com a possibilidade de promover alguns encontros bilaterais antes do início da reunião de terça.
Um destes encontros já está em andamento. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, chegou à Brasília na noite de domingo e está reunido nesta manhã com o presidente Lula para uma conversa reservada. Vale lembrar que a presença do presidente venezuelano estava proibida no Brasil desde agosto de 2019. Após o encontro, o Itamaraty confirmou uma reunião com membros da comitiva do Maduro e do governo brasileiro, incluindo ministros de Estado, e assinatura de um Memorando de Entendimento em matéria agro alimentar e um segundo sobre mecanismo de supervisão da cooperação bilateral. Ainda está previsto um almoço dos dois presidentes, com as respectivas comitivas, no Itamaraty, e não se descarta uma declaração conjunta dos dois líderes.
Desafios
Desde domingo, a Polícia Federal (PF) pediu reforço à PM do DF na segurança de embaixadas e hotéis. Ao contrário das primeiras gestões de Lula, quando a América do Sul vivia uma onda vermelha, a cúpula deve reunir um grupo ideológico bem diversificado. A região não tem nenhuma organização multilateral que sirva de fórum para debater problemas comuns. A União de Nações Sul-Americanas (Unasul), criada em 2008, tinha essa pretensão, mas está desativada desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder, em 2019.
O então presidente via a entidade como um bloco de governos de esquerda, e aderiu à articulação de Colômbia e Chile para a criação do Prosul, um fórum de países governados pela direita, que ascendeu ao poder em meados da década passada. Com as mudanças de governo ditadas por eleições democráticas, em que não houve predomínio continental de uma ou outra corrente ideológica, as duas entidades fracassaram.
Em comum, está o fato de que cada país vive uma crise particular em cenário de baixo crescimento. O Brasil, após a troca de comando ditada pelas eleições de 2022, enfrenta uma disputa política entre um governo progressista e um Congresso majoritariamente conservador, o que dificulta a implementação de políticas públicas prometidas durante a campanha eleitoral e cria um horizonte de incertezas em relação à retomada do crescimento econômico.
Como é o anfitrião do encontro, o presidente Lula propõe uma agenda aberta, sem pontos específicos para serem discutidos. Mas apresentará aos vizinhos, além da proposta de criação de uma entidade que represente o subcontinente, duas questões que são tratadas como prioridade pelo governo brasileiro: a oferta de mecanismos de ajuda econômica à Argentina — segunda maior economia da América do Sul, que vive uma severa crise econômica e hiperinflação — e a reinserção da Venezuela na rotina diplomática e comercial da região.
Na reunião de Brasília, os presidentes buscarão agendas comuns, como a integração física dos países da América do Sul por meio de rodovias, ferrovias e dutos; políticas de enfrentamento ao crime organizado nas regiões de fronteira e convergências em relação aos movimentos migratórios no subcontinente. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
