Alessandro Moretti é o segundo integrante da cúpula da Agência Brasileira de Inteligência a ser exonerado após vir à tona escândalo de monitoramento clandestino de adversários políticos durante o governo de Jair Bolsonaro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou nesta terça-feira (30) a demissão do diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alessandro Moretti. A publicação deve sair no Diário Oficial nos próximos dias. A informação foi confirmada por integrantes do Palácio do Planalto.
O substituto deverá ser Marco Cepik, atual diretor da Escola de Inteligência da Abin e homem de confiança do diretor-geral da agência, Luiz Fernando Corrêa. A tendência é que haja mudanças também em diretorias da agência. A mudança ocorre no curso de uma investigação da Polícia Federal sobre um suposto esquema de espionagem ilegal na agência no governo de Jair Bolsonaro. A PF suspeita de um “conluio” com o atual comando do órgão e investiga se houve tentativa de atrapalhar a apuração.
Em relatório apresentada ao ministro Alexandre de Moraes, os investigadores citaram que esse suposto acordo causou prejuízo para a apuração dos fatos, para os investigados e para a própria Abin, constituindo interferência à investigação. No documento, a PF cita que “as ações realizadas pela alta gestão atual, dessa forma, se mostram prejudiciais à investigação posto que transparecem aos investigados realidade distinta dos fatos”. Pelo que apuraram as investigações, a atual direção da Abin teria montado, com os investigados, um acordo para formação de uma estratégia conjunta e um acordo para “cuidar da parte interna”.
O relatório aponta que o então diretor da Abin, Alessandro Moretti, teria realizado uma reunião com os investigados, quando disse que o procedimento teria “fundo político e iria passar”. As declarações, afirma a PF, teriam sido dadas na presença de Corrêa, o atual diretor da Abin. Ele, entretanto, ainda não tinha tomado posse do cargo. A reunião ocorreu no dia 28 de março, duas semanas após o GLOBO revelar a existência do FirstMile, sistema capaz de monitorar a localização de celulares.
Esta é a segunda queda na cúpula da Abin no curso desta investigação. Em outubro do ano passado, foi exonerado Paulo Maurício Fortunato, então número três da agência. Na manhã desta terça-feira (30), Lula disse que, se ficar comprovado que Moretti favoreceu investigados pela PF e manteve relações com Alexandre Ramagem, não há “clima” para ele permanecer no órgão. O presidente acrescentou que ainda há insegurança em relação a Abin, mas destacou que confia EM Corrêa.
A PF deflagrou uma operação para investigar o aparelhamento político do órgão e o monitoramento de adversários do ex-presidente Jair Bolsonaro por meio da ferramenta de geolocalização First Mile. Ramagem é deputado federal e foi diretor-geral da Abin durante a gestão Bolsonaro.
(Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)