Encontro deve acontecer no hotel em que Lula está hospedado, após reunião bilateral entre Lula e o presidente dos EUA, Joe Biden
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, aceitou o convite para se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), às margens da 78ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York. A informação foi divulgada por uma fonte do Palácio do Planalto, conforme relevado pelo G1. A expectativa é o que o encontro seja realizado durante a tarde de quarta-feira (20). O último contato entre os dois ocorreu em março deste ano. A Reuters também publicou a informação, citando duas fontes anônimas do governo brasileiro.
Em maio, os dois presidentes quase se reuniram durante a cúpula do G7, no Japão. A versão do governo brasileiro é que foram oferecidos mais de dois horários para Zelensky, que, assim como Lula, participou de parte do evento como convidado. Porém, o ucraniano não apareceu. Já as autoridades ucranianas argumentaram que o Brasil demorou a responder ao pedido feito por Zelensky para se reunir com Lula. Quando a oferta de horários foi apresentada pelo governo brasileiro, o presidente do país do Leste Europeu já tinha compromissos agendados.
O desencontro perturbou as relações bilaterais. Zelensky deu declarações polêmicas depois disso. Uma delas, no mês passado, foi que Lula repete o que diz o presidente da Rússia , Vladimir Putin. Lula e Zelensky conversaram por telefone, em março deste ano. No contato, o mandatário ucraniano convidou o presidente brasileiro para ir a Kiev.
O líder do governo no Senado, senador Jacques Wagner (PT-BA), afirmou no domingo (17) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ofereceu dois horários para uma reunião com presidente ucraniano Volodymyr Zelensky durante a Assembleia Geral da ONU. A previsão é que o encontro com Zelensky ocorra após a abertura da Assembleia Geral.
Discurso de paz
Lula tem defendido desde que foi eleito na criação de uma espécie de “clube da paz”, capaz de construir uma solução diplomática para o fim do conflito que já dura um ano e meio. Em abril, o brasileiro afirmou que “Putin não pode ficar com o terreno da Ucrânia. Talvez se discuta a Crimeia. Mas o que ele invadiu de novo, tem que se repensar. O Zelensky não pode querer tudo. O mundo precisa de tranquilidade (..) A gente precisa encontrar uma solução”.
A Crimeia foi ocupada pela Rússia em 2014, antes da nova ofensiva de Putin iniciada no ano passado. A proposta foi inicialmente mal recebida por Zelensky, que já afirmou não estar disposto a ceder territórios à Rússia, e vista com ceticismo pelos americanos e europeus. Os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) têm financiado o esforço bélico ucraniano.
Para o governo ucraniano, a posição do Brasil não é neutra nem equidistante. Ao propor um cessar-fogo para abrir negociações, o Brasil estaria privilegiando a Rússia, que teria congelada suas posições de ocupação de territórios ucranianos e ganharia tempo para preparar a defesa dessas áreas. Também gerou frustração que o assessor internacional de Lula, Celso Amorim, tenha feito uma visita a Putin e demorado para repetir o gesto com Zelensky – o que foi percebido como mais um sinal de uma posição pró-Kremlin do Brasil.
O governo Lula nega e diz que pra manter a posição de imparcialidade, o presidente brasileiro até agora evitou visitas a Moscou. Em maio, durante o encontro do G-7, em Hiroshima, no Japão, do qual tanto Zelensky quanto Lula participaram na condição de convidados, havia a expectativa de que eles se reunissem, mas a viagem acabou em desencontro.
Segundo o governo brasileiro, Lula ofereceu quatro horários ao colega na ocasião, mas nada agradou ao ucraniano. Já Zelensky disse que foi Lula quem demorou a responder ao pedido de conversa. “No G-7, Zelensky foi tratado como um super star pelos americanos e os europeus. Estava em busca de armas e ficou soberbo, viu o encontro com Lula como algo menor”, disse à BBC News Brasil um auxiliar de Lula.
Na ocasião, Zelensky estava preparando a contraofensiva à Rússia a ser lançada no verão, no Hemisfério Norte, e buscava abastecer seu arsenal. Lula já havia dito q Scholz e a Biden que o Brasil não cederia armamentos à Ucrânia. “Nós nem temos armamentos pra ceder”, disse o senador Jaques Wagner (PT-BA) nesta segunda, em tom de piada, ao confirmar que a posição do Brasil pela solução diplomática não deve se alterar depois da conversa com o ucraniano.
Wagner deverá participar da conversa com Zelensky, além do assessor internacional Celso Amorim e do chanceler Mauro Vieira. Agora, porém, o momento de Zelensky é diferente em relação a maio, notam diplomatas brasileiros. Auxiliares de Lula vêem Zelensky em sua “maior baixa de popularidade” desde o início do conflito.
Ainda sem resultados militares robustos na contraofensiva à Rússia, tendo tido que demitir seu ministro da defesa recentemente sob alegações de corrupção e recebido críticas públicas sobre sua estratégia militar dos americanos, os maiores financiadores do esforço bélico ucraniano, Zelensky não atravessa uma boa fase e talvez isso tenha aumentado sua disposição para encontrar com Lula.
(Foto: Reprodução/Telegram Zelensky)