IBGE: rendimento domiciliar do brasileiro cresce 12,2% em 2023 e tem recorde histórico

Massa domiciliar per capita atingiu o maior valor da história: R$ 398,3 bilhões. Aumento foi de 12,2% ante 2022, resultado da melhora do mercado de trabalho e dos programas sociais

 

A renda média domiciliar per capita atingiu em 2023 o maior valor já registrado. Após subir 11,5% sobre o ano anterior, o valor chegou a R$ 1.848. Antes, o pico havia sido registrado em 2019, com R$ 1.744. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (19). Os números fazem parte da PNAD Contínua Rendimento de Todas as Fontes, pesquisa iniciada em 2012.

Eles mostram que a massa de rendimento mensal domiciliar per capita atingiu o maior valor da série histórica, com R$ 398,3 bilhões. O aumento foi de 12,2% ante 2022. Em relação a 2019, a expansão foi de 9,1%. Ainda segundo o IBGE, o rendimento de todas as fontes, considerando a população residente com rendimento, aumentou 7,5% em relação a 2022, atingindo R$ 2.846 e, com isso, se aproximando do valor máximo da série histórica (R$ 2.850), registrado em 2014. Já o rendimento médio de outras fontes, diferentes do trabalho, cresceu 6,1%, chegando a R$1.837, um recorde da série histórica.

Outro recorde da série foi a proporção da população com rendimento habitualmente recebido do trabalho, que passou de 44,5% (ou 95,2 milhões de pessoas) em 2022 para 46,0% (ou 99,2 milhões) em 2023. O percentual mais baixo desse indicador ocorreu em 2020 (40,1% ou 84,7 milhões), ainda sob influência da pandemia.

A proporção de domicílios do país com algum beneficiário do programa Bolsa-Família saltou de 16,9% em 2022 para 19,0% em 2023, ao passo que em 2019 eram 14,3%. Entre 2019 e 2023, enquanto o rendimento per capita do grupo de domicílios que recebiam o Bolsa Família cresceu 42,4% (de R$ 446 para R$ 635), entre aqueles que não recebiam o benefício a variação foi de 8,6% (de R$ 2.051 para R$ 2.227).

A volta do Bolsa Família, promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e a manutenção de um valor mais elevado da transferência de renda como estabelecido no fim do governo Bolsonaro, às vésperas das eleições, levou a abrangência do programa social a níveis recordes em 2023.

E isso evitou um aumento na desigualdade de renda no Brasil. O Índice de Gini – um dos principais indicadores de concentração, que vai de 0 a 1, sendo que quanto mais perto de 1, mais desigual é o país – de todos os rendimentos ficou em 0,518 ano passado, exatamente o mesmo valor de 2022.

Os ganhos dos brasileiros da base da pirâmide deram um salto. Considerando os 40% mais pobres, houve um aumento de 17,6%, para R$ 527 por mês por cada pessoa da família. Quando se considera os 5% mais pobres, o salto foi de 38,5%. Mas esses cerca de 10 milhões de brasileiros extremamente pobres ainda ganham um valor inimaginável para garantir a subsistência mínima: R$ 126 por pessoa. É como se uma família formada por dois adultos e duas crianças passasse todo mês com R$ 504 para dar conta de todos os gastos.

Ainda assim, os aumentos expressivos foram diretamente impactados pela reformulação do Bolsa Família, que foi recriado pelo governo federal em março do ano passado, no terceiro mês de mandato.

 

Volta do Bolsa Família turbinou a renda per capta da população mais pobre (Foto: Roberta Aline/MDS)

 

Do Auxílio Brasil à volta do Bolsa Família

Em 2022, o principal programa de transferência de renda era o Auxílio Brasil, rebatizado no governo Jair Bolsonaro. O benefício mínimo começou aquele ano em R$ 400 por mês, mas foi reajustado para R$ 600, em meio à campanha eleitoral para presidente. Quando foi recriado, em 2023, o Bolsa Família adotou o valor mínimo de R$ 600 por mês. Também foram criados dois benefícios complementares, para crianças de até seis anos e jovens e gestantes.

Gustavo Fontes, analista do IBGE, ressaltou que, no fim das contas, o benefício médio do Bolsa Família, ao longo de 2023, ficou maior do que o verificado em 2022. “Em 2023, tivemos um efeito conjunto, tanto uma expansão do percentual de domicílios que recebiam o Bolsa Família quanto a elevação do valor médio”, disse.

Mesmo com o avanço entre os mais pobres, a desigualdade de renda ficou estagnada ano passado porque, no mercado de trabalho, o movimento foi no sentido inverso. Considerando apenas a renda de todos os trabalhos, sem os “outros rendimentos”, onde entram os benefícios do Bolsa Família, o Índice de Gini subiu para 0,494, ante 0,486 em 2022.

A renda do trabalho ficou mais desigual porque os salários dos trabalhadores que ganham mais subiram mais fortemente do que os ganhos dos empregados mais pobres. Entre os 10% mais ricos, o rendimento médio do trabalho cresceu 10,4% em 2023 ante 2022. Entre os 10% da base da pirâmide de renda, subiu apenas 1,8%.

(Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

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