Israel arrasa principal hospital de Gaza

Henrique Acker (correspondente internacional)     –   Um monte de escombros. Foi o que sobrou das instalações do complexo médico-hospitalar de Al-Shifa, a oeste da Cidade de Gaza, depois da retirada das tropas de Israel. O resultado de duas semanas de ocupação foi a desativação do hospital, o mais importante do território palestino.

A Agência de Notícias Palestina Wafa colheu declarações de testemunhas. Várias delas revelaram que as forças de ocupação queimaram todos os edifícios do Hospital Al-Shifa e o colocaram completamente fora de serviço.

Fontes médicas explicaram que o exército israelense destruiu completamente os pisos do edifício de cirurgias especializadas e queimou o resto do prédio. O edifício principal de recepção e emergência também foi queimado, foram destruídos dezenas dos seus quartos e todo o equipamento médico nele contido.

As forças israelenses também incendiaram os prédios de tratamento de rins e da maternidade, os necrotérios, as instalações de refrigeração para câncer e queimados, e destruíram o prédio das clínicas ambulatoriais.

Testemunhas relataram que os israelenses queimaram ou destruíram muitas casas e edifícios residenciais nas proximidades do Complexo Médico Al-Shifa, que inclui milhares de unidades residenciais.

O exército israelense também destruiu as sepulturas que rodeavam o complexo e retirou os corpos do solo. As forças de ocupação executaram cidadãos algemados, de acordo com essas testemunhas.

 

Centenas de mortos e presos

As equipes da defesa civil em Gaza disseram que é difícil contar o número de civis mortos, especialmente porque as estradas foram destruídas e os corpos enterrados dentro e ao redor do complexo. .

De acordo com a BBC, as Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmaram ter matado 200 “terroristas”, detido 500 outras pessoas consideradas filiadas ao Hamas e à Jihad Islâmica e encontrado armas e informações “em todo o hospital”.

“As forças israelenses encontraram grandes quantidades de armas e documentos dos serviços secretos em todo o hospital, enfrentaram os terroristas em combates corpo a corpo, evitando ferir o pessoal médico e os pacientes”, declarou o porta-voz das FDI.

O Ministério da Saúde de Gaza fala em cerca de 400 mortos, e que foram encontrados dezenas de corpos no local. Os habitantes da região disseram que as zonas próximas também foram arrasadas por bombardeios.

 

TRADUÇÃO: 1) Entrada; 2) Cirurgia especializada e Unidade de Tratamento Intensivo (UTI); 3) Unidade de Emergência, Cirurgias Gerais e Ortopedia; 4) Ambulatórios, Administração e Banco de Sangue; 5) Medicina Interna e Diálises; 6) Unidade de Maternidade

 

Netanyahu elogia ação israelense no Al-Shifa

Um porta-voz do serviço de emergência civil do Hamas em Gaza afirmou que as forças israelitas tinham utilizado bulldozers para escavar os terrenos do complexo e exumar os corpos enterrados.

A Dra. Amira al-Safady, médica do Al-Shifa, disse à rádio Gaza Lifeline, da BBC, que 16 pessoas internadas na unidade de cuidados intensivos morreram depois de terem sido transferidas, porque ela e outros médicos já não tinham o equipamento necessário para as tratar.

A paciente Barra al-Shawish disse à agência noticiosa Reuters que as tropas israelitas permitiram a entrada de uma quantidade muito pequena de alimentos. “Ficamos sem tratamento, sem medicamentos, sem nada, e bombardeios durante 24 horas que não pararam e provocaram imensa destruição no hospital”, disse.

Um porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI) referiu-se anteriormente à operação como “uma das mais bem sucedidas da guerra até à data”, devido às informações recolhidas, bem como ao número de mortos e detidos. Declaração semelhante foi feita por Benjamin Netanyahu, elogiando o que considerou um feito das tropas israelenses em Al-Shifa.

 

EUA pedem cessar-fogo, mas mandam armas para Israel

De acordo com o jornal britânico The Guardian, os Estados Unidos autorizaram, nos últimos dias, a transferência de bilhões de dólares em bombas e caças para Israel. Os novos pacotes de armas incluem mais de 1.800 bombas MK-84 de 900 kg e 500 bombas MK-82 de 225 kg, disseram as fontes consultadas pelo jornal, confirmando um relatório do Washington Post.

Por sua vez, o Wall Street Journal informou que legisladores democratas e organizações de direitos humanos dos EUA expressaram preocupação com o fato da inteligência compartilhada com Israel contribuir para mortes de civis em Gaza.

Fontes familiarizadas com o assunto acrescentaram  ao WSJ que havia preocupação com a existência de “pouca supervisão independente para confirmar que a inteligência fornecida pelos EUA não é usada em ataques [israelenses] que matam civis desnecessariamente ou danificam infraestruturas.”

 

 

Terroristas podem ser apenas civis

O exército israelense afirma que 9 mil terroristas foram mortos desde o início da invasão de Gaza. Oficiais de defesa e soldados, no entanto, dizem ao Jornal israelense Haaretz que os mortos muitas vezes são civis, cujo único crime é cruzar a linha invisível traçada pelas Forças de Defesa de Israel (FDI).

Uma série de comandantes da reserva e do exército permanente que falaram à reportagem do Haaretz lançaram dúvidas sobre a alegação de que todos eram terroristas. Para eles, a definição de terrorista está aberta a uma ampla gama de interpretações.

“Na prática, um terrorista é qualquer pessoa que as FDI tenham matado nas áreas em que as suas forças operam”, diz um oficial da reserva que serviu em Gaza.

“É surpreendente ouvir os relatórios depois de cada operação, sobre quantos terroristas foram mortos”, diz outro oficial, explicando: “Você não precisa ser um gênio para perceber que não há centenas ou dezenas de homens armados correndo nas ruas de Khan Yunis ou Jabaliya”.

“A sensação que tínhamos era que não existiam realmente regras de combate ali”, disse ao Haaretz um reservista que até recentemente estava no norte de Gaza. “Não me lembro de ninguém repassando os detalhes conosco após cada incidente.” Isto corresponde à impressão de um alto funcionário do sistema de defesa. “Parece”, diz ele, “que muitas forças estão a escrever as suas próprias regras de combate”.

 

Invasão de Gaza já custou mais de 32 mil vidas

“O que está acontecendo no norte da Faixa de Gaza não deveria preocupar os americanos; deveria preocupar Israel”. A declaração foi dada à reportagem do Haaretz  por um oficial de inteligência que está no meio do confronto.

A intervenção militar em Gaza surgiu depois de dez meses da maior crise política e social ocorrida em Israel em décadas, devido à legislação proposta pelo governo direitista de Benjamin Netanyahu, visando enfraquecer o poder judiciário e resgatar o primeiro-ministro dos três julgamentos de corrupção que enfrenta.

A crise se avoluma em meio a uma escalada de violência entre os palestinos da Cisjordânia e os colonos israelitas, empoderados pelo governo mais direitista de sempre de Israel.

Mais de 32.800 palestinos foram mortos e 75.000 ficaram feridos em Gaza desde que Israel lançou a sua campanha militar, informa o Ministério da Saúde. Segundo este ministério, 70% dos mortos são mulheres e crianças. (Fotos: Reprodução)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

Fontes:

https://english.wafa.ps/Pages/Details/142889

https://www.bbc.com/news/world-middle-east-68705765

https://www.haaretz.com/israel-news/2024-03-31/ty-article-magazine/.premium/israel-created-kill-zones-in-gaza-anyone-who-crosses-into-them-is-shot/0000018e-946c-d4de-afee-f46da9ee0000?utm_source=mailchimp&utm_medium=Content&utm_campaign=israel-at-war&utm_content=d724377529

 

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