Lula pede ‘investigação rigorosa’ do assassinato da líder quilombola Mãe Bernadete

Líder quilombola foi assassinada em associação na Região Metropolitana de Salvador

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se pronunciou sobre o assassinato da líder quilombola Bernadete Pacífico, conhecida como “Mãe Bernadete”, dentro da associação do Quilombo Pitanga dos Palmares, na Região Metropolitana de Salvador. Por meio das redes sociais, Lula mostrou preocupação com o caso e pediu uma “investigação rigorosa”, além de relembrar da morte do filho dela, Binho do Quilombo, em 2017.

“Com pesar e preocupação soube do assassinato de Mãe Bernadete, liderança quilombola assassinada a tiros em Salvador. Bernadete Pacífico foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial na cidade de Simões Filho e cobrava justiça pelo assassinato do seu filho, também um líder quilombola”, escreveu Lula.

“O governo federal, por meio dos ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e Cidadania, mandou representantes e aguardamos a investigação rigorosa do caso. Meus sentimentos aos familiares e amigos de Mãe Bernadete”, completou o presidente.

De acordo com a Secretaria de Comunicação do Governo da Bahia, o presidente ainda ligou, na manhã desta sexta-feira (18), para o governador Jerônimo Rodrigues para registrar sua consternação pelo assassinato da líder quilombola. Jerônimo disse ao presidente quais medidas estão sendo tomadas para esclarecer o crime o mais rapidamente possível.

Durante a conversa, o governador Jerônimo, que cumpre agenda de entregas no interior do Estado, lamentou o fato e relatou ao presidente que determinou que as Polícias Militar, Civil e Técnica fossem ontem mesmo a Simões Filho. Diligências estão sendo promovidas, testemunhas foram ouvidas, câmeras de segurança serão analisadas e a perícia foi realizada no local. Todos os esforços para esclarecer o crime o mais rapidamente possível.

A primeira-dama Janja da Silva também usou as redes sociais para lamentar a morte de Lula. “É com profundo pesar e consternação que expresso minhas mais sinceras condolências pelo brutal assassinato da Mãe Bernadete Pacífico, ocorrido na Bahia na noite de ontem. Toda minha solidariedade aos familiares e à comunidade”.

Outros políticos como o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, e os ministros Anielle Franco, Silvio Almeida, Sonia Guajajara e Rosa Weber também se pronunciaram.

O crime

O terreiro teria sido invadido por dois homens armados, usando capacetes, na noite de quinta-feira (17), que ainda fizeram familiares da vítima reféns, e fugiram levando celulares. De acordo com o filho de Bernadete Pacífico, ela foi morta com 12 tiros no rosto depois que os suspeitos afastaram os três netos e uma quarta criança.

Bernadete além de líder quilombola também era ialorixá, líder religiosa, da comunidade Pitanga dos Palmares, e coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq). Em julho deste ano, ela participou, ao lado de outras lideranças quilombolas da Bahia, de um encontro com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, na comunidade Quingoma, em Lauro de Freitas, também na Região Metropolitana de Salvador. Na ocasião, ela denunciou ameaças e violências contra a comunidade quilombola.

Segundo a Conaq, “atuava na linha de frente para solucionar o caso do assassinato do seu filho Binho e bravamente enfrentou todas adversidades que uma mãe preta pode enfrentar na busca por justiça e na defesa da memória e da dignidade de seu filho.”

Mãe Bernadete, como era conhecida, foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial na cidade de Simões Filho, onde fica o terreiro, durante a gestão do prefeito Eduardo Alencar (PSD) (2009-2016). ‘Sambadeira’, Bernadete também era conhecida por sua defesa da cultura popular quilombola. Em 2017, ela recebeu o título de Cidadã Simõesfilhense pela Câmara de Vereadores da cidade.

Ela cobrava justiça pela morte do filho, Flávio Gabriel dos Santos, o Binho do Quilombo, que foi assassinado em 2017, por homens armados também na área do quilombo. O quilombo Pitanga dos Palmares, que era liderado por Bernadete também é responsável por uma associação onde mais de 120 agricultores produzem e vendem farinha para vatapá, além de frutas e verduras como abacaxi, banana da terra, inhame e maracujá. Cerca de 290 famílias vivem no local de 854 hectares. O quilombo foi certificado em 2004, mas ainda não teve o processo de titulação concluído.

Em entrevista para o Jornal da Manhã, da TV Bahia, no Instituto Médico Legal de Salvador, Wellington dos Santos pediu justiça pela morte de Bernadete Pacífico e apontou perseguição. “Minha família está sendo perseguida. Em 2017, meu irmão foi assassinado da mesma forma e ontem minha mãe foi executada enquanto estava com seus três netos. Queria saber o que a gente fez para esse povo. Não sabia que fazer o bem contraria tanto as elites”, afirmou.

(Foto: Conaq)

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