Inflação desacelera a 3,94% em 12 meses e pressão para BC cortar Selic aumenta

Índice fechou o mês em 0,23%, inferior às expectativas, e resultado sugere que autarquia começa a ter espaço para iniciar o corte da Selic

 

 

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, divulgado nesta quarta-feira (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), surpreendeu o mercado, registrando um valor abaixo do esperado. O índice fechou o mês em 0,23%, abaixo da taxa de 0,61% registrada em abril, e bem inferior às expectativas medianas de 0,33%. Na variação anual, a expectativa era de 4,04%, mas o índice apresentou um número também mais baixo, de 3,94%.

A difusão, que mede quantos itens tiveram aumento de preço, também apresentou queda, de 66% para 57%, sinalizando um cenário de menos pressão inflacionária. O resultado sugere que o Banco Central começa a ter cada vez mais espaço para iniciar o corte da Selic, medida já precificada na curva de juros. A queda da inflação é vista como resultado da política monetária, mas outros fatores também contribuíram para essa diminuição. Embora exista a possibilidade de o Copom cortar a taxa na reunião de junho, a probabilidade é baixa.

O próprio Ministério do Planejamento se manifestou nesta quarta, através de nota, alertando que o processo de desaceleração não deve se manter no próximo bimestre. “É fato que haverá um aumento deste indicador a partir de julho, devido ao efeito base, mas deve-se destacar que os resultados divulgados são inferiores ao projetado pelo mercado e que o processo desinflacionário está ocorrendo”, disse a pasta.

O “efeito base” citado pelo Ministério do Planejamento é que, a partir de julho, o índice acumulado de preços na janela de 12 meses volte a uma trajetória de alta, avançando novamente. Isso está relacionado com base de comparação para o acumulado em 12 meses. No ano passado, os meses de julho, agosto e setembro apresentaram deflação por causa das desonerações de itens essenciais ao longo da corrida eleitoral.

Dessa forma, a expectativa é que, nas divulgações que acontecem ao longo do segundo semestre deste ano, a redução de impostos em itens importantes para a inflação comece a sair da contagem. Isso resulta, consequentemente, em um aumento do índice de inflação em 12 meses. Na semana passada, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou que sua expectativa é de que o Banco Central comece a baixar os juros no segundo semestre deste ano.

Para a ministra, “todos os fatores macroeconômicos internos estão positivos”. A taxa atual da Selic, de 13,75%, é a maior em seis anos e meio. “Complementei dizendo que achava que a partir de agosto já temos condições [de baixar os juros]”, acrescentou.

Grupos

Segundo os dados do IBGE, os grupos de Transportes (-0,57%) e de Artigos de residência (-0,23%) foram os únicos a registrarem queda no IPCA de maio. No primeiro, destacam-se os recuos nos preços das passagens aéreas (-17,73%), além do resultado de combustíveis (-1,82%), por conta das quedas do óleo diesel (-5,96%), da gasolina (-1,93%) e do gás veicular (-1,01%).

A desaceleração do índice em maio também foi influenciada pelo resultado do grupo de Alimentação e bebidas, que passou de 0,71% em abril para 0,16% em maio, explica André Almeida, analista da pesquisa. “Trata-se do grupo com maior peso no índice, o que acaba influenciando bastante no resultado geral”.

O principal destaque foi na alimentação no domicílio, que passou de 0,73% no mês anterior para uma estabilidade em maio. O grupo registrou queda nos preços das frutas (-3,48%), do óleo de soja (-7,11%) e das carnes (-0,74%). Por outro lado, a alta teve como destaque a inflação do tomate (6,65%), do leite longa vida (2,37%) e do pão francês (1,40%). “”Nos casos do tomate e do leite, os aumentos de preço estão relacionados a uma menor oferta”, explica Almeida.

Entre os demais seis grupos, todos apresentaram alta nos preços. A inflação em Saúde e cuidados pessoais teve o maior impacto (0,12 ponto percentual) e a maior variação (0,93%) com destaque para plano de saúde (1,20%) e itens de higiene pessoal (1,13%), com especial influência para a alta do subitem perfumes (3,56%). Também os produtos farmacêuticos, com alta de 0,89%, contribuíram para o resultado, após a autorização do reajuste de até 5,60% no preço dos medicamentos, a partir de 31 de março.

Já o grupo Habitação, com alta de 0,67%, contribuiu para a alta IPCA de maio. “Houve influência dos preços da água e esgoto e da energia elétrica, que registraram reajustes em algumas capitais”, justifica o analista da pesquisa. A maior contribuição (0,05 ponto percentual) veio da taxa de água e esgoto, com variação de 2,67%, devido a reajustes aplicados em seis áreas de abrangência do índice (Recife, São Paulo, Aracaju, Curitiba, Belém e Goiânia). Já a variação de energia elétrica residencial, de 0,91%, contribuiu com 0,04 ponto percentual, muito por conta de reajustes aplicados em seis áreas capitais (Salvador, Recife, Fortaleza, Campo Grande, Belo Horizonte e Aracaju).

Em relação aos índices regionais, somente uma área apresentou deflação no IPCA de maio: São Luís (-0,38%), influenciada pelas quedas de 7,63% no frango inteiro e de 5,87% na gasolina. A maior variação foi em Fortaleza (0,56%), com especial contribuição dos subitens jogos de azar (12,18%) e de energia elétrica residencial (3,71%).

(Foto: Maria Isabel Oliveira/Agência O Globo)

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