Lula diz que “palpites” de Janja lhe ajudam: “ela cuida de mim”

Em entrevista à rádio Tupi na manhã desta quinta-feira (20), Lula se pronunciou sobre as críticas à esposa, a socióloga Rosângela Silva, a Janja, acusada de dar “palpite” na vida dele, o racha entre ministros e o “fogo-amigo”, expresso na carta do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.

Sobre Janja, Lula foi sucinto e diz que os palpites da esposa, que pediu em namoro durante os 580 dias de prisão injusta na sede da Polícia Federal de Curitiba, são a “coisa mais gostosa” da relação entre os dois.

 

Vexatório

“Eu acho graça quando ouço dizer: ‘ah, a Janja dá palpite na vida do Lula’. A coisa mais gostosa que tem na minha relação com a Janja é que ela dá palpite na minha vida. Essa é a coisa mais gostosa. Ela cuida de mim de uma forma muito especial. Então, isso me ajuda”, afirmou.

“Se os ministros falam demais é prejudicial aos próprios ministros. Desde o outro mandato eu já dizia que tem um anão na minha sala, escondido embaixo da mesa. A gente faz reunião e diz que ninguém pode falar nada. A reunião nem acaba e já tem coisa lá fora e as pessoas sabendo. Sempre tem um jornalista que recebe informação. Mas, isso não me incomoda porque eu sei o time que eu tenho. E é um time primoroso, está trabalhando e é por isso que passamos dois anos organizando o que estamos fazendo agora. Eu posso te dizer, olhando no rosto de vocês, nós vamos ter um 2025 e 2026 muito primorosos no país”, afirmou.

O presidente ainda comentou sobre as especulações em torno das mudanças em seu ministério e sinalizou que não tem pressa de fazer mudanças, caso saiba que aja necessidade.

“O governo é muito bom. Muita gente fala em reforma política sem eu falar. Em reforma ministerial sem eu falar. Como eu sou um democrata, eu aceito que todo mundo dê palpite sobre tudo. Mas, as decisões sou eu quem toma. E se achar que tiver que mudar alguém, vou mudar alguém”, afirmou.

 

Carta de Kakay e o racha no ministério

Lula tem se dedicado a combater fogo-amigo, expresso na carta do advogado Kakay e um racha que se instalou no centro do governo, que opõe o grupo liderado pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, contra outro, comandado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Fontes palacianas afirmam que Lula classificou como “forte” o conteúdo da carta de Kakay e teria se irritado com o que considera críticas infundadas do advogado.

No entanto, o principal ponto que irritou Lula foi a revelação por Kakay de uma conversa particular ocorrida na casa do advogado, em 12 de dezembro, em que Lula teria dito que um político presente almejava um ministério.

“Ao sair da roda o Lula me falou baixinho, rindo: ‘este jamais será meu Ministro, e acha que vai ser’. Dia 1º de janeiro ele assumiu como Ministro”, revelou Kakay.

Lula viu a divulgação do ocorrido como quebra de confiança por parte do advogado por expor a conversa e deixar no ar um clima de “quem seria?” no Ministério.

O presidente, no entanto, não pretende conversar com Kakay, a quem considera – considerava? – um amigo.

A carta de Kakay ainda alimentou o racha no governo por se antecipar ao próprio Lula na escolha de seu sucessor.

“Nós temos o Haddad, o mais fenomenal político desta geração em termos de preparo. Um gênio. Preparado e pronto para assumir seu papel”, escreveu o advogado.

A declaração foi vista com desconfiança pelo grupo liderado por Rui Costa, que tem ao lado o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira.

Silveira assumiu o ministério na cota de Gilberto Kassab, presidente do PSD, que recentemente criticou Lula e classificou Haddad como um ministro “fraco”.

Nos bastidores, o grupo de Haddad vê Silveira como uma espécie de “cavalo de Troia” de Kassab, que busca sabotar medidas econômicas da Fazenda.

A desconfiança aumentou após as críticas de Kassab – que recuou em relação a Lula, mas não em relação a Haddad.

Presidente do PSD, Kassab é assessor especial do governador Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), que vem flertando com a terceira via, que funde a mídia liberal ao sistema financeiro.

Kassab seria o responsável por aglutinar as forças do Centrão à terceira via em uma cada dia mais provável candidatura Tarcísio em 2026.

No entanto, ele já estaria mirando uma possível disputa em 2030 entre Tarcísio e Haddad, a quem nutre mágoa desde 2012, quando o ministro venceu José Serra na disputa à prefeitura de São Paulo e desmontou todo o aparato de corrupção criado nas administrações tucanas que eram comandados e irrigavam as negociatas políticas de Kassab.

Em 2022, Haddad também articulou para levar Geraldo Alckmin ao PSB para ser o candidato a vice de Lula – acabando com o sonho do presidente do PSD de ser alçado ao posto.

 

Disputa no centro do governo

O racha no centro do governo Lula teria se aprofundado após o presidente ficar ao lado do grupo de Rui Costa e anunciar, ao mesmo tempo, o ajuste fiscal e a isenção do imposto de renda para aqueles que ganham até R$ 5 mil.

Haddad, juntamente com o presidente do Banco Central Gabriel Galípolo, teria alertado que a comunicação dos dois fatos ao mesmo tempo iria cair como uma bomba no mercado financeiro, elevando a cotação do dólar acima dos R$ 6 – o que, de fato, aconteceu.

Lula, no entanto, teria se posicionado ao lado do grupo de Rui Costa, que defendeu a divulgação simultânea das duas medidas.

O mal-estar continuou e no domingo (16), o grupo de Rui Costa se reuniu com Lula, indicando que a queda na popularidade do presidente estaria atrelada ao desgaste a medidas do Ministério da Fazenda.

Haddad, que está em viagem ao Oriente Médio, não participou da reunião.

No encontro, Lula foi informado que a queda na aprovação do governo teria se dado por causa da taxação das blusinhas da Shein, em 2023, e mais recentemente, pelo recuo diante das mudanças propostas pela Fazenda sobre o Pix, que foi alvo de uma série de fake news da oposição.

Fontes do Palácio avaliam que há uma tentativa de Costa em partir para cima de Haddad. Silveira, do PSD de Kassab, estaria aproveitando o cenário para cumprir a função de “cavalo de Troia” para atacar o adversário do presidente do PSD.

Aos 79 anos, em seu terceiro mandato após passar 580 dias preso por uma decisão injusta e parcial, Lula se colocou a serviço do Brasil para frear o avanço do neofascismo da ultradireita bolsonarista e colocar o país de volta nos trilhos para o futuro.

No entanto, para isso, o presidente precisa conviver com um antigo estigma que acompanha o PT: de que o partido é o principal adversário do próprio partido.  (Foto: Ricardo Stuckert)

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