Licença para matar: Israel ataca forças de paz da ONU no Líbano

 

Henrique Acker (correspondente internacional) – Um ano depois de invadir com tropas a Faixa de Gaza, o Estado de Israel, comandado por políticos sionistas de extrema-direita, ataca bases da ONU no sul do Líbano. De acordo com as Nações Unidas, as três incursões contra suas instalações registradas até agora foram ações deliberadas.

O primeiro-ministro de Israel deu um ultimato à ONU. Benjamin Netanyahu quer que as forças de paz da ONU abandonem suas posições no sul do Líbano. Segundo ele, soldados da ONU estariam sendo usados como “escudos humanos” para as ações do Hezbollah na região.

Durante um ano de operações militares em Gaza, as tropas de Israel mataram 222 funcionários da Agência da ONU para proteção dos palestinos (UNRWA), todos devidamente identificados e uniformizados. Escolas e hospitais montados com apoio e financiamento da ONU também foram bombardeados.

 

ONU vira alvo

Em 10 de outubro, dois soldados da Unifil foram feridos após disparos de tropas israelenses contra três posições da operação de paz no sul do país. Um dia depois, dois soldados da Força de Paz da ONU ficaram feridos em explosões perto de uma torre de vigia em Naqoura, bombardeada por Israel.

No dia seguinte, outros dois soldados de paz ficaram feridos em explosões na mesma base.

No dia 13 de outubro, dois tanques de guerra israelenses destruíram a entrada principal e invadiram as instalações de Naqoura. Quinze capacetes-azuis ficaram intoxicados com a fumaça de dispersão lançada por tropas de Israel.

Autoridades da Unifil se recusam a retirar tropas da região. O porta-voz do organismo, Andrea Tenenti, afirmou à agência de notícias AFP que houve uma “decisão unânime de permanecer porque é importante que a bandeira da ONU continue hasteada nesta região”.

 

Crime de guerra

“Ataques contra as forças de paz violam o direito internacional… podem constituir um crime de guerra”, alertou o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.

A ONU mantém dez mil soldados da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) no sul do Líbano para o cumprimento da resolução 1701, adotada por unanimidade em 2006.

O objetivo da resolução 1701 é assegurar o fim da violência entre o Hezbollah e Israel. Por meio dela, o Conselho de Segurança apelou por um cessar-fogo permanente baseado na criação de uma “zona tampão”.

 

Guterres impedido de entrar em Israel

Condenado na ONU em diversas ocasiões por ações abusivas contra os direitos do povo palestino, o Estado de Israel decidiu abrir uma campanha de desmoralização das Nações Unidas. A começar pela tentativa de impedir o fornecimento de ajuda humanitária (alimentos, água potável e roupas) à população de Gaza.

A UNRWA informou que desde 1 de outubro não entra qualquer carga de ajuda humanitária em Gaza e alerta para uma crise sem precedentes.

As falas da representação israelense nas Nações Unidas desde 7 de outubro de 2023 acusam os organismos da própria ONU que operam em Gaza de serem coniventes com “terroristas”. Recentemente, o Estado de Israel considerou “persona non grata” o secretário-geral, António Guterres, impedido de entrar em território israelense.

 

Desrespeito permanente

Apesar dos ataques que vem promovendo a organismos das Nações Unidas, até aqui as críticas dos estados-membros da ONU a Israel têm sido tímidas.

Desde 2004, Israel já descumpriu seis resoluções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU para conflitos em Gaza e Cisjordânia. Entre eles, o cessar-fogo, o respeito a pausas humanitárias no conflito armado e a criação de corredores para circulação da população de Gaza. A esses se somam a proibição de demolição de casas e a construção de colônias judaicas em territórios palestinos.

Segundo Philippe Lazzarini, comissário-geral da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos (Unrwa), a  população de Gaza está agora presa e amontoada em apenas 10% do território que costumava ocupar antes do conflito. (Foto: Torre de observação dos capacetes azuis das Nações Unidas na fronteira entre Israel e o Líbano em 2023 – crédito: Thaier Al-Sudani/Reuters)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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