Henrique Acker (correspondente internacional) – Há muito que a moradia deixou de ser um problema só para os imigrantes na Europa. Uma manifestação convocada por 40 organizações populares reuniu dezenas de milhares de pessoas em Madri, no domingo, 12 de outubro, denunciando que os gastos com habitação estão insuportáveis para os espanhóis.
A principal reivindicação dos madrilenhos é a redução dos preços dos aluguéis pela metade. O Sindicato dos Inquilinos e Inquilinas de Madri ameaça com uma “greve” dos aluguéis, caso os governantes não tomem providências urgentes.
“Acabou-se a impunidade dos senhorios. Se continuarem a subir os preços, vamos deixar de pagar”, ameaça Valeria Racu, porta-voz do Sindicato.
Especulação financeira, turismo desenfreado e ganância
O Sindicato denuncia os fundos imobiliários – que especulam com a necessidade de moradia -, as plataformas de alojamentos locais para turistas e os proprietários de roubarem os salários dos madrilenhos, com a conivência dos governos federal e da capital.
Os representantes dos inquilinos pediram a demissão da ministra da Habitação, Isabel Rodriguez, e exigiram da prefeita de Madri, Isabel Ayuso (PP) a aplicação imediata da lei da Habitação, que permite controlar o preço dos aluguéis, ainda que de forma tímida.
Pelo levantamento de organizações populares, com base em dados oficiais, há cerca de 150 mil imóveis fechados em Madri, o que estimula a especulação. Ao mesmo tempo, são 17 mil residências disponíveis só para aluguel temporário. Uma em cada quatro casas para alugar no centro da capital espanhola é destinada a turistas.
Preços altos afetam os mais jovens
Em consequência dos preços elevados dos aluguéis e da falta de novos imóveis a preços acessíveis, dois terços dos jovens de 18 a 34 anos de Madri moram com seus pais (16% a mais do que na crise imobiliária de 2010), adiando planos para uma vida independente e a formação de novas famílias.
Quem precisa morar sozinho reclama do valor mínimo de 500 euros por um quarto. Os que ainda conseguem moradia na capital estão desembolsando cerca de 700 euros, ou 70% de um salário-mínimo (1.080 euros), no caso dos contratos mais antigos. A média de preços do aluguel em residências em Madri e Barcelona é de 872 euros.
No entanto, numa rápida procura no portal imobiliário Idealista, o preço mais em conta para o aluguel de apartamento de um quarto disponível em Madri é de 800 euros. Isso em regiões de periferia. Nos bairros menos distantes do Centro da cidade, o preço médio é de 1.200 euros. Já os imóveis novos deste mesmo porte chegam a custar mais de 2 mil euros, dependendo da região.
Preços salgados em toda a Europa
Os últimos dados do Gabinete de Estatísticas da União Europeia (Eurostat) revelam um aumento acentuado dos preços das casas em alguns países da Europa de Leste, bem como um crescimento geral médio de 2,9% em todo o bloco do segundo trimestre de 2023 para o mesmo período de 2024.
Os aluguéis também estão aumentando, com mais 3% na média em comparação com o segundo trimestre do ano passado, em toda a União Europeia.
Desde o segundo trimestre de 2023, os cinco países com os maiores aumentos para a venda de imóveis são a Polônia (+17,7%), a Bulgária (+15,1%), a Lituânia (+10,4%), a Croácia (+10,0%) e a Hungria (+9,8%).
Em todo o bloco europeu, os preços das casas aumentaram 2,9% neste mesmo período, em média.
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OBS: Além da redução dos aluguéis em 50%, as principais reivindicações do movimento dos inquilinos de Madri são: 1) Proibição de despejos sem alternativas de habitação; 2) Fim da perseguição promovida pela especulação imobiliária; 3) Intervenção do Estado e regulação dos preços; 4) Obrigação dos agentes imobiliários atribuírem uma percentagem dos novos edifícios à habitação social. (Foto principal: Sindicato de Inquilinas e Inquilinos)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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