Em resposta às solicitações do presidente, o ministro encaminhou ao Palácio do Planalto a gravação completa da entrevista na qual menciona a chance de um aumento para conter a alta dos preços dos alimentos.
Na tarde de sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva contatou o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, após tomar conhecimento de que seu colaborador havia comentado sobre a possibilidade de um aumento no Bolsa Família. O ministro estava em compromissos no interior do Piauí quando recebeu a chamada de Lula, que buscava esclarecimentos sobre suas declarações, as quais geraram tensão no governo e reações no mercado, resultando na valorização do dólar e na queda das ações.
Na sexta-feira, em uma entrevista, o ministro foi indagado pelo portal alemão DW sobre a possibilidade de um aumento no benefício, considerando o crescimento da inflação dos alimentos.
— Iremos fazer uma escolha (sobre o aumento do Bolsa Família) conversando com o presidente, pois isso tem consequências. Será um reajuste? Será uma adição na alimentação? — e acrescentou — Está em discussão. A decisão será definida até o final de março.
Lula ficou aborrecido com a declaração. Durante a conversa telefônica com o presidente, o ministro esclareceu que sua intenção era informar que a pasta está elaborando uma análise sobre como a inflação dos alimentos afeta os beneficiários do Bolsa Família e de que maneira isso pode ser compensado.
Em resposta às pressões de Lula, o ministro encaminhou ao Palácio do Planalto a gravação completa da entrevista, permitindo que o presidente tivesse acesso a toda a declaração feita no contexto da conversa. Colaboradores de Dias reconhecem que a afirmação foi um deslize, mas consideram que a gravação contribui para esclarecer a confusão gerada.
A afirmação de Wellington Dias a respeito da análise para elevar o valor do Bolsa Família surpreendeu completamente os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Casa Civil, Rui Costa. Um possível aumento do Bolsa Família poderia afetar as finanças públicas em um período em que o governo enfrenta a pressão para reduzir despesas. Em resposta, a Casa Civil divulgou uma nota refutando a declaração do ministro.
Fora da agenda
A Casa Civil da Presidência da República esclarece que não há investigação em andamento sobre um possível aumento do valor do benefício do Bolsa Família. Este assunto não está em agenda e não será abordado.
No Palácio do Planalto, assessores expressaram desconforto em relação às declarações de Dias. De acordo com eles, a chance de um aumento no benefício “não está nem mesmo nos planos” de debate do governo e é “incompatível” com o atual esforço do Planalto em demonstrar rigor na gestão das finanças públicas. A atitude do ministro também gerou irritação entre os aliados de Lula em um dia em que o presidente promovia iniciativas favoráveis, com cerimônias relacionadas à segurança hídrica durante sua visita ao interior da Bahia.
Duas horas após a negação da Casa Civil, Wellington Dias emitiu uma declaração elaborada em parceria com a Secretaria de Comunicação Social (Secom), na qual “informa que não existe qualquer estudo em curso sobre o acréscimo do valor do benefício do Bolsa Família, nem há reuniões programadas para discutir o assunto”.
O incidente se adiciona ao impacto gerado pela divulgação feita pelo GLOBO nesta semana sobre a presença de ONGs contratadas pelo ministério, lideradas por assessores e ex-assessores de membros do PT, para fornecer refeições que não foram entregues conforme o planejado. No governo, a análise é de que a situação deixa Wellington Dias em uma posição vulnerável nas negociações sobre a reforma ministerial, embora ainda não haja um parecer definitivo se esses dois casos serão suficientes para que Lula o dispense do cargo.
Área do PT
Com um orçamento de R$ 291 bilhões, esse ministério atrai a atenção de partidos centristas da base aliada, que ainda é instável no Congresso. Contudo, devido à importância do Bolsa Família, essa pasta é vista como essencial pelo PT, e Lula se opõe a transferi-la para alguém que não tenha vínculos com o partido.
Assessores do ministro informam que Dias e Lula se encontraram em cinco ocasiões em 2025 para discutir objetivos e iniciativas da administração até o término de 2026. Isso, segundo eles, sugere que o presidente pretende manter o apoio do auxiliar até o fim de seu mandato. No momento, não há agendamentos de reuniões entre Lula e Wellington Dias para os dias seguintes.
O ministro parte neste domingo rumo a Roma para integrar a 48ª Sessão do Conselho de Governança do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida). A primeira-dama Janja da Silva também estará junto a ele na viagem. Ambos devem voltar ao Brasil na quarta-feira. Em seguida, estão programados compromissos de Lula com o ministro em localidades do país nas semanas seguintes, focando nos programas Bolsa Família e Acredita. (Foto: O Globo)
Com informação de O Globo