Durante reunião, o presidente informou Rita Serrano que ela deve deixar o cargo nos próximos dias. Troca no comando do banco público ocorre para atender pressão de deputados do Centrão
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu demitir a presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Rita Serrano, na tarde desta quarta-feira (25). A demissão de Rita Serrano acontece após pressão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e do Centrão, que pressionavam pelo comando da Caixa. Para o lugar de Rita Serrano foi nomeado Carlos Antônio Fernandes – nome indicado pelo Centrão -, que é funcionário de carreira do banco e já atuou em outras gestões federais do PT.
Em 2012, Fernandes comandou a secretaria-executiva do Ministério da Integração Nacional, que na época era comandada pelo deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que também é aliado de Arthur Lira. A troca do comando da Caixa deve acontecer após uma reunião entre Lula e Lira, onde outros detalhes do acordo serão acertados. O Centrão também almeja a vice-presidência da instituição.
Em nota, o Planalto confirmou a demissão de Rita e disse que ela prestou relevantes serviços durante sua gestão. “Serrano cumpriu na sua gestão uma missão importante de recuperação da gestão e cultura interna da Caixa Econômica Federal, com a valorização do corpo de funcionários e retomada do papel do banco em diversas políticas sociais, ao mesmo tempo aumentando sua eficiência e rentabilidade, ampliando os financiamentos para habitação, infraestrutura e agronegócio”, diz o texto.
“Na gestão de Serrano foram inauguradas 74 salas de atendimento para prefeitos em todo o país, cumprindo um compromisso de campanha”, completa o Planalto, em nota. A demissão aumenta as críticas sobre a desigualdade de gênero no governo, pois Lula prometeu na campanha dar igual espaço para homens e mulheres e vem loteando cargos políticos com homens brancos, muitos fruto de indicação de deputados e senadores para atender interesses do parlamento.
Acordo
A troca sacramenta uma negociação que se arrastava há meses entre o governo Lula e Lira para garantir maior apoio às pautas de interesse da administração petista na Câmara dos Deputados. Em seu terceiro mandato como presidente, Lula enfrenta dificuldades para manter uma base aliada coesa no Congresso. Neste contexto, ele chegou a trocar dois ministérios em setembro para tentar angariar o apoio de partidos do centrão. Na ocasião, o presidente demitiu, em meio a protestos de sua base aliada, a então ministra do Esporte, Ana Moser, para nomear André Fufuca, do PP do Maranhão. Lula também trocou Márcio França (PSB) por Silvio Costa Filho (Republicanos) no posto de ministro do Turismo.
A demissão aconteceu um dia antes da data marcada para o Congresso Nacional analisar os vetos do presidente Lula ao texto do arcabouço fiscal e de outros projetos. Posteriormente, a data da sessão para decidir sobre os vetos foi remarcada para o dia 9 de novembro. Não por acaso, nesta tarde, após a reunião de líderes, Arthur Lira pautou para esta quarta-feira o projeto de lei que muda a tributação dos fundos exclusivos (fechados para alta renda no Brasil) e offshore (no exterior). O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defende o projeto para arrecadar R$ 20 bilhões com a medida no ano que vem.
Foto: Rita Serrano e Carlos Antonio Vieira Fernandes (Elaine Menke/Câmara do Deputados e Marcos Oliveira/Agência Senado)