França sacudida por manifestações contra a violência policial
Henrique Acker (correspondente internacional) – Duas noites de manifestações violentas e confrontos com a polícia marcaram a região de Nanterre, próximo do centro de Paris, depois do assassinato do jovem Nahel, entregador de pizzas de origem argelina, de 17 anos, que desobedeceu à ordem de sair do carro que dirigia dada por um policial.
No ano passado, outras três pessoas foram vítimas das chamadas operações stop, nas quais os policiais estão autorizados a disparar contra motoristas que se neguem a obedecer suas ordens.
O agente responsável pelo disparo foi detido e alegou numa primeira audiência que agiu “em legítima defesa”. A polícia denunciou, também, uma tentativa de atropelamento e fuga, embora as imagens de um vídeo tenham desmentido esta versão.
A morte do rapaz, que recebeu um tiro à queima-roupa no peito, foi filmada e exibida nas redes sociais, o que provocou a revolta de jovens e moradores da região. Antes do disparo, ouve-se: “Vou colocar uma bala na tua cabeça”. Um colega parece incitá-lo: “Atira nele”.
Reação popular nas ruas
Como resultado, dezenas de carros foram virados e incendiados nas noites de terça e quarta-feira, vários vagões de trens urbanos e do metrô foram depredados, vidraças de comércios quebrados por manifestantes, que enfrentaram a reação policial nos arredores de Paris. Cerca de 150 pessoas foram detidas pela polícia.
O caso teve tamanha repercussão que o presidente Emmanuel Macron convocou reunião de uma unidade de crise interministerial para tratar do assunto. Macron condenou o fato, dizendo que a morte do rapaz é “inexplicável e indesculpável”. Os policiais diretamente envolvidos na abordagem de Nahel estão indiciados e podem ser julgados por homicídio.
No entanto, o ministro do Interior reagiu às manifestações populares como “Uma noite de violência intolerável contra os símbolos da República: câmaras municipais, escolas e esquadras de polícia incendiadas ou atacadas”, escreveu na manhã desta quinta-feira (29) Gérald Darmanin, na sua conta na rede social Twitter.
https://twitter.com/i/status/1673608693265453056
Polarização na sociedade francesa
Além de provocar comoção e manifestações, a morte do rapaz teve repercussões políticas. Uma das porta-vozes da extrema-direita, Marine Le-Pen, acusou o presidente de irresponsável e disse esperar outra atitude de Emmanuel Macron. Já Éric Zemmour escreveu que o presidente francês “escolheu a sua França” e alega que a morte de Nahel é “um pretexto para a esquerda atacar politicamente a polícia”.
No campo da esquerda, o grupo parlamentar França Insubmissa – NUPES defendeu em comunicado “a suspensão imediata do autor do tiroteio e dos policiais que mentiram para encobrir o seu ato”, “sanções administrativas e judiciais exemplares”, “a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito sobre as desobediências”, “a anulação da alteração do artigo 435-1 do Código de Segurança Interna”, bem como “a dissolução da polícia sindical francesa que tomou uma posição oficial para saudar este ato indizível”.
O movimento de Jean-Luc Mélenchon quer “uma reforma profunda do funcionamento da polícia nacional, que deve ser uma polícia republicana melhor treinada, livre de arbitrariedades e racismo, dotada de um órgão de controle independente”. (Foto: Foto Bertrand Guay/AFP)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)