“É quase uma covardia não dar apoio total a ele”, avalia o ex-ministro ainda saiu em defesa do ministro da Fazenda
Um dos principais nomes do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da história do Partido dos Trabalhadores (PT), José Dirceu criticou a postura da presidente da sigla, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), em relação às decisões tomadas por Fernando Haddad à frente do Ministério da Fazenda. “Discutir, debater dentro da bancada, dentro do ministério, dentro do partido e com o governo, tudo bem. Mas quando o governo apresenta uma política, nosso papel é apoiar. No caso do Haddad, é quase uma covardia nós não darmos apoio total a ele para todas as medidas que ele queria, porque transformam o déficit zero em um mal menor”, disse em entrevista ao podcast Pod13, do PT da Bahia.
Desde o início do terceiro governo de Lula, a presidente do PT questionou diversas medidas anunciadas e apoiadas pelo ministro da Fazenda. Em um episódio mais recente, em dezembro, os dois discordaram sobre a necessidade de déficit fiscal para o crescimento econômico. Na ocasião, Gleisi divergiu de Haddad e criticou a meta de déficit zero, uma das principais bandeiras do ministro. Já o petista afirmou que não há uma relação direta entre o déficit e o crescimento do PIB.
Ex-ministro-chefe da Casa Civil entre 2003 e 2005 e fundador do PT, Dirceu também falou sobre a “disputa político-cultural” no Brasil e afirmou que a direita está ganhando espaço nesse cenário. Ele defendeu uma “atualização política, teórica e de organização” no PT. “Nesses anos, houve uma mudança social e cultural enorme por causa do neopentecostal, do fundamentalismo religioso, por causa da força dos partidos de direita. E nós recuamos, a esquerda como um todo”, completou.
Segundo Dirceu, não apenas o PL de Jair Bolsonaro, mas também partidos como PP, Republicanos, União Brasil e PSD estão fortalecendo suas posições, construindo novos diretórios pelo país. O ex-ministro destacou a importância de uma reflexão profunda no PT, que está programando um congresso em 2025, para repensar sua estratégia diante desse panorama. “Se nós analisarmos a situação da direita, não é só parlamentar e eleitoral, também diretório, territórios e militância, PP, PR, PL, PSD, União Brasil, eles estão ficando fortes (…) Hoje, o Brasil está muito politizado, e em disputa político-cultural. E a direita está ganhando”.
Durante a entrevista, Dirceu ecoou autocríticas recentes feitas por Lula sobre a estrutura do partido. Ele ressaltou que, dada a base eleitoral e social do PT, o partido poderia ser “10 vezes maior”. Dirceu apontou para a necessidade de uma atuação mais efetiva na disputa político-cultural e nos territórios, reconhecendo que nos últimos anos o partido recuou diante das mudanças sociais e culturais, incluindo o avanço do fundamentalismo religioso. O ex-ministro reforçou as críticas feitas por Lula durante a Conferência Eleitoral do PT em dezembro de 2023, questionando a eficácia política do partido, que elegeu apenas 70 deputados.
Dirceu também apontou para a necessidade de reconstrução do partido, afirmando que o PT pode ampliar seu número de vereadores em 2024, aproveitando a popularidade de Lula em diversos municípios brasileiros. “Acho que podemos ampliar muito o número de vereadores. Lula tem 60% de voto em mais de 2 mil municípios brasileiros. Tem que eleger vereador nesses municípios, nem que seja um, dois. Temos que disputar onde temos chances de vencer em cidades médias e grandes. E temos que nos apoiar nos aliados em que podem vencer. Nosso governo não é só do PT”. Ele enfatizou a importância de parcerias políticas, mencionando MDB e PSD como relevantes aliados do novo governo Lula, apesar das diferenças em questões econômicas. “Sempre digo: o PSD, o MDB e o PT (juntos) são 160 deputados e quase 40 senadores. Isso não quer dizer que vamos ter unidade em questões econômicas”.
(Foto: FolhaPress)