Proporção de trabalhadores registrados em sindicados ficou em 8,4% em 2023, totalizando 8,421 milhões de pessoas
O volume de trabalhadores sindicalizados caiu 7,8% em 2023 e alcançou neste ano o patamar mais baixo da série histórica da “Pnad Contínua – Características Adicionais do Mercado de Trabalho”, que teve sua mais recente edição divulgada nesta sexta-feira (21) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na prática, esse percentual significa que 713 mil pessoas não estão mais sindicalizadas. O volume total de associados a alguma organização de trabalhadores é de 8,4 milhões.
Em 2022, o grupo somava quase 9,2 milhões (9,2%). A queda não é novidade, afinal, o número de sindicalizados vem caindo desde, pelo menos, 2012, quando o monitoramento foi iniciado pelo instituto de pesquisa. Naquele ano, eram 14,4 milhões os trabalhadores sindicalizados no Brasil (16,1%) e, desde então, em apenas dois anos (2013 e 2015) registrou algum tipo de aumento.
A baixa adesão aos sindicatos também contrasta com o alto volume de empregados. Em 2023, o Brasil chegou aos 100,7 milhões de ocupados, um recorde, segundo o IBGE. Adriana Beringuy, pesquisadora do instituto, comentou que a fatia de sindicalizados, no total de pessoas ocupadas no mercado de trabalho começou a cair de forma mais intensa entre 2017 e 2018.
Ela observou que o menor nível de sindicalização coincidiu com a realização da Reforma Trabalhista, em 2017, promovida por Michel Temer (MDB). A nova lei tornou facultativa a contribuição sindical e impôs outros mecanismos que reduziram a participação das organizações nas negociações coletivas. “O que está mais associado [ao momento do recuo mais forte na fatia de sindicalizados] é a mudança na legislação trabalhista”, disse. “A tendência [de menor patamar de sindicalização] já acontecia antes mas se intensificou em 2017 quando a nova legislação sobre o tema entrou em vigor”, continuou.
O surgimento de outras modalidades de trabalho, mais precárias, também são fatores considerados na explicação para a redução do índice ao pior patamar. “Nos últimos anos, há cada vez mais trabalhadores inseridos na ocupação de forma independente, seja na informalidade ou até mesmo por meio de contratos flexíveis, intensificados pela reforma trabalhista de 2017. Além disso, atividades que tradicionalmente registram maior cobertura sindical, como a indústria, vêm retraindo sua participação total no conjunto de trabalhadores e, portanto, no contingente de sindicalizados”, analisa Beringuy.
O IBGE fez ainda um recorte por gênero, entre os sindicalizados. Os pesquisadores do instituto apuraram que os homens são mais associados aos sindicatos do que as mulheres. Entre contingente masculino na população ocupada no mercado de trabalho, 8,5% eram sindicalizados – sendo que essa proporção era de 8,2% entre população ocupada feminina.
Por setores, a agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura foi a categoria com maior parcela de sindicalizados em 2023, com 15% do total ocupado associado a sindicatos. Esse segmento foi seguido por administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais, com fatia de 14,4% d e sindicalizados, no total ocupado no setor.
Os mais escolarizados no mercado de trabalho também são mais sindicalizados, adiantou ainda o IBGE, no estudo. A parcela de pessoal ocupado com superior completo e sindicalizado ficou em 13,5% em 2023, abaixo de 2022 (14,5%). Porém, foi a maior parcela enre as categorias de instrução delineadas na pesquisa.
Serviço público
Chama a atenção nos resultados divulgados nesta sexta-feira a queda no volume de sindicalizados no serviço público, que historicamente formavam a parcela da população com os maiores índices de sindicalização. Para a coordenadora da pesquisa , a explicação, neste caso, também está relacionada a uma mudança na forma de contratação. No setor, ampliou-se a prevalência de contratos temporários, em especial para os servidores da Educação.
“O grupamento de administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais foi o terceiro que mais reduziu a sua taxa de sindicalização desde o início da série histórica da pesquisa, com queda de 10,1 pontos percentuais (de 24,5% para 14,4%). Nessa comparação, ficou atrás apenas dos setores de transporte, armazenagem e correio, com -12,9 p.p. (de 20,7% para 7,8%) e indústria geral, com -11,0 p.p. (de 21,3% para 10,3%)”, detalha o IBGE. O setor do transporte, o mais impactado no levantamento, sofreu, segundo os pesquisadores, com a chegada dos aplicativos.
A pesquisa desta sexta-feira também mostra que o Brasil fechou o ano de 2023 com 29,9 milhões de pessoas ocupadas como empregador ou trabalhador por conta própria no trabalho principal. Dessas, apenas 1,3 milhão de pessoas (4,4%) eram associadas à cooperativa de trabalho ou produção. Esse é também o pior patamar para o índice monitorado pelo instituto desde 2012.
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