Lula lamenta decisão do Copom sobre taxa de juros: ‘Uma pena que manteve’

Em entrevista, Lula diz que “nunca se mete nas decisões do Banco Central”, mas que manutenção da Selic em 10,5% foi uma escolha por “investir no sistema financeiro e nos especuladores”

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou nesta quinta-feira (20) a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de manter a taxa básica de juros (Selic) em 10,50% ao ano, após sete cortes consecutivos iniciados em agosto do ano passado, quando a taxa estava em 13,75%.

De acordo com Lula, “quem está perdendo com isso é o Brasil”. “Foi uma pena que o Copom manteve, porque quem está perdendo com isso é o Brasil, é o povo brasileiro, porque quanto mais a gente pagar de juros, menos dinheiro a gente tem para investir aqui dentro, e isso tem que ser tratado como gasto”, lamentou em entrevista à Rádio Verdinha, em Fortaleza, nesta quinta-feira (20).

Lula disse que o presidente da República não se mete nas decisões do Copom, mas reclamou do alto valor pago pela União com juros. Em 2021, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionou a lei que estabeleceu que o presidente e diretores do BC terão mandatos fixos de quatro anos, não coincidentes com o do Presidente da República.

“Meirelles tinha autonomia tanto quanto tem esse rapaz [Campos Neto] de hoje. Mas eu tinha poder de tirar, aí entenderam que precisava de autonomia. Autonomia de quem? Autonomia para atender quem?”, questionou.

Segundo o petista, no ano passado, foram gastos mais de R$ 700 bilhões em juros. “Tudo é gasto e por que os juros pagos não podem ser gastos também? Quanto mais a gente pagar de juro, menos investimento”, afirmou. Ele ainda criticou o mercado e os bancos privados — “preferem ganhar dinheiro com a taxa de juros”. “A decisão do Banco Central foi investir no mercado financeiro e nos especuladores. Não vejo o mercado falar de quem necessita do Estado, o povo trabalhador”, disse.

Ele ainda criticou o mercado e os bancos privados — “preferem ganhar dinheiro com a taxa de juros”. “A decisão do Banco Central foi investir no mercado financeiro e nos especuladores. Não vejo o mercado falar de quem necessita do Estado, o povo trabalhador”, disse.

 

Manutenção dos juros

Na quarta-feira (19), o Copom decidiu por unanimidade a favor da manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 10,50% ao ano. Mesmo os diretores indicados por Lula, que vem pedindo juros mais baixos, votaram pela interrupção do ciclo de cortes. Segundo o comunicado publicado pelo BC, a decisão do Copom foi unânime, com votos favoráveis dos nove integrantes do Copom, em contraste com a divisão (5 a 4) da reunião anterior, que terminou com redução de 0,25 ponto percentual na Selic.

Com a fala de Lula, o dólar reverteu a queda registrada na abertura do pregão desta quinta-feira, abaixo de R$ 5,40, e operava estável por volta do meio-dia, a R$ 5,44. Após o Copom anunciar sua decisão, especialistas acreditavam que a manutenção da taxa de juros em 10,50% daria alívio à moeda americana, que, nos últimos dias, vinha registrando altas consecutivas, acumulando valorização de mais de 12% no ano. Na quarta-feira, antes da reunião do Copom, a tensão no mercado fez o dólar chegar a R$ 5,48. Mas a moeda acabou perdendo fôlego e fechou a R$ 5,44. Ainda assim, foi o maior patamar desde janeiro de 2023.

Conforme o Comitê do BC, a manutenção da Selic está alinhada com a estratégia de convergência da inflação de 2025 para o redor da meta. “A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”, avaliam os diretores.

O Copom ainda diz que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente para consolidar tanto o processo de desinflação como a ancoragem das expectativas. “O Comitê se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”, afirmam.

(Foto: Wilton Junior/Estadão)

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