Indígena protesta e esfrega urucum participantes de evento sobre Ferrogrão

O ato protagonizado pelo indígena Kumaruara foi um protesto contra a construção da ferrovia, que se estenderá do estado do Mato Grosso ao Pará. Ministério dos Transportes diz que diferentes povos indígenas serão ouvidos e que ferrovia ainda depende de análise de impactos e demanda

 

Indígenas do Baixo Tapajós, no oeste do Pará, fizeram um protesto contra o projeto da Ferrogrão, ferrovia que se estenderá do estado do Mato Grosso ao Pará, encampada pelo governo Lula (PT) e com estudos e projetos incluídos no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que é tratado como vitrine da atual gestão. No protesto, uma liderança indígena do povo Kumaruara, esfregou urucum no rosto de seis homens e uma mulher que estavam sentados na primeira fileira de um auditório da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em Santarém (PA). Um deles se levantou irritado com o gesto. O evento ocorreu na terça-feira (7).

Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o empreendimento afeta não apenas as aldeias e povos indígenas Munduruku e Kayapó Paranã, mas também ameaça toda a biodiversidade presente nessa região, que é alvo de desmatamento. “O urucum simboliza a resistência dos 14 povos do Baixo Tapajós, representando a luta ancestral dos povos indígenas que estão em risco caso o referido projeto seja aprovado”, explica a Apib, sobre o protesto do líder indígena Naldo Kumaruara.

Em nota, o Ministério dos Transportes, responsável pelo seminário, disse que o evento contou com a participação de comunidades e entidades envolvidas no projeto da ferrovia. “Todos tiveram direito a fala, exposições individuais e de se manifestar, como comprova o vídeo amplamente divulgado nas redes sociais”, afirmou a pasta.

Em março deste ano, o cacique Raoni pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que não aprove o projeto de construção da Ferrogrão. O apelo ocorreu durante discurso do líder indígena em Belém, ao receber a maior honraria francesa das mãos do presidente da França, Emmanuel Macron.

Com 933 quilômetros (km) de extensão, a expectativa é a de que a ferrovia Ferrogrão ligue Sinop, em Mato Grosso, ao porto paraense de Miritituba. O projeto é defendido por setores do agronegócio como uma alternativa à rodovia BR-163, principal via de escoamento do agro no Centro-Oeste. Em 2017, o governo do ex-presidente Michel Temer editou uma medida provisória, que depois foi convertida em lei, que alterava os limites de quatro unidades de Conservação do Pará para a construção da ferrovia.

O PSol entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no  Supremo Tribunal Federal (STF). Em setembro do ano passado, o ministro Alexandre Moraes suspendeu, por 6 meses, a ação que julgava a constitucionalidade da construção da ferrovia e também determinou a realização de estudos de impacto ambiental e consulta aos povos impactados pela obra. Logo em seguida, o Ministério dos Transportes criou um grupo de trabalho para acompanhar os processos e os estudos relacionados ao projeto, além de discutir aspectos socioambientais e econômicos da obra.

(Foto: Divulgação/Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns)

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