Henrique Acker (correspondente internacional) – Uma retaliação do Irã à destruição de sua embaixada em Damasco, ou uma declaração de guerra a Israel? As interpretações sobre o ataque com artefatos explosivos lançados contra Israel, em 13 de abril, podem variar de acordo com os governos e analistas envolvidos.
O certo é que, mesmo não tendo causado estragos de grandes proporções e baixas entre civis, a chuva de cerca de 300 drones, mísseis balísticos e mísseis de cruzeiro iranianos lançados sobre território israelense durante horas, altera a correlação de forças no Oriente Médio.
Até então, nenhum país foi capaz ou se atreveu a realizar um ataque massivo contra Israel. O máximo que se viu foi o lançamento de foguetes de baixa precisão e limitado poder de destruição por parte do Hezbollah, a partir do sul do Líbano.
Alvos militares
Apesar do impacto do ataque, realizado em três ondas durante a noite de 13 de abril, a maior parte dos drones e mísseis foi interceptada e destruída. O objetivo era exaurir a força do escudo de defesa israelense (Domo de Ferro), formado por radares e mísseis interceptadores. No ataque de 13 de abril, Israel contou ainda com sistemas de defesa antiaéreos dos EUA na região e o apoio da aviação do Reino Unido e da França.
Os alvos principais do Irã eram alguns estabelecimentos militares. De acordo com a Agência de Notícias IRNA (Irã), “pelo menos nove mísseis iranianos, que a defesa aérea israelense não conseguiu interceptar, atingiram duas bases aéreas do regime e causaram danos”. A declaração é atribuída a um alto funcionário estadunidense à TV ABC News.
Segundo a ABC News (com sede em Nova York), cinco mísseis balísticos atingiram a Base Aérea de Nevatim, danificando uma aeronave de transporte C-130. Outros quatro mísseis balísticos atingiram a Base Aérea de Negev, disse a fonte do governo estadunidense, acrescentando que não houve danos significativos.
Irã insiste que avisou vizinhos e os EUA
“Cerca de 72 horas antes da operação, informamos aos nossos queridos vizinhos e aos países da região que a resposta da República Islâmica do Irã na forma de defesa legítima é definitiva e inegável”, declarou o ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amirabdollahian. O governante iraniano disse ainda que “os avisos necessários foram dados aos EUA” sobre o ataque de retaliação.
A informação foi confirmada por Trita Parsi, analista e um dos fundadores do Conselho Nacional Iraniano Americano, para quem o ataque foi meticulosamente planejado para evitar uma guerra regional.
Os drones e mísseis lançados no sábado foram disparados com aviso prévio, como afirmou Teerã no domingo, dando tempo suficiente para que Israel e seus aliados – Estados Unidos, Reino Unido e Jordânia, entre outros – interceptassem os projéteis no ar, concluiu Parsi.
Netanyahu sob fogo cruzado
O governo de extrema-direita de Israel reuniu o seu gabinete de guerra para analisar o ataque iraniano e planejar uma retaliação. No entanto, as diferenças políticas entre setores do governo pesam sobre como, quando e qual será a proporção desta retaliação.
Para Netanyahu, a manutenção dos ataques em Gaza e do clima de confronto no Oriente Médio é questão de sobrevivência. Pesquisa do Instituto de Democracia de Israel (IDI), realizada entre os dias 25/12 e 28/12, apontou que apenas 15% dos entrevistados desejam que o primeiro-ministro israelense continue no cargo quando a guerra em Gaza terminar.
Alertado com antecedência pelo governo Biden da iminência de um ataque iraniano, o governo israelense ordenou a retirada da maioria de suas tropas de Gaza, dando um relativo descanso aos palestinos.
O ataque iraniano também serviu para uma demonstração da eficiência do sistema de defesa de Israel. Para o governo Netanyahu, pode ser uma oportunidade de reconquistar parte da solidariedade internacional perdida nos últimos seis meses, com a invasão de Gaza e o massacre dos palestinos, que já causou mais de 33 mil mortes e dezenas de milhares de feridos.
Biden na corda bamba
Mesmo solidário a Israel, o governo Joe Biden já advertiu que não pretende apoiar qualquer ataque massivo de seu aliado ao Irã. o governo dos EUA sabe que um conflito regional generalizado no Oriente Médio afetará diretamente as rotas de abastecimento e, sobretudo, o preço do petróleo, o que tem efeito direto na economia mundial.
A administração dos EUA se equilibra entre o apoio a Israel e uma posição de crítica ao governo israelita. Biden precisa demonstrar para a opinião pública estadunidense uma postura moderada, sobretudo por causa da eleição presidencial de novembro.
Uma escalada do confronto no Oriente Médio pode ter reflexos diretos no confronto eleitoral com os republicanos, ainda mais se Donald Trump for autorizado a se candidatar. Preocupado com uma possível generalização do conflito na região, Biden e aliados da União Europeia pretendem convencer o governo israelense que a melhor saída é evitar qualquer ataque ao Irã e dar o confronto por encerrado.
Na imagem, drones Shahed-136 usados pelo Irã no ataque a Israel ( Foto reprodução/Youtube)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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Fontes:
https://en.irna.ir/news/85444820/Two-Israeli-air-bases-struck-by-Iranian-missiles