Lula celebra 20 anos do Bolsa Família: ‘Até 2026 vamos acabar com a fome neste País’

Presidente reiterou compromisso de erradicar a fome no país até o fim de seu terceiro mandato. No ano passado, o Brasil voltou ao mapa da fome, quando relatório da FAO apontou que 21,1 milhões de pessoas no país passaram por insegurança alimentar grave

 

No evento comemorativo dos 20 anos do Bolsa Família, realizado nesta sexta-feira (20),  o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que até 31 de dezembro de 2026 o seu governo vai acabar com a fome no Brasil. “Nós vamos fazer as pessoas comerem três vezes ao dia”, disse Lula, referindo-se a política pública que liderou a retirada do Brasil do mapa da fome.

“Pouco dinheiro na mão de muitos com o Bolsa Família significa a possibilidade de pessoas comerem três vezes ao dia, continuarem na escola e não evadirem, tomarem vacina, viverem ao máximo e que não morram aos 2 meses de desnutrição. E por isso que temos que adotar o lema ‘pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de renda'”, continuou o presidente, que participou remotamente da solenidade, vez que se recupera de uma cirurgia para colocação de prótese no quadril. Ele estava ao lado da primeira-dama Janja da Silva, que se emocionou várias vezes durante o discurso do presidente.

Em 2014, quando o Bolsa Família atendia mais de 14 milhões de famílias com investimento que ultrapassava R$ 2 bilhões, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) anunciou a saída do país do mapa da fome. Com o golpe no governo de Dilma Rousseff, o programa foi gradualmente desestruturado até ser substituído por Bolsonaro. Em 2022, o Brasil voltou ao mapa da fome. De acordo com relatório da FAO, 70,3 milhões de pessoas estiveram em estado de insegurança alimentar moderada no ano passado.

O levantamento também apontou que 21,1 milhões de pessoas no país passaram por insegurança alimentar grave. No dia 2 de março, Lula assinou medida provisória recriando o programa. Numa articulação política, garantiu R$ 600 por família no Orçamento de 2023 antes mesmo da sua posse. O orçamento enviado por Bolsonaro definia um valor mínimo de apenas R$ 400 para o Bolsa Família.

Lula criticou o governo Bolsonaro e disse que, em nove meses, sua gestão recuperou 42 políticas de inclusão social. “Já conseguimos incluir quase todas políticas que foram desmontadas pelo governo anterior”, disse. “Essa gente não pensa com o coração, essa gente muitas vezes pensa com o olho da irracionalidade”, seguiu. Por fim, o petista reafirmou o seu compromisso de governo de acabar com a fome no país novamente.

“Penso que dia de hoje é o dia da gente poder olhar fundo na cara dos nossos filhos e de cada criança desse pais e dizer, ‘até 31 de dezembro de 2026 nos vamos acabar com a fome nesse pais’. Nós vamos fazer as pessoas comerem três vezes ao dia, e se quiser comer quatro que coma. A gente quer as pessoas comendo comida saudável, por isso junto com o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos] a gente tem que ajudar, através do Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], os pequenos produtores a produzir comida de qualidade”.

A fala de Lula ocorre na semana em que o governo federal anunciou um aporte extra de R$ 250 milhões no PAA, iniciativa do governo para comprar produtos de pequenos produtores rurais e distribuir para famílias necessitadas por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O anúncio foi feito na segunda-feira (16), dia em que foi celebrado o Dia Mundial da Alimentação.

No final, Lula surpreendeu o público ao se levantar da poltrona. “Queria dizer uma coisa: semana que vem já tô voltando pro Palácio do Planalto. Já tô conseguindo ficar em pé, o Mano Menezes já me chamou pra jogar no Corinthians, o Diniz tá pensando em me chamar pra Seleção, já tô pronto pra voltar ao combate”, disse ele sob aplausos.

Pesquisas

“Pode confiar, presidente. Nós vamos tirar, novamente, o Brasil do Mapa da Fome”, afirmou o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, durante a solenidade. O ministro destacou pesquisa do Banco Mundial que aponta que 64% dos filhos das famílias atendidas pelo programa, frutos da primeira geração, saíram da pobreza e muitos foram para a classe média.

Dias também destacou estudo realizado por pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). O levantamento apontou que o benefício adicional de R$ 150 às famílias que possuem crianças de zero a seis atingiu, em outubro, 9,5 milhões de crianças beneficiadas. Ou seja, os R$ 150 mensais reduziram a intensidade da pobreza.

“Antes do novo benefício, 64% das famílias com crianças de zero a seis anos estavam protegidas da pobreza. A partir de março, o número foi subindo até atingir, em agosto, 84% das famílias com crianças na primeira infância”, explicou Daniel da Mata, pesquisador da FGV.

“O pagamento de outubro do Bolsa Família está na conta e esse mês trouxe mais uma novidade boa: agora, mães com recém-nascidos de até seis meses recebem R$ 50 além dos R$ 150 do Benefício Primeira Infância. Com isso, famílias com nutrizes têm mais segurança para cuidar dos pequenos”, disse o ministro.

Ele ainda explicou sobre a nova regra de proteção. Mesmo conseguindo um emprego e melhorando a renda, a família permaneça no programa por até dois anos, desde que cada integrante receba o equivalente a até meio salário mínimo R$ 660.

O objetivo é assegurar maior estabilidade financeira e estimular o emprego e o empreendedorismo. Se a família perder a renda depois dos dois anos ou tiver pedido para sair do programa, ela tem direito ao retorno, e o benefício volta a ser pago.

Homenagem

O evento foi aberto com o depoimento de uma ex-beneficiária do Bolsa-Familia, Raquel Lima Clemente, do Espírito Santo, que deixou o programa e hoje tem seus dois filhos formados em engenharia mecânica. “Nunca imaginei que um dia falaria para tanta gente com tanta câmera”, disse emocionada. “Hoje sou psicóloga formada pela Universidade Federal do Espírito Santo, mas nem sempre foi assim. Quando tinha 10, 12 anos eu tinha que trabalhar em casa de família para ajudar minha mãe e meu pai”, contou Raquel.

Também presente no evento, o coordenador de acompanhamento e execução orçamentária e financeira da Secretaria Nacional de Renda e Cidadania, Sérgio Monteiro, foi um dos homenageados por atuar no programa desde seu início. “É uma honra e privilegio muito grande poder representar todos os funcionários do Ministério do Desenvolvimento Social que atuaram e atuam com o programa. Estou no programa desde o início. Eu acompanhei o desenvolvimento desse programa. O programa nasceu, o programa morreu e o programa ressuscitou”, afirmou Sérgio.

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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