Silvio Almeida supostamente começou a incomodar a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, apenas alguns dias antes de assumir o cargo no Ministério dos Direitos Humanos. Esta informação foi divulgada em uma matéria da Revista Piauí.
A publicação conduziu 39 entrevistas ao longo de quatro meses para relatar minuciosamente o episódio que resultou na saída de Silvio Almeida. Dentre os entrevistados, treze têm uma relação próxima com Anielle, de quem receberam informações sobre os pormenores da acusação.
Conforme a matéria, Almeida teria abordado Anielle pela primeira vez na noite de 30 de dezembro de 2022. Naquela oportunidade, membros do governo de transição se encontraram para um jantar em Brasília, visando dar as boas-vindas ao advogado, que assumiria o ministério poucos dias depois.
Naquele momento, ele se inclinou em direção a ela e sussurrou: “Uau, você está deslumbrante e com um perfume incrível hoje”. Quatro meses após o jantar em Brasília, a situação se agravou, conforme relata a reportagem. Ele teria mencionado que, ao observar os ombros de Anielle, sentia “desejo“, vontade de “morder” e “lamber”. “Desde o instante em que te vi, achei você extremamente atraente“, Almeida teria afirmado.
Três autoridades relataram que apresentaram a situação ao presidente Lula alguns meses antes de se tornar pública pela mídia. Os entrevistados disseram à revista que Almeida rejeitava as acusações quando o tema era mencionado.
Um colega de Anielle relata que trouxe a questão ao conhecimento de Lula dez meses antes de ser divulgada na mídia. “Não sei se fui o único a fazer isso. Mas eu informei. O presidente solicitou que o Vinícius [Carvalho, da CGU] conversasse com o Silvio”, diz ele.
Anielle receava a falta de consequências em relação a uma possível acusação e cuidava da privacidade de sua família, conforme relatado pela revista. Adicionalmente, pessoas próximas à ministra afirmam que ela se preocupava com o efeito que a denúncia poderia causar no movimento negro, visto que o ex-ministro era visto como uma importante figura nesse contexto.
“Para nós, é uma escolha extremamente complicada acusar um homem negro. Discutimos bastante sobre isso, levando em consideração o que um homem negro enfrenta. É a ministra da Igualdade Racial que está fazendo essa acusação, em um contexto em que a sociedade já marginaliza a vida de pessoas negras de diversas maneiras”, afirmou uma amiga de Anielle Franco.
A versão de Sílvio Almeida.
Em uma conversa com o UOL, divulgada em 24 de fevereiro, Silvio Almeida refutou as alegações. Além disso, mencionou que Anielle “se confundiu com o papel que desempenha” e sugeriu uma possível razão para a acusação direcionada a ele. “Para tentar manchar minha imagem, ela se envolveu na difusão de rumores e intrigas a meu respeito“, afirmou.
“O intuito aparentemente era desestabilizar minha reputação, diminuir minha presença em determinados grupos da elite do Rio de Janeiro, especialmente na academia e entre aqueles vinculados ao sistema judiciário. Quiseram me prejudicar”, afirmou o ex-ministro.(Filipe Araújo / Ministério dos Direitos Humanos)
