A vitória da empresa israelense Elbit Systems na licitação do Exército para a compra de 36 veículos blindados de combate obuseiros opôs o Ministério da Defesa e o PT.
Segundo publicação da CNN, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro disse não haver nenhuma motivação para que o Exército não feche o negócio, estimado em quase R$ 1 bilhão.
“É uma licitação discutida há muito tempo. Eles foram os vendedores naturais. Não há motivo para não serem eles. Qual seria o argumento para cancelar? Temos relação diplomática com Israel”, afirmou Múcio.
O vice-líder do governo na Câmara, Carlos Zarattini (PT-SP), disse que a decisão será política.
“O Exército colocou que é uma aprovação técnica e deixaram espaço para o governo tomar uma decisão mais política. Ouvindo o Ministério das Relações Exteriores e a Presidência da República. Tem dois problemas nessa compra. Israel está usando o armamento dela para atacar Gaza. E segundo que por ser uma país em guerra quem garante que vai entregar? Isso tudo em um contexto em que o governo de Israel considera o presidente Lula uma persona non grata. Não tem decisão final ainda. Vai ser uma decisão política”, declarou Zarattini
Além da empresa israelense, disputaram a licitação a chinesa Norinco, a israelense Elbit Systems, a francesa Nexter e a tcheca Excalibur.
Concorrência de R$ 1 bi
O Comando do Exército anunciou nesta segunda-feira (29) que o grupo israelense Elbit Systems venceu a licitação internacional para o fornecimento de 36 veículos blindados de combate obuseiros. O valor da compra pode chegar perto de R$ 1 bilhão.
A chinesa Norinco, a francesa Nexter e a tcheca Excalibur também estavam na lista final de concorrentes. As novas viaturas blindadas vão substituir equipamentos incorporados pela força terrestres entre a Segunda Guerra Mundial e a década de 1970.
O sistema Atmos, produzido pela Elbit e mais bem pontuado pelo Comando Logístico do Exército, já foi exportado para diversos países. Os sistemas de quinta geração são operados pelos militares da Dinamarca, integrante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e da Colômbia. Versões anteriores equipam as forças da Tailândia, de Filipinas e de Uganda, entre outros.
Há temor no Exército de que a escolha final pelo Atmos sofra com alguma influência política. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem feito duras críticas à postura de Israel na guerra contra o Hamas e teve um conflito diplomático com o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
A torcida, entre os militares brasileiros, é para que questões políticas não pesem na decisão final. Eles alegam que o sistema Atmos mostrou-se não só o melhor produto para as necessidades da força, mas também aquele que ofereceu as melhores contrapartidas (offset tecnológico).
Cada veículo deve custar em torno de US$ 5 milhões. Tendo esse valor como base, a encomenda total de 36 unidades poderá chegar a US$ 180 milhões — quase R$ 1 bilhão pela cotação atual.
Além disso, o Exército calcula uma necessidade de gastar de 15% a 20% adicionais no treinamento e capacitação de suas tropas para uso do equipamento, que tem como objetivo atualizar e reforçar seus sistemas de artilharia.
A assinatura do contrato para o fornecimento das duas primeiras viaturas, em um lote piloto, poderá ocorrer ainda em maio. Se isso ocorrer, essas unidades deverão ser entregues para testes em 2025.
Se aprovados, os demais 34 veículos serão contratados em seguida e têm cronograma de entrega escalonado até 2034. O pagamento ocorre ao longo do tempo.
Considerados armamentos pesados, pelo alto poder destrutivo, obuses são uma espécie de canhão dos tempos modernos, nos quais projéteis explosivos são disparados dentro de um tubo que dá direcionamento até o alvo. Eles podem ser usados individualmente (rebocados), mas tornou-se mais comum instalá-los em veículos blindados (autopropulsados).
A nova linha de obuseiros será sobre chassis de veículos, diferentemente dos sistemas rebocados, e justamente por isso permite maior articulação com forças mecanizadas. Com essa renovação, o Exército vai ganhar mais mobilidade e alcance.
Os sistemas que estão sendo comprados pelo Brasil vão chegar no chamado “padrão Otan”, com projéteis de 155 mm e maior poder de fogo.
Segundo relatos feitos à CNN por fontes militares, os obuseiros atuais do Exército demoram até 15 minutos para dar o primeiro tiro e levam oito minutos para disparar dez tiros. Nos novos sistemas, são cinco minutos para o primeiro tiro e até seis disparos por minuto.
O menor preço não é o único critério da aquisição — nem necessariamente o principal. Como costuma ocorrer em projetos na área de defesa, o Exército exige “offset” tecnológico, que envolve obrigações como transferência de tecnologia ou uso de conteúdo local para o futuro grupo fornecedor do equipamento.
No caso dos obuseiros, o offset deverá se concentrar na nacionalização da capacidade fabril de munições, preferencialmente em associação com uma empresa brasileira (a Imbel é favorita para isso), segundo fontes ouvidas pela CNN. Hoje, as munições para esse tipo de equipamento não são produzidas no Brasil.
Além disso, o offset envolve garantia de suporte logístico para todo o sistema, com garantia de peças fabricadas no país. Abrange, ainda, o desenvolvimento de um sistema de simulador para treinamento das tripulações com baixo custo. (Foto: Reprodução/Elbit Systems)