Por Henrique Acker –Reunidos no Cairo, dezenas de líderes árabes aprovaram um plano de reconstrução e governança da Faixa de Gaza, apresentado pelo Egito. Em cinco anos, seriam investidos 53 bilhões de dólares. O controle administrativo de Gaza passaria à Autoridade Palestina.
A primeira fase do plano prevê a limpeza de 50 milhões de toneladas de entulho e a retirada das bombas não detonadas, além da montagem de moradias provisórias para mais de 1,5 milhão de pessoas.
Na segunda e terceira fases, o plano prevê a criação de zonas urbanas transitáveis, verdes e sustentáveis com energias renováveis, zonas agrícolas e zonas industriais, um aeroporto, um porto de pesca e um porto comercial.
Promessa de eleições
“O plano aprovado é uma alternativa possível, prática e realista para a proposta que sugeria um exílio forçado dos palestinianos”, defendeu Ahmed Aboul Gheit, secretário-geral da Liga Árabe, no final do encontro.
“Qualquer tentativa imoral de deslocar o povo palestino ou de anexar parte dos territórios palestinos ocupados mergulharia a região numa nova fase de conflitos, o que representa uma clara ameaça à paz” no Oriente Médio, advertiram os participantes da reunião de cúpula em seu comunicado final.
No cargo desde 2005, o presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas disse que está disposto a organizar eleições presidenciais e legislativas nos territórios palestinos em 2026, se “houver condições apropriadas”. O Hamas aceitou o plano árabe e a criação de um comitê responsável por administrar o território após o conflito.
EUA e Israel contra
Já o governo de Israel disse que o plano árabe “não aborda as realidades” e criticou a participação da Autoridade Palestina e da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA).
“Ambos demonstraram repetidamente corrupção, apoio ao terrorismo e incapacidade para resolver o problema”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores de Israel em um comunicado.
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Brian Hughes, declarou que a proposta “não aborda a realidade de que Gaza é atualmente inabitável” e que “o presidente Trump mantém sua visão de reconstruir uma Gaza livre do Hamas”, apelidado de “Riviera de Gaza”.
Europeus apresentaram declaração na ONU
O secretário-geral da ONU, António Guterres, que acompanhou a reunião no Cairo, afirmou que a Organização das Nações Unidas “apoia firmemente” o plano árabe.
Em defesa da declaração conjunta da França, Dinamarca, Grécia, Eslovênia e Reino Unido em reunião do Conselho de Segurança da ONU em 5 de março, o encarregado de negócios da diplomacia francesa nas Nações Unidas, Jay Dharmadhikari, declarou à imprensa que “o futuro plano não deve oferecer nenhum papel ao Hamas, deve garantir a segurança de Israel [e] não deve remover os palestinos de Gaza”.
O plano “deve apoiar a unidade da Cisjordânia e da Faixa de Gaza sob o mandato da Autoridade Palestina”, acrescentou.
Trump ameaça
A primeira fase da trégua entre Israel e Hamas terminou no último fim de semana e, para passar à segunda fase, que deveria levar a um cessar-fogo permanente, o ministro israelense das Relações Exteriores, Gideon Saar, exigiu a “desmilitarização total” de Gaza. O governo de Israel quer a saída do Hamas do território e a devolução dos reféns sequestrados durante o ataque de 7 de outubro de 2023.
Benjamin Netanyahu deu ordens para o bloqueio de ajuda alimentar, combustíveis e medicamentos a Gaza desde domingo (2 de fevereiro). A ideia é ignorar a segunda e a terceira etapas do acordo de cessar-fogo e pressionar o Hamas a devolver os 24 reféns ainda vivos e os cadáveres de outros 39 mortos.
Apesar de os EUA estarem negociando diretamente com o Hamas, em sua rede social, Donald Trump ameaçou o grupo palestino: “Libertem todos os reféns já”, escreveu o presidente dos EUA. “Não haverá um único membro do Hamas a salvo se não fizerem o que eu digo.”
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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