João Salame- A bronca dada pelo presidente Lula, com certo tom de irritação, a ministros que anunciam medidas governamentais sem o aval da Casa Civil tem vários endereços, pois a fogueira das vaidades é algo natural em início de governo, sobretudo de frente ampla.
Uma das preocupações é com a eficácia das medidas anunciadas pelos ministros sem uma análise apurada da Casa Civil e da Presidência. A proposta feita pelo Ministro dos Portos e da Aviação, Márcio França, de viabilizar passagens aéreas a 200 reais levantou preocupação no círculo mais próximo ao presidente. Não que a ideia seja ruim, mas faltou embasamento técnico para garantir seriedade e solidez à iniciativa, o que pode acabar por desmoralizá-la.
Outra preocupação é que os ministérios não se transformem em núcleos isolados de poder e realização, levando a presidência a reboque. Num governo de frente ampla, com diversos ministros com pretensões presidenciais, seria uma temeridade possibilitar o surgimento de vários ministros-presidentes.
Ao mesmo tempo, ao adotar esse freio de arrumação, Lula demonstra para a sociedade que não abre mão do comando e da autoridade, valores bem ao gosto da opinião pública. Lula quer que todas as realizações levem o seu carimbo e deixou isso bem claro: “as realizações devem ser do governo e não dos ministros”.
Se tiver saúde, se o governo acertar o prumo na economia e a continuar com esse apetite, os ministros-presidentes terão que aguardar mais um pouco. Além de valorizar as iniciativas do governo terão que defender a recandidatura de seu carismático líder. (Foto: EBC)
