Líder de oposição na Rússia morre na prisão

Henrique Acker (correspondente internacional)  –  Um dos principais porta-vozes da oposição ao regime de Vladimir Putin, o advogado e blogueiro Alexei Navalny, de 47 anos, foi dado como morto na sexta-feira, 16 de fevereiro. Ele estava detido há mais de três anos na prisão IK-3, na região ártica de Yamal-Nenets.

Os Serviços Prisionais Federais (FSIN) informaram em comunicado que Navalny se sentiu mal após uma caminhada e “perdeu a consciência quase imediatamente”. A causa da morte ainda não é conhecida, informou a mídia local.

Até a publicação desta matéria o Kremlin alegava desconhecer as causas da morte na prisão de Alexei Navalny. “Os médicos têm de esclarecer”, declarou o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, citado pela agência de notícias TASS minutos após a notícia da morte do político russo.

 

Ultranacionalista, advogado e blogueiro

Antes de ficar conhecido nacionalmente por suas denúncias, Navalny passou pelo partido liberal Yabloko e manteve ligações com o movimento dos ultranacionalistas russos, chegando a participar nas marchas contra os imigrantes e a apoiar atos de violência racista, protagonizados pela extrema-direita em Moscou.

Desde 2008 Alexei Navalny participava do cenário político na Rússia. Começou como blogueiro, denunciando o governo Putin e seu partido pelo desvio de dinheiro público em empresas estatais. Mais tarde criou a Fundação Anticorrupção.

Em 2011, foi detido e encarcerado por 15 dias após protestos contra suposta fraude eleitoral do partido Rússia Unida, de  Vladimir Putin, nas eleições parlamentares. Navalny foi autorizado a sair da prisão para fazer campanha na eleição para prefeito de Moscou em 2013, na qual foi o segundo colocado com 27% dos votos, atrás do aliado de Putin, Sergei Sobyanin.

Navalny tentou concorrer na eleição presidencial de 2018, mas foi impedido por causa de uma condenação de 2014 por fraude, num caso em que alegou ser por motivação política.

 

Denúncias de corrupção e envenenamento

Navalny atuava como advogado em casos de desvio de fundos do Estado. Em 45 dos 75 processos que ajuizou até 2011, ele conseguiu o ressarcimento de quase 40 bilhões de rublos (cerca de um bilhão de euros) ao Tesouro do Estado.

Uma das suas táticas era tornar-se acionista minoritário em grandes empresas petrolíferas, bancos e ministérios, e fazer perguntas embaraçosas sobre rombos nas finanças do Estado.

Em 20 de agosto de 2020, Navalny sentiu-se mal durante um voo, quando regressava a Moscou, proveniente de Tomsk (Sibéria). O avião fez um pouso de emergência em Omsk, na Sibéria, onde ele foi hospitalizado por suspeita de envenenamento.

Navalny foi transferido para um hospital da Alemanha em 22 de agosto, onde se constatou o envenenamento por um agente químico nervoso do grupo Novichok, confirmado pelo governo alemão no dia 2 de setembro daquele ano.

Mais tarde, publicou um vídeo em que, fingindo ser o assistente de um alto oficial de segurança russo, teria conseguido falar com um dos autores do atentado contra sua vida, Konstantin Kudryavtsev, o qual afirmou que o veneno foi colocado na sua cueca.

 

Causa da morte ainda desconhecida

De volta à Rússia, em 2021, foi detido e permaneceu preso até sua morte. De acordo com seus advogados e pessoas próximas, Navalny foi submetido a regime de carceragem solitária por diversos períodos, o que poderia ter afetado sua saúde.

Em 4 de agosto de 2023, Navalny foi condenado a mais 19 anos de prisão por acusações que incluem incitar publicamente atividades extremistas, financiar atividades extremistas e “reabilitar a ideologia nazista”.

Navalny foi visto em público pela última vez em 15 de fevereiro, numa audiência por videoconferência. Ao jornal russo Novaya Gazeta, sua mãe declarou que ele estava “saudável e feliz”, quando o visitou pela última vez, em 12 de fevereiro.

A ambulância demorou nove minutos para socorrer Navalny, informou o Hospital da Cidade de Labytnangi à agência russa de notícias Tass. As equipes médicas que o atenderam tentaram reanimá-lo por mais de 30 minutos antes de declarar sua morte. Até o fechamento desta matéria não havia laudo médico da causa do falecimento de Alexei Navalny.  (Foto/ Formoney/Reprodução)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

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