Em apenas três dias de atividades da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, o Papa mandou recados claros de que a Igreja seguirá fortemente ligada às questões sociais e econômicas durante seu pontificado.
No seu primeiro pronunciamento, assim que desembarcou em Lisboa, Francisco pediu uma Europa mais justa, com paz na Ucrânia, respeito aos imigrantes, preservação do meio-ambiente e um futuro melhor para os jovens.
“Estaleiros de obras da humanidade”
O Papa propôs que o velho continente trabalhe pela paz entre os povos, referindo-se claramente à guerra na Ucrânia, a preservação do meio-ambiente, o futuro e a esperança, no que chamou de “três estaleiros de obras da humanidade”.
“O mundo tem necessidade da Europa verdadeira: precisa do seu papel de construtora de pontes e de pacificadora no Leste europeu, no Mediterrâneo, na África e no Médio Oriente”, alertou Francisco.
Francisco advertiu sobre as ameaças ao meio-ambiente: “Os oceanos aquecem e, das suas profundezas, sobe à superfície a torpeza com que poluímos a nossa casa comum. Estamos a transformar as grandes reservas de vida em lixeiras de plástico.”
Sobre a esperança, encarnada na juventude, o Papa pediu uma reflexão: “Como podemos dizer que acreditamos nos jovens, se não lhes dermos um espaço sadio para construir o seu futuro?”
Francisco pediu coragem aos jovens
Ao visitar a Universidade Católica de Lisboa, na manhã de três de agosto, o Papa pediu uma atitude corajosa dos estudantes e lembrou Fernando Pessoa, ao citar o verso “ser descontente é ser homem» (Mensagem, O Quinto Império). Por isso – prosseguiu – sede protagonistas duma «nova coreografia», que coloque no centro a pessoa humana.
Francisco alertou aos mais de seis mil jovens presentes sobre o papel da Universidade. “Seria um desperdício pensá-la apenas para perpetuar o atual sistema elitista e desigual do mundo com o ensino superior que continua a ser um privilégio de poucos.”
O Papa pediu aos jovens uma atitude que questione modelos e fez questão de destacar a importância da mulher na sociedade. “Uma vida sem crise é como água destilada: não tem gosto de nada”, alertou.
Citando uma entrevista da poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, o Papa chamou os presentes a uma reflexão: “Que quereis ver realizado em Portugal e no mundo? Quais mudanças, quais transformações? E como pode a universidade, especialmente a Católica, contribuir para isso?”
Uma Igreja para todos
Na cerimônia de Acolhimento dos participantes da Jornada Mundial da Juventude, realizada no Parque Eduardo VII, e assistida por cerca de 500 mil pessoas, Francisco deixou um recado claro de como entende o papel da Igreja Católica.
Em sua breve homilia, o Papa sentenciou que a Igreja é para todos. “O senhor não aponta o dedo, abre os braços. O senhor não fecha a porta, mas convida a entrar”, frisou Francisco. “Deus nos ama como somos, não como a sociedade gostaria que fôssemos”, concluiu o pontífice.
Tolerância zero com abusos sexuais na Igreja
Francisco também recebeu uma delegação de 13 pessoas que foram abusadas sexualmente por membros da Igreja Católica portuguesa, prática que atingiu cerca de 4.800 crianças nas últimas décadas. O Papa segue em sua cruzada pela extirpação de abusadores no ambiente da Igreja e por justiça para as vítimas.
Apesar disso, a Câmara Municipal de Oeiras mandou retirar uma placa publicitária que denunciava a prática do abuso sexual no ambiente da Igreja Católica. O material foi financiado por doações recebidas por organizações de pessoas abusadas.
Na sexta-feira a placa foi recolocada no lugar, por conta das inúmeras denúncias e questionamentos, que acabaram tomando parte do noticiário da imprensa.
Diálogo inter-religioso
Na manhã de sexta-feira, quatro de agosto, o Papa dirigiu-se à Serafina, um dos bairros mais pobres da capital portuguesa. Lá recebeu o carinho dos moradores e visitou um centro social que desenvolve trabalhos de apoio à população carente.
No mesmo dia reuniu-se com dezenas de representantes de mais de dez religiões com forte presença em Portugal. Foi um recado evidente de que é preciso estimular o diálogo inter-religioso, num Mundo em que a religião tem sido usada para marcar diferenças e estimular conflitos entre os povos.
Mais tarde almoçou com dez representantes das centenas de milhares de peregrinos de todo o Mundo, que foram a Lisboa para a Jornada Mundial da Juventude. Entre os presentes, representantes da Palestina e da Colômbia, regiões muito afetadas pela violência e a opressão à juventude. (Foto: Rede Globo)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)