Livro infantil de Ziraldo que trata de racismo é censurado em escolas de MG

Suspensão veio após diversas manifestações e opiniões negativas dos pais acerca da obra

 

O livro infantil “O Menino Marrom”, do premiado escritor Ziraldo, foi proibido de ser aplicado nas salas de aula das escolas municipais de Conselheiro Lafaiete, na região Central do Estado de Minas Gerais. A prefeitura da cidade publicou uma nota oficializando a suspensão do exemplar na quarta-feira (19). O motivo, segundo a Secretaria de Educação de Lafaiete, seria a repercussão negativa do conteúdo do livro entre pais e familiares dos alunos.

“Diante das diversas manifestações e divergência de opiniões, procedeu à solicitação de suspensão temporária dos trabalhos realizados sobre o livro O Menino Marrom, do autor Ziraldo, a fim de melhor readequação da abordagem pedagógica, evitando assim interpretações equivocadas”, informa o texto.

Ziraldo morreu em abril, aos 91 anos. “O Menino Marrom” conta a história de uma amizade entre duas crianças, uma negra e outra branca. Publicado em 1986, o livro é usado atualmente como forma de abordar o tema da diversidade racial e o enfrentamento ao preconceito entre alunos do ensino fundamental. A prefeitura de Conselheiro Lafaiete afirmou que o exemplar “aborda de forma sensível e poética” a amizade interracial. “Os personagens, apesar de suas diferenças, desenvolvem uma amizade genuína e se divertem juntos”, disse por meio de nota.

Nas redes sociais, alguns pais foram contra a decisão. “Um absurdo! Inacreditável censurarmos um livro, principalmente uma obra de um mineiro tão consagrado”, escreveu uma. “Suspendem Ziraldo e liberam o uso de celular nas escolas. Alunos com celular nas mãos não prestam um segundo de atenção, o que dirá a uma obra dessas… Estamos perdidos!”, queixou-se outro.

“O livro fala em fazer pacto de sangue. Tem um trecho de uma velhinha atravessando a rua e duas crianças olhando e desejando a sua morte”, reclamou um pai, que chamou o livro de “satânico”.

Trechos criticados

A passagem do livro na qual um dos personagens sugere um pacto de sangue é esta: “‘Temos que fazer o pacto de sangue!’. Um deles foi até a cozinha buscar uma faca de ponta para furar os pulsos.” Entretanto, as crianças mudam de ideia, e acabam selando o acordo com tinta: “Ficaram os dois com as pontas do fura bolos cheias de tinta azul.”

O momento em que o menino marrom deseja o mal de uma senhora que recusou a ajuda dele para atravessar a rua de forma ríspida e com um tapa na mão dele também foi criticado.

 

Manifestações da prefeitura

Em entrevista à Rádio Carijós, também de Conselheiro Lafaiete, nesta quinta-feira (20), o prefeito Mário Marcus (União Brasil) indicou que a obra voltará a ser trabalhada com as crianças assim que os pais “tirem suas dúvidas” sobre o teor dela.  “A Secretaria compreende ser necessário momento de diálogo junto aos responsáveis para que não sejam estabelecidos pensamentos precipitados e depreciativos em relação às temáticas abordadas”, disse.

Conforme a Secretaria de Educação municipal, a escolha das obras literárias segue o planejamento pedagógico nacional e se baseia no desenvolvimento integral dos estudantes, “entretanto, cabendo ao momento melhor análise e reflexão sobre o uso institucional da obra em questão”, afirmou, através de nota.

(Foto: Fernando Frazão / Editora Melhoramentos / Agência Brasil – Reprodução)

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