Jornalismo esportivo joga luz sobre os negócios de John Textor (*)

Henrique Acker (correspondente internacional)  – Finalmente alguém na imprensa brasileira decidiu desvendar os mistérios que envolvem John Textor, dono da SAF Botafogo, arrematada por minguados R$ 400 milhões (cerca de 80 milhões de dólares) em 2022. A série de reportagens de Lúcio de Castro foi publicada pelo portal ICL Notícias (I).

Pelo que descreve Castro, utilizando-se apenas da apuração minuciosa dos fatos como regra básica do jornalismo, o dono da SAF seria uma espécie de especialista em vender ilusões. O modus operandi: captar recursos privados e até dinheiro público através de empresas, acumulando dívidas, para finalmente deixar o negócio quebrar e os investidores na mão.

Segundo a apuração do jornalista, as transações envolveriam magnatas russos e suíços, dos quais Textor seria sócio e serviria de testa-de-ferro. A se confirmarem as informações contidas nas reportagens, isso estaria previsto no Artigo 171 do Código Penal brasileiro, que enquadra o crime de estelionato.

 

“Americano é tão bonzinho…”(II)

Em nota de contestação ao material publicado por Lúcio de Castro, Textor expõe sua meta: “Estou aqui para fazer o futebol brasileiro ocupar a posição que merece: entre os melhores do mundo”.

Textor chegou a afirmar este ano que alguns jogadores da SAF Botafogo se envolveram no esquema de fabricação de resultados em 2023, quando o clube deixou escapar o título brasileiro. Acusou também atletas de outros clubes. Até agora nada provou.

A partir de suas denúncias, foi criada uma CPI no Senado. O empresário estadunidense disse que tinha provas da manipulação de resultados de jogos no futebol brasileiro. E o que apresentou? Um estudo produzido por uma empresa de Inteligência Artificial, que também nada prova.

 

Perguntas sem respostas

O que Textor não explica é porque a dívida do Botafogo – parte da transação de compra do clube em 2022 – continua beirando R$ 1 bilhão, a maior do futebol brasileiro. E muito menos porque tomou empréstimo em nome da SAF Botafogo e ficou com parte do valor emprestado em seu nome, como consta do balanço de 2023.

O que dizer das contratações milionárias de Luis Henrique e Almada? Até quando a SAF Botafogo vai ter condições de sustentar gastos dessa monta? O que justifica a operação de empréstimo (depois venda) de Jeffinho ao Lyon? E as transações dos jogadores Adryelson e Lucas Perri por valores considerados abaixo de mercado para o mesmo Lyon, clube da Eagle Holding?

Coincidência ou não, depois da experiência amarga com o senhor André Mazzuco, a SAF contratou Pedro Martins para ocupar a função de Diretor de Futebol, que traz na bagagem passagens recentes pelo Cruzeiro e o Vasco, dois clubes que adotaram o modelo SAF com resultados medíocres.

 

Sugestões de pautas

Em vez de idolatrar o investidor, alguns youtubers botafoguenses poderiam convidar torcedores do Lyon, Crystal Palace e do Molenbeek para uma live acerca do que se passa em seus respectivos clubes. Seria algo muito mais produtivo para entender o que é, como funciona e os resultados da Eagle Holding.

Por sua vez, caberia aos detentores dos 10% que restam das ações da SAF pedir ao investidor esclarecimentos acerca do que foi publicado. É o mínimo que gente comprometida com um clube de tanta tradição e torcida poderia fazer. No entanto, em vez de cumprir o papel de fiscalizar a SAF, parece que a direção do clube social rola macio para os negócios de Textor.

Recentemente a direção do clube social Botafogo, em acordo com a Prefeitura, entregou a concessão do Estádio Nilton Santos para a SAF. Ou seja, até a gestão de patrimônio público sob responsabilidade do clube foi repassada para a Eagle Holding. Afinal, qual o papel do senhor Durcésio e companhia? Talvez essa seja uma boa pauta para os colegas do jornalismo esportivo. (Foto: Reprodução/Twitter/@Botafogo)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fontes:

(I) Série de reportagens sobre os negócios de J. Textor

1 – ICL Notícias

2 – ICL Notícias

3 – ICL Notícias 

4 – ICL Notícias

 

(II) Bordão de uma personagem de um antigo programa cômico da TV Globo

InfoMoney

GE- Negócios do Esporte

GE – Botafogo

GE- Botafogo

JusBrasil

InfoMoney

Extra – Esporte

UOL – Botafogo

 

(*) O autor da matéria também é alvinegro

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