Jovens de baixa renda têm mais dificuldade para estudar e trabalhar

Cerca de 15% dos jovens de 15 a 29 anos, que correspondem a 7,6 milhões de pessoas, não frequentavam escola formal, não trabalhavam e não estavam procurando trabalho em 2021.

Esse dado alarmante foi encontrado no Boletim Emprego em Pauta, formulado pelo Dieese, e destacado suas revelações mais importante, aqui no Brazil Plural.

O estudo lembra que a retomada das atividades econômicas, principalmente a partir do segundo semestre de 2021, no setor de serviços, tem promovido o crescimento dos postos de trabalho no Brasil, ainda que em condições precárias, sobretudo quando se leva em conta o rendimento.

A inserção dos jovens no mercado de trabalho também cresce, acompanhando esse movimento e dentro dessas mesmas condições.

Contudo, parcela considerável da juventude continua fora do mercado de trabalho e sem frequentar a escola, grupo popularmente conhecido como “nem-nem” (nem estuda nem trabalha). Como já analisado em outras edições do Emprego em Pauta, além dos jovens que não estudam e não trabalham, há aqueles que procuram trabalho.

Essa ressalva evidencia que o termo “nem-nem” é inapropriado e insuficiente para analisar a situação desse grupo de pessoas.

No Boletim do Dieese, é analisada a situação desses jovens que não trabalhavam, não estavam buscando trabalho e não frequentavam a escola, a partir dos dados da Pnad Contínua 2021, do IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), segundo as classes de rendimento domiciliar, o que permitiu considerar todos os rendimentos das famílias, como os benefícios assistenciais, previdenciários e o rendimento do trabalho.

 

Maioria dos jovens estudava e/ou já estava no mercado de trabalho

 

Ao longo da faixa de 15 a 29 anos de idade, a situação dos jovens muda significativamente na transição escola/mercado de trabalho.

Entre aqueles de 15 a 18 anos, a maior parte frequenta a escola de ensino regular, principalmente o ensino médio.

Depois, a situação predominante é a participação no mercado de trabalho, com uma ocupação efetiva ou à procura de uma. Jovens que não estudavam e não frequentavam a escola eram cerca de 12,7 milhões de pessoas (26% do total).

Desses, parcela relevante estava em busca de trabalho (5,1 milhões, ou 10% do total). Segundo os dados de 2021, principalmente a partir dos 18 anos de idade, proporção relativamente estável de jovens não frequentava a escola, não estava trabalhando e não procurava trabalho.

Na faixa de 15 a 29 anos, havia cerca de 7,6 milhões de jovens nessa condição (15% do total de jovens).

 

Dificuldade de inserção no mercado de trabalho

Nas famílias de baixa renda, aquelas cujo rendimento domiciliar per capitaera de no máximo 0,5 salário mínimo, a proporção de jovens que conseguia conciliar a frequência à escola com o trabalho era bem pequena em 2021. Também era relativamente baixa a proporção daqueles que só trabalhavam ou estavam procurando trabalho, na comparação com a média total e os jovens de famílias de renda mais alta, como será visto em seguida.

Considerando todos os jovens de baixa renda (cerca de 19,9 milhões), aproximadamente 24% (4,8 milhões) não frequentavam a escola, não trabalhavam e não estavam em busca de trabalho, sobretudo a partir dos 20 anos de idade. Essa proporção era praticamente a mesma daqueles que não frequentavam a escola, mas estavam trabalhando (23%). Destaca-se ainda o percentual de baixa renda que, embora não estivesse frequentando escola nem trabalhando, procurava trabalho (16%).

Por outro lado, os jovens de famílias de alta renda encontravam menos dificuldade de inserção no mercado de trabalho. A maioria trabalhava em 2021 e parcela ínfima buscava trabalho. Vale notar que parte relevante (cerca de 23%) conseguia frequentar a escola e trabalhar ou realizar estágio de ensino superior.

Já o percentual de jovens de alta renda que não frequentava escola, não trabalhava e não buscava trabalho era bem pequena, exceto entre aqueles com 18 ou 19 anos de idade. Os dados sugerem que essa parcela não estava frequentando ensino regular, que é a categoria pesquisada pelo IBGE, mas outros cursos, como os pré-vestibulares.

Assim, ao contrário da juventude de baixa renda, que tem uma parcela relativamente estável, em termos percentuais, sem frequentar escola ou se inserir no mercado de trabalho a partir dos 20 anos de idade, entre os jovens de alta renda, boa parte consegue cursar o ensino superior e, simultaneamente, realizar estágios para o desenvolvimento profissional em ambiente de trabalho.

Em relação aos jovens que não frequentavam escola nem tinham trabalho e também não buscavam ocupação, os principais motivos alegados para a não procura eram a necessidade de cuidar dos afazeres domésticos, do(s) filho(s) ou de outro(s) parente(s)(36%); problemas de saúde ou gravidez(14%); e o fato de estarem estudando(12%).

No entanto, novamente, a diferença era bastante elevada a depender da renda. Entre os jovens de baixa renda, 40% afirmaram ter necessidade de cuidar dos afazeres domésticos, do(s) filho(s) ou de outro(s) parente(s). Vale destacar que essa tarefa, em geral, é realizada principalmente pelas mulheres, o que confere à questão não só recorte socioeconômico, mas também de gênero. Entre os jovens de alta renda, a principal resposta foi estarem estudando(55%), no caso, outros cursos e não ensino regular.

Como ficou claro, há enorme disparidade nas situações da juventude que não frequenta escola, não trabalha e não busca trabalho, quando se leva em conta a renda familiar. Enquanto os mais ricos se preparavam para ingressar no ensino superior, em momento etário bem específico, entre os mais pobres, uma proporção menor tinha essa perspectiva, com um grupo relevante, formado principalmente por mulheres, obrigado a cuidar dos afazeres domésticos e de pessoas da família.

Ampliar as redes públicas de creches e de cuidados de pessoas, oferecer bolsas de estudo, aprimorar os serviços de intermediação e qualificação de mão de obra são Ampliar as redes públicas de creches e de cuidados de pessoas, oferecer bolsas de estudo, aprimorar os serviços de intermediação e qualificação de mão de obra são algumas políticas que poderiam contribuir para mudar essa situação do jovem de baixa renda. (Foto: Espro/Divulgação)

 

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