Líderes internacionais contestam vitória de Maduro; Brasil pede dados antes de se posicionar

CNE anunciou vitória do chavista com cerca de 51,2% dos votos; oposição não reconheceu resultado e fala em irregularidades

 

Vários líderes internacionais reagiram à reeleição para o terceiro mandato de Nicolás Maduro, na Venezuela, anunciada na madrugada desta segunda-feira (29) pelo Conselho Nacional Eleitoral do país. A maioria exige transparência e não reconhece imediatamente o resultado das eleições.

Representantes de EUA e de países da América e da Europa cobraram a divulgação de todas as atas de votação e a demonstração detalhada dos votos registrados pelos eleitores no domingo. O resultado anunciado pelo conselho na madrugada desta segunda-feira, com 80% das urnas apuradas, indicou a reeleição do chavista para um terceiro mandato de seis anos, com mais de 5,1 milhões de votos (cerca de 51,2%) contra 4,4 milhões (44,2%) obtidos pelo candidato opositor, Edmundo González Urrutia.

A oposição denuncia não ter tido acesso a 100% das atas de votação, e contesta o resultado final, apontando que González Urrutia é o verdadeiro vencedor. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, expressou “grave preocupação” com a possibilidade de o resultado não refletir a vontade da população e pediu uma apuração “justa e transparente”.

“Agora que a votação foi concluída, é de vital importância que cada voto seja contado de forma justa e transparente. Apelamos às autoridades eleitorais para que publiquem a contagem detalhada dos votos (atas) para garantir a transparência e a prestação de contas”, indicou.

No fim da manhã, o Brasil emitiu nota oficial, através do Itamaraty, afirmando que aguarda a publicação de “dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”. Nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trocou farpas com Maduro, que vinha aumentando o tom contra a oposição e chegou a falar em um “banho de sangue” no caso de derrota.

O presidente chileno, Gabriel Boric, afirmou que o país não vai reconhecer nenhum resultado que não seja verificável. Boric disse que os resultados anunciados pela autoridade eleitoral venezuelana são “difíceis de acreditar” e também exigiu “total transparência das atas e do processo”.

“O regime de Maduro deve entender que os resultados publicados são difíceis de acreditar. A comunidade internacional e sobretudo o povo venezuelano, incluindo os milhões de venezuelanos no exílio, exige total transparência das ações e do processo, e os observadores internacionais não se comprometem com o governo na conta da veracidade dos resultados. Desde o Chile não reconheceremos nenhum resultado que não seja verificável”, escreveu em um pronunciamento após a divulgação do resultado.

Na Argentina, o presidente de extrema-direita Javier Milei escreveu em sua conta no X (antigo Twitter) antes da divulgação dos resultados oficiais na Venezuela: “MADURO DITADOR, FORA!!! Os venezuelanos optaram por acabar com a ditadura comunista de Nicolás Maduro. Os dados anunciam uma vitória esmagadora da oposição e o mundo espera que esta reconheça a derrota depois de anos de socialismo, miséria, decadência e morte”, disse. “A Argentina não vai reconhecer outra fraude e espera que desta vez as Forças Armadas defendam a democracia e a vontade popular. A liberdade avança na América Latina”, acrescentou Milei.

O ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel Albares, pediu nesta segunda-feira à Venezuela que garanta “total transparência” na contagem dos votos depois das polémicas eleições em que o Presidente Nicolás Maduro foi reeleito. “Queremos total transparência e por isso pedimos a publicação da ata tabela por tabela”, declarou Albares em entrevista à rádio Cadena Ser.

O chanceler peruano, Javier González-Olaechea, anunciou no X que chamará o embaixador peruano na Venezuela para consulta “dados os gravíssimos anúncios oficiais das autoridades eleitorais venezuelanas”. O presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves, por sua vez, afirmou em uma mensagem no X que “repudia categoricamente a proclamação de Nicolás Maduro como presidente da República Bolivariana da Venezuela, que consideramos fraudulenta”.

Para o presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, “não se pode reconhecer uma vitória se não se confia na forma e nos mecanismos utilizados para alcançá-la”. Em uma publicação no X, acrescentou: “Era um segredo aberto. Eles iam ‘ganhar’ sem prejuízo dos resultados reais. O processo até ao dia da eleição e da contagem foi claramente falho.”

“A Venezuela merece resultados transparentes, precisos e que correspondam à vontade do seu povo”, escreveu o presidente da Guatemala, o social-democrata Bernardo Arévalo, que também disse ter recebido os resultados ‘com muitas dúvidas’. E acrescentou: “São essenciais os relatórios das missões de observação eleitoral, que hoje, mais do que nunca, devem defender o voto dos venezuelanos.”

O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, pediu nesta segunda-feira uma “contagem total dos votos, verificação e auditoria independente” para “esclarecer quaisquer dúvidas sobre os resultados”.

O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, pediu nesta segunda-feira que a Venezuela garanta “total transparência do processo eleitoral, incluindo a contagem detalhada dos votos e o acesso aos relatórios das seções eleitorais”. Na Itália, o ministro das Relações Exteriores italiano, Antonio Tajani, disse ter “muitas dúvidas sobre a condução regular das eleições na Venezuela”. Em uma publicação no X, Tajani exigiu “resultados que possam ser verificados”. Já o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido disse estar preocupado com as alegações de “irregularidades graves” e pediu “a publicação rápida e transparente dos resultados completos e detalhados”.

 

Aliados

Governos aliados ou simpáticos ao regime chavista parabenizaram Nicolás Maduro, reconhecerem o resultado divulgado pelo CNE. Entre os países que reconhecem a reeleição estão Cuba, Nicarágua e Rússia. A China, que mantém laços estreitos com Caracas, também parabenizou o chavista. “Hoje, a dignidade e a coragem do povo venezuelano triunfaram sobre as pressões e manipulações”, comemorou o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, no X.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, felicitou Maduro nesta segunda-feira: “As relações entre a Rússia e a Venezuela constituem uma parceria estratégica. Confio que o seu trabalho à frente do Estado continuará a contribuir para o seu desenvolvimento progressivo em todas as áreas”, disse Putin num telegrama enviado a Maduro, segundo um comunicado do Kremlin. “Lembre-se de que você é sempre bem-vindo em solo russo”, acrescentou.

Palavras semelhantes foram usadas por um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, afirmando que Pequim está pronto para “enriquecer a parceria estratégica” com o país latino-americano.

O presidente da Bolívia, Luis Arce, saudou que “a vontade do povo venezuelano foi respeitada nas urnas”, ao mesmo tempo que ratificou a sua “vontade de continuar fortalecendo nossos laços de amizade”. O líder de Nicarágua, Daniel Ortega, enviou um “abraço fraterno” a Maduro, enviando ao presidente “nossa homenagem e saudação, em honra, glória e por mais vitórias”.

(Foto: reprodução/Agência Brasil/Reuters)

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