‘Jordy orientava e ordenava movimentações antidemocráticas’, diz PGR

Órgão afirmou que bolsonarista agia pelas redes sociais e também ‘agitando militância’

 

A operação que desencadeou mandados de busca e apreensão contra o deputado bolsonarista Carlos Jordy (PL-RJ) se baseou em indícios de que o parlamentar orientava e ordenava movimentações antidemocráticas. É isso o que sustenta a Procuradoria-Geral da República no pedido feito ao Supremo Tribunal Federal (STF).  De acordo com a PGR, isso acontecia tanto por meio das redes sociais quanto “agitando a militância” da sua região.

Em declaração dada na chegada à sede da Superintendência Regional da Polícia Federal do Rio de Janeiro, onde presta depoimento, o parlamentar negou que tenha feito incitações que resultaram nos atos golpistas de 8 de janeiro do ano passado. Jordy foi alvo de buscas em sua casa e seu gabinete em Brasília nesta quinta-feira (18). Ele não foi alvo de prisão e foi à Polícia Federal no Rio de Janeiro prestar depoimento no final da manhã.

A avaliação de que Jordy tinha influência na organização dos atos antidemocráticos consta em manifestação que baseou a 24ª fase da Operação Lesa Pátria, realizada nesta quinta-feira. A pela foi escrita pelo subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos, que até o fim do ano passado comandava as investigações sobre o 8 de janeiro na PGR.

“O parlamentar, além de orientar grupo expressivo de pessoas, tinha o poder de ordenar as movimentações antidemocráticas, seja pelas redes sociais ou agitando a militância da região”, escreveu Santos.

Na manifestação, a PGR concordou que Jordy e outros investigados fossem alvos de mandados de busca e apreensão, além de terem seus sigilos telefônicos e telemáticos quebrados. De acordo com a PGR, Jordy tem “fortes ligações” com Carlos Victor de Carvalho, o CVC, descrito como “forte liderança nos grupos de extrema direita em Campos dos Goytacazes”, além de “organizador dos eventos nos arredores do Batalhão do Exército na cidade”.

Foi encontrada uma conversa entre os dois com 627 registros, incluindo mensagens de texto e de áudios, anexo e ligações. Entre novembro de 2022 e janeiro de 2023, são 22 registros. No dia 1º de novembro, quando ocorriam paralisações em rodovias e estavam começando acampamento em frente a quarteis do Exército, Carvalho enviou mensagem chamando Jordy de “líder” e questionando qual o “direcionamento” ele poderia dar. O deputado responde perguntado se ele poderia falar, indicando que os dois continuaram a conversa pelo telefone.

Para a PGR, o diálogo “levanta fortes suspeitas da participação de Carlos Jordy nos atos que ocorreram” e sugere que o vínculo entre “ambos extrapola eventuais fins políticos partidários, demonstrando intenção de ordenar a prática de crimes contra o Estado de Direito”. Carvalho teve a prisão decretada em janeiro, devido às investigações sobre os atos golpistas do 8 de janeiro, mas passou dois dias foragido. Nesse período, Jordy fez contato com ele, o que para Santos reforçaria os “indícios de fortes vínculos” entre os dois. Depois, Carvalho chegou a ser preso, mas foi solto no mês seguinte.

 

“Estamos vivendo uma ditadura”, alegou o deputado

Pelas redes sociais, Jordy classificou o mandado judicial como uma “medida autoritária”. “Isso é a verdadeira constatação de que estamos vivendo em uma ditadura. Em momento algum no 8 de janeiro, eu incitei, falei para as pessoas que aquilo era correto, estive nos quartéis-generais quando estavam acontecendo todos aqueles acampamentos. Pelo contrário. Nunca apoiei nenhum tipo de ato, anterior ou depois do 8 de janeiro. Embora as pessoas tivessem todo o direito de fazer suas manifestações contra o governo eleito. Então é totalmente arbitrário. Não há nenhuma postagem minha, nada que possa ser colocado contra mim ou justifique essa medida autoritária de busca e apreensão”, disse em vídeo publicado.

Jordy disse ainda que ele foi acordado de forma agressiva, com o “fuzil no rosto”, por agentes da corporação que cumpriam mandado da Operação Lesa Pátria. O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, desmentiu as alegações do deputado bolsonarista: “Óbvio que é mentira. Entrada padrão para o caso, a porta foi aberta por morador”. O delegado afirmou ainda que não houve necessidade de uso da força para entrar na casa do parlamentar no Rio de Janeiro.

(Foto: Fabio Rossi/Agência O Globo)

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