Justiça da Espanha condena ‘torcedores’ do Valencia à prisão por insultos racistas contra Vini Jr

Os três torcedores foram sentenciados a oito meses de reclusão e terá de ficar dois anos sem entrar em estádios de futebol

 

A Justiça da Espanha condenou três torcedores do Valencia a oito meses de prisão cada um por proferir insultos racistas ao brasileiro Vini Jr., do Real Madrid, em maio do ano passado, no estádio Mestalla. A decisão foi anunciada na manhã desta segunda-feira (10), e é o primeiro caso de condenação desse tipo no país da península Ibérica. As informações são do jornal espanhol Diario As.

Os três torcedores foram considerados culpados de crime contra a integridade moral com circunstâncias agravantes de discriminação por motivo racial, e a pena total foi de 12 meses. No entanto, houve redução para oito por causa da detenção durante a fase de investigação, que foi incluída nesse processo. Além da prisão, os condenados estão proibidos de entrar em estádios de futebol onde se realizam jogos do Campeonato Espanhol ou da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) por dois anos. Inicialmente, a previsão era de que essa punição fosse de três anos.

Vini Jr denunciou ter sido alvo de insultos racistas durante partida do Real Madrid contra o Valencia em 21 de maio do ano passado. O jogo chegou a ser interrompido. Após uma denúncia de La Liga, a liga espanhola de futebol, os torcedores foram identificados com a ajuda das imagens de câmeras de segurança do estádio.

Antes de serem condenados, segundo o jornal Marca, os acusados leram uma carta em que pediam desculpas a Vini Jr, à liga espanhola e ao Real Madrid. A defesa do trio não informou, até o momento, se vai recorrer da sentença. “Esta sentença é uma ótima notícia para a luta contra o racismo na Espanha, pois repara os danos sofridos por Vinicius Jr. e envia uma mensagem clara para aquelas pessoas que vão a um estádio de futebol para insultar que a Liga irá detectar, denunciar, e haverá consequências penais para eles”, afirmou o presidente de La Liga, Javier Tebas, em declarações reproduzidas pelo Marca.

O reencontro do atacante com os torcedores do Valencia aconteceu no fim de março, em partida válida pelo Campeonato Espanhol, nove meses após o episódio de racismo. A chegada do ônibus do Real Madrid, time pelo qual atua o jogador brasileiro, à arena foi tranquila, conforme informa a imprensa espanhola. No entanto, do lado de fora, imagens de cartazes com o rosto do atleta comparado ao Pinóquio foram compartilhados nas redes sociais.

Nove meses antes, ele foi chamado de “mono” (macaco, em espanhol) no mesmo estádio. O jogador passou a ser tratado como “mentiroso” por parte da torcida do Valencia devido ao episódio, sob o argumento de que aquele teria sido um ato isolado, pelo qual os racistas já foram identificados. Uma torcida organizada do Valencia chegou a criar uma música no ritmo da canção infantil “Pinóquio”.

E esse mesmo personagem — com o qual Vini foi comparado pelos valacentistas — foi o que ilustrou cartazes no entorno de Mestalla, em março. Torcedores se reuniram e fizeram um protesto contra o presidente do Valencia, Peter Lim, e circulou nas redes sociais a imagem de um dos cartazes com o rosto do jogador (e um nariz crescendo). “Pinóchius (junção de Pinocho com Vinicius), eu não ligo”, dizia a frase estampada na peça.

O perfil no Twitter da “Associação de acionistas do Valencia CF pela sua liberdade e democratização” compartilhou, a meia hora do início do jogo, que a segurança considerou a placa “inadequada” e a removeu, em gesto que classificaram como uma “censura”.

Segundo o Diário As, em uma decisão acertada com o Valencia e as autoridades competentes, o Real Madrid optou por entrar no estádio de maneira a evitar algum transtorno quando Vini desembarcasse do ônibus. Por isso, o coletivo entrou por uma rua que não é a que habitualmente os times visitantes usam e, por isso, tiveram uma chegada tranquila. E “escondida”.

Já dentro do estádio Mestalla, o que se viu foi uma mensagem divulgada pelos telões da arena, que dizia “O Valencia contra a discriminação”. Apesar disso, Vini Jr. foi alvo de vaias desde o aquecimento da partida. Já com a bola rolando, a torcida cantou “Qué tonto eres, Vinicius” (“Que idiota és, Vinicius”, em português), a cada vez que o jogador se apresentava. A tradução também pode ser para “burro” ou “bobo”.

(Foto:  Getty Images)

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