IBGE: Região Norte tem menor acesso a cinemas, teatro e museus

Deslocamento para acesso a cinema no Amazonas, por exemplo, chega a 23 horas

 

 

Em 80% das cidades da Região Norte, a população demora mais de 1h para chegar a um museu, cinema ou teatro. Por outro lado, essa realidade só atinge 13% dos habitantes da região Sul. Nacionalmente, essa situação é comum em apenas 14,9% dos municípios. O retrato das privações de acesso a equipamentos culturais no Brasil é resultado do levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado nesta sexta-feira (1º). Os dados fazem parte do Sistema de Informações e Indicadores Sociais (SIIC), que além do acesso à cultura, traz recortes sobre as empresas, ocupação e importância do setor para a economia.

Para entender o acesso potencial aos equipamentos culturais e meios de comunicação, os pesquisadores cruzaram os dados da MUNIC de 2021 e da PNAD Contínua. Assim foi possível verificar quanto da população vivia em municípios com e sem museu, teatros ou sala de espetáculo, cinema e rádio AM ou FM local. Em 2021, 76,1% da população vivia em municípios com rádio AM ou FM local, o maior acesso potencial entre os equipamentos, seguido por 69,4% da população em municípios com teatro ou sala de espetáculo e 68,6% com museu. Os cinemas estavam concentrados em municípios onde viviam apenas 57,4% da população.

Havia desigualdade no acesso aos equipamentos quando analisada a população por sexo, cor ou raça, grupo de idade e nível de instrução. Cerca de 31,4% da população do país vivia em municípios sem museus, mas essa proporção era maior para os homens (32,1%) do que para as mulheres (30,7%). Também havia maior concentração da população preta e parda em municípios nessa condição (36,6%) do que de pessoas brancas (24,8%).

Também havia maior privação potencial desse equipamento entre as crianças e adolescentes até 14 anos (34,3%) e entre aqueles sem instrução ou com fundamental incompleto (38,7%). “Em relação às crianças, é particularmente preocupante haver um menor potencial de acesso, pois é importante ter contato com museus durante a infância para desenvolver interesse nas demais fases da vida”, diz o analista da pesquisa, Leonardo Athias.

Usando dados da MUNIC de 2021 e um modelo de cálculo de rotas, distâncias e tempos de deslocamento aplicado na Base de referência de distâncias rodoviárias, hidroviárias e aéreas, foi possível estimar o tempo que uma pessoa que mora em um município sem museu, cinema ou teatro levaria para chegar ao município com equipamento mais próximo.

No Norte, havia a maior proporção de municípios em que os moradores levariam mais de uma hora para acessar um deles. Além do acesso mais difícil a museus, em 80,4% dos municípios, os habitantes teriam que se deslocar pelo menos esse tempo para chegar a um município com cinema. Já a menor proporção de municípios nessa situação estava no Sul: 14,9%. No caso de teatro ou sala de espetáculos, 65,1% dos municípios nortistas estavam a mais de uma hora até o município mais próximo com o equipamento. No Sul, eram 4,0%.

Além de estarem mais presentes (em 29,6% e 23,3% dos municípios, respectivamente), museus e teatros tinham maior distribuição pelo território nacional do que os cinemas. Esse último equipamento, presente em apenas 9% dos municípios do país, estava mais concentrado no Sudeste do que nas demais regiões. “O cinema mostrou a maior seletividade territorial”, destaca Athias.

Outro ponto observado pelo estudo foi o tempo médio de deslocamento em cada uma das Unidades da Federação para acessar os equipamentos culturais no município mais próximo. Para cinema, por exemplo, nos estados do Norte, as médias foram sempre acima de uma hora de distância. O Amazonas teve o valor extremo (23 horas e 26 minutos). No Nordeste, os maiores deslocamentos seriam enfrentados pela população do Maranhão (1 hora e 58 minutos) e do Piauí (1 hora e 49 minutos). Em contraste, no Rio de Janeiro, uma pessoa que vive em uma cidade sem cinema precisaria se deslocar, em média, apenas 16 minutos para acessar esse equipamento.

“Os dados de média de tempo de deslocamento mostram inclusive as desigualdades dentro dos estados. No oeste da Bahia ou no norte de Minas Gerais, por exemplo, era necessário um tempo maior para se acessar os três tipos de equipamento estudados. No Amazonas, eram cerca de 13 horas e 48 minutos para se chegar ao município com museu mais próximo, enquanto nos outros estados do Norte esse tempo era menor. Já no Distrito Federal, esse tempo de deslocamento seria zero”, explica o analista.

(Foto: Divulgação/Agência PA/SECOM)

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